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Boas Práticas
Educação de Jovens e Adultos
Percorrendo caminhos, resgatando memórias: uma estratégia de educação antirracista por meio da apropriação de territórios pretos em educação patrimonial
Informações
Sequência Didática
Resultados Observados
UNIDADE DE ENSINO
Creja - Centro Municipal de Referência de Educação de Jovens E Adultos - CREJA
Rua da Conceição 74/76-a - Centro
AUTOR(ES)
Fatima Filgueiras Rocha Correia; Mariana Pereira de Souza; Veronica Ramos Gomes

  • Fatima Filgueiras Rocha Correia é professora de Língua Inglesa na rede municipal da Prefeitura do Rio desde 1999, está há dez anos na EJA e há dois no Creja. Tem formação em Letras (Inglês) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pós-graduação em Educação em Turismo e Especialização pelo PDPI – Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Língua Inglesa pela Universidade de Ohio (EUA).

  • Mariana Pereira de Souza é professora de Língua Portuguesa na rede municipal da Prefeitura do Rio e atua há 10 anos na EJA do Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos (Creja). Tem formação em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mestrado em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atualmente cursa especialização em Ensino de Histórias e Culturas Africanas e Afro-brasileiras no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ).

  • Veronica Ramos Gomes tem licenciatura plena em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com pós-graduação em Planejamento e Educação Ambiental pela Universidade Cândido Mendes (Ucam) e Planejamento, Gestão na Educação a Distância pelo Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino da Universidade Federal Fluminense (Lante/UFF). É professora I no Município, atuando no Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos (Creja) como professora e conteudista da disciplina Estudos da Sociedade (Geografia/História).

CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR
Professora I regente de Língua Inglesa; Professora I regente de Língua Portuguesa; Professora I regente de História/Geografia
EJA/Bloco
EJA II Bloco 2
COMPONENTE CURRICULAR
HISTÓRIA/GEOGRAFIA / Compreender a ocupação e a formação do território brasileiro no processo de colonização portuguesa.
HISTÓRIA/GEOGRAFIA / Conhecer a geografia e a história da cidade do Rio de Janeiro e seu entorno, sobre o processo de evolução e ocupação urbana, a fim de fortalecer a identidade dos alunos como cidadãos.
HISTÓRIA/GEOGRAFIA / Construir conceitos fundamentais para o entendimento dos processos históricos e geográficos, ampliando as leituras de mundo, contribuindo para a formação de cidadãos.
LÍNGUA PORTUGUESA / Conhecer as heranças linguística e culturais na formação da língua portuguesa.
LÍNGUA PORTUGUESA / Construir a escrita de diversos gêneros discursivos adequados ao (à) leitor(a) e aos objetivos da comunicação, ampliando os contextos de produção.
LÍNGUA PORTUGUESA / Estimular a escrita de textos autorais.
LÍNGUAGENS ARTÍSTICAS / Reconhecer a importância da cultura indígena, europeia e africana na formação do cidadão brasileiro.
PERÍODO DE REALIZAÇÃO
Julho/2022 até Julho/2022
Sensibilização/Contextualização para o tema

Para nós, o conhecimento dos lugares de memória ancestral africana está relacionado ao que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana (2004) chamam de políticas de reparações, de reconhecimento e valorização das ações afirmativas, uma vez que o direito à memória também é reparação histórica.

As Diretrizes apontam para a necessidade de políticas específicas para a educação dos negros, e, sem dúvida, a valorização do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro é parte fundamental desse processo.

Nossa experiência pedagógica se insere naquilo que as Diretrizes reconhecem ser uma pedagogia de combate ao racismo, uma vez que o direito à memória também é um caminho de construção de uma sociedade mais justa.

Problematização

Aqui queremos trazer um olhar mais atento sobre o recorte de cor/raça relacionado ao perfil do aluno da EJA. As turmas de EJA são formadas majoritariamente por estudantes pretas(os) e pardas(os) por causa das desigualdades acumuladas na experiência social de escolarização da população negra.

Detentores de capital cultural desvalorizado socialmente, na maioria das vezes, esses estudantes são vítimas de uma vida escolar marcada pela descontinuidade em seus processos de escolarização. Isso impõe uma reflexão constante a nós, educadores, quanto ao papel que a escola ocupa no debate sobre as desigualdades raciais.

