Das rodas de conversa, surgiram algumas indagações:
A partir do artigo A atualidade do pensamento de Paulo Freire para refletirmos sobre políticas públicas e práticas na Educação de Jovens e Adultos, publicado em 2018 pelas pesquisadoras Ana Paula Abreu Moura e Jaqueline Pereira Ventura, percebemos a importância de abordar o pensamento freiriano e suas escritas nas turmas do Peja, pois, além de ser nítida a trajetória histórica do educador, a EJA vem sendo tratada pelo Estado como educação de segunda classe, que nunca assegurou o acesso e a permanência na escola nem ofereceu condições de acesso ao conhecimento científico e tecnológico.
Para pensarmos esse desafio historicamente construído, Freire nos aporta sobre o rompimento do caráter compensatório e assistencialista na educação de jovens e adultos trabalhadores e trabalhadoras na perspectiva contra-hegemônica. O maior desafio, segundo as autoras, é permanecer na luta pelo direito à EJA. Assim, se faz necessário identificarmos a existência opressora, refletir sobre ela e pensar ações práticas.
Durante as rodas de conversa, comentamos a biografia de Paulo Freire e pesquisamos seus livros publicados e suas contribuições para a Educação, principalmente para a Educação de Jovens e Adultos. Tentando romper com a educação bancária, os estudantes escolheram algumas frases de Freire, dentre as que foram encontradas durante a pesquisa. Trocamos ideias sobre essas frases, apontando as críticas, as palavras desconhecidas, o contexto das frases e o sentido para o coletivo.
Segundo as autoras Ventura e Moura (2018), romper com a concepção de educação bancária nos permite pensar a prática educativa dinâmica com movimento, dinamicidade, diferenças, conflitos e criatividade. Pensando nesse rompimento, propus que a turma escrevesse suas análises diante das frases e biografia de Freire. Fizemos uma leitura coletiva dessas análises, vivenciando o potencial dessas pessoas trabalhadoras que estudam, para que elas pudessem intervir na realidade através da escrita, leitura e oralidade. E isso possibilitou modificações, confirmações e ampliações do entendimento das frases a partir da leitura de mundo que essas pessoas fizeram.
De acordo com as Orientações Curriculares EJA (2021), é importante que a Educação de Jovens e Adultos reconheça e compreenda as diversidades linguísticas e os conhecimentos semânticos, gramaticais e discursivos, construindo sentidos para a formação da consciência cidadã. Nós construímos um pensamento no contexto social nos reconhecendo como seres humanos importantes e conscientes. As relações linguísticas refletem as relações sociais, históricas, políticas e culturais.
Assim, fizemos a análise textual e gramatical das frases e em seguida montamos um mural com os textos produzidos. Ainda, seguindo as autoras, percebemos a necessidade de problematizar o mundo a partir do pensamento freiriano que nos orienta: “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”.