Dessa conversa surgiram indagações como:
Então, decidimos estudar as estatísticas sobre alfabetização e sobre o número de pessoas que ainda não havia concluído a Educação Básica no Rio de Janeiro. Articulamos essas leituras, juntamente com outras sobre as dificuldades pelas quais a EJA vinha passando com aulas de Língua Portuguesa.
No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2019, a taxa de analfabetismo das pessoas com idades de 15 anos ou mais foi estimada em 6,6%, o que corresponde a 11 milhões de pessoas analfabetas. A existência de pessoas que não sabem ler ou escrever por falta de condições de acesso ao processo de escolarização deve ser motivo de autocrítica constante e severa (CNE/CEB 11/2000).
Segundo Nicodemos e Serra (2020), no artigo Educação de Jovens e Adultos em contexto pandêmico: entre o remoto e a invisibilidade nas políticas curriculares, ficou claro que os impactos socioeconômicos da pandemia afetaram diretamente a classe trabalhadora, que é o público da EJA. Os sujeitos da EJA não tiveram acesso efetivo ao ensino remoto emergencial. Eles passaram e passam por inúmeras dificuldades relacionadas à pandemia, à economia e a outras já existentes na sociedade, o que prejudicou sua escolarização
Ainda segundo a Pnad (2020), 23% das pessoas sem Educação Básica completa não procuraram trabalho ou por conta da pandemia ou por falta de vagas no lugar onde vivem. Nicodemos e Serra (2020) avaliam que os sujeitos da EJA se encontravam/encontram nessa situação de vulnerabilidade social, afetados pelo desemprego e/ou pela procura de bicos para tentar sobreviver. Isso aconteceu, inclusive, com os mais jovens, ainda que corressem o risco de ser contaminados pelo coronavírus.
Segundo Arroyo (2007), a EJA foi marcada por vários traços de um contexto educacional popular que busca uma política afirmativa para jovens e adultos, muitas vezes segregados e estigmatizados, sem horizontes. Grande parte desses sujeitos da EJA vive em condições de pobreza, subemprego e vulnerabilidade. O autor nos orienta em relação aos significados pedagógico-políticos das lutas por direitos humanos, incorporando a EJA nesse cenário.
Diante da necessidade de trabalhar em uma perspectiva crítica a partir da realidade social dos(as) nossos(as) estudantes do Peja II, planejamos atividades pedagógicas articulando os conhecimentos das disciplinas de Língua Portuguesa, História e Geografia, com participação das turmas.
Arroyo (2007) afirma que adolescentes, jovens, adultos e idosos mostram ter consciência das (e resistência às) segregações que vivem em relação aos direitos negados. Assim, nossa proposta visou possibilitar a troca de conhecimentos em relação à negação da escolarização, pensando em ações teóricas e práticas que dialogassem com a situação do Peja II.
Considerando as Orientações Curriculares EJA (2021) de História e Geografia, que preconizam a valorização e a defesa da justiça social e o fortalecimento da democracia, discutimos a EJA como direito e concluímos que diversos fatores contribuem para que o direito à escolarização das pessoas não seja garantido.
Debatemos como as dificuldades de acesso à educação da classe trabalhadora está relacionada à estrutura do sistema capitalista e, a partir desse ponto, discutimos como poderíamos contribuir para garantir que as pessoas tivessem acesso àquele espaço escolar.
Daí surgiu a ideia de panfletarmos o entorno da escola, para que a comunidade local soubesse que a E.M. Alagoas oferecia o Peja. Através dessa ação os(as) estudantes se colocaram como sujeitos críticos capazes de intervir na realidade social promovendo uma mudança local.
Durante as aulas de Língua Portuguesa, desenvolvemos práticas de leitura dirigidas aos dados da Pnad que suscitaram diversos debates sobre a situação das pessoas que não tiveram acesso à EJA. Lemos tanto esse gênero textual, reconhecendo sua diversidade linguística, como charges sobre a condição da classe trabalhadora e analisamos os textos. Os estudantes escreveram suas análises.
De acordo com as Orientações Curriculares EJA (2021), é importante que a EJA reconheça e compreenda as diversidades linguísticas e os conhecimentos semânticos, gramaticais e discursivos, construindo sentidos para a formação da consciência cidadã.
Foi com base nesses preceitos que construímos um pensamento no contexto social, reconhecendo-nos como seres humanos importantes e conscientes de que as relações linguísticas têm reflexo nas relações sociais, históricas, políticas e culturais. Assim, elaboramos a escrita coletiva de panfletos para ser distribuídos na ação de prática social.
Panfletos elaborados pelas turmas do Peja II e a mobilização
Os panfletos foram elaborados pelos(as) estudantes, que escreveram, escolheram as imagens, desenharam e organizaram o seu formato. A mobilização relaciona-se à panfletagem feita no entorno da escola (Largo de Pilares), com participação de estudantes do Peja I. Estudantes e professoras distribuíram os panfletos pelas ruas, nos sinais de trânsito, comércio local e para as pessoas que passavam pelas ruas, sempre dialogando.