Se considerarmos também que essas desigualdades se traduzem pela falta de representatividade desses grupos nos currículos e programas, entenderemos como é importante promover, tal como preconizado pelas diretrizes que regulamentaram a Lei Nº 10639/03, o conhecimento dos temas relacionados à história e à cultura africana e afro-brasileira.

Texto base

Trazemos como relato aqui a experiência de uma aula externa transdisciplinar que dá ênfase à participação dos atores históricos negros. Que busca desenvolver o universo cultural e social do estudante, permitindo que ela(e) reflita e observe criticamente os aspectos funcionais do território em que vive e estuda, além de celebrar a memória dos territórios da diáspora negra presentes na cidade do Rio de Janeiro.

Além disso, a(o) estudante poderá colher um material significativo no conteúdo das aulas (linguagem oral, linguagem escrita, ciências, história e geografia); conhecer os processos de transformação que os territórios sofrem pela ação da interferência humana e entender-se como protagonista nesses processos de mudança. Apropriar-se das memórias dos territórios é reconhecer-se nele.

Desenvolvimento

Neste trabalho, vamos abordar a aula transdisciplinar de Educação Patrimonial, que é uma aula de campo. Ela começa por uma visita à Pequena África, nome atribuído pelo compositor e pintor Heitor dos Prazeres (1898-1966) a uma região da Zona Portuária da cidade que inclui os bairros da Gamboa e Saúde, onde vive a comunidade remanescentes dos quilombos da Pedra do Sal, o bairro de Santo Cristo e outros locais habitados por escravizados alforriados que foram conhecidos por Pequena África de 1850 a 1920.

A visita inclui o Cais do Valongo, lugar onde desembarcaram milhares de africanos escravizados no século XVIII e no início do século XIX. É um local de memória que remete a um dos mais graves crimes cometidos contra a humanidade no mundo: o sistema escravista atlântico no Brasil.

No percurso de nossa aula, visitamos também o Instituto Pretos Novos (IPN), criado para pesquisar, estudar, investigar e preservar o patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, com ênfase no sítio histórico e arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos.

Para reafirmar a herança e a resistência cultural afro-brasileira, finalizamos nosso percurso pedagógico na emblemática Pedra do Sal. Este território evoca a presença de importantes personalidades afro-baiano-cariocas do período pós-abolição e primeiras décadas do século XX como Tia Ciata, Pixinguinha, Donga, João da Baiana e a participação fundamental deles na criação do samba, nas religiões de matriz africana, na capoeira, no trabalho na estiva, dentre outras atividades. Hoje, a Pedra do Sal mantém a tradição de reduto das expressões culturais negras e rodas de samba.

Produto Final

Após a aula externa, a(o) estudante é convidada(o) a elaborar uma reflexão escrita sobre o que foi visto e a registrar suas impressões.

Temos muitas narrativas impactantes de nossas(os) estudantes que nos levam a pensar o quanto a apropriação e a participação na vida desses patrimônios podem contribuir para elaborar um pensamento crítico e engajado.

É preciso conhecer a história para se ter ferramentas para questionar o tanto que ela interfere e modifica o conhecimento de mundo do nosso alunado. Em outras palavras, é através da visão de mundo ampliada que uma pessoa pode ir além, ressignificar os acontecimentos e refletir sobre a forma pela qual eles impactam a vida dos homens/mulheres, usurpam seus direitos e as(os) mantêm na condição de subserviência.

Obs.: Por falta de espaço, algumas dos depoimentos dos estudantes sobre nossa aula externa estão em arquivo anexo.

Transcrevemos algumas narrativas de estudantes sobre a aula externa:

  • ”A aula de hoje nos mostrou que existem histórias importantes que não são mostradas, valorizadas e que são escondidas na maioria das vezes. O que se conhece no memorial Pretos Novos é algo triste de ver, mas nos mostra um pouco da história, como [os negros] eram tratados, algo muito importante e impactante.”
  • ”Percebi que, apesar da importância da cultura africana na construção da sociedade brasileira, não há mudança no modo de pensar de muitos brasileiros, visto que a repercussão nas escolas e espaços sociais não procura enfatizar o legado deixado por esse povo. Triste isso!”
  • ”O que mais me impactou foi conhecer a história do Museu Pretos Novos. Saber da barbaridade ocorrida no período mais intenso do tráfico de cativos africanos trazidos à força para o trabalho escravo”.
  • ”Hoje descobri que temos uma dívida muito grande com os escravos africanos, que nos deixaram muita cultura como legado. Também pude ver como nossos governantes tentam apagar nosso passado”.

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