Sou professora de Geografia com mestrado em Planejamento e Gestão Territorial pelo Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Leciono para o Ensino Médio desde 2001 na rede pública do Estado do Rio de Janeiro e desde 2007 para o Ensino Fundamental da rede pública da Prefeitura do Rio. Também atuei em universidade privada no curso de licenciatura em Geografia e no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – Campus Petrópolis (Cefet/Petrópolis) no curso de Turismo.
Tenho como pressuposto de atuação a educação de qualidade e gosto de interações multi e transdisciplinares que conjuguem com a geografia do lugar histórias vivas da ancestralidade, contextos de cidades inteligentes e assuntos que possam trazer mais qualidade de vida à população do Rio de Janeiro e do mundo.
Fruto de uma parceria entre a SME-Rio e o Museu de Geodiversidade (Igeo/UFRJ), o projeto pedagógico Que Pedra é Essa? – Trilhando a Geodiversidade foi desenvolvido nas aulas de uma disciplina eletiva da Escola Municipal (de turno único) Nelson Prudêncio e pode ser visto como futura contribuição à criação de um georroteiro (roteiro com ênfase nas geociências e no patrimônio geológico) nos bairros da Ilha do Governador, com a participação da comunidade e de professores e alunos do Ensino Básico.
Visando obter um enfoque mais prático da geodiversidade (área do conhecimento ligada às geociências e de difícil compreensão nas abordagens escolares), o projeto destaca no seu desenvolvimento a geopoética e a geomitologia como formas de olhar a paisagem da região, buscar nela inspiração poética e levantar suas histórias e lendas (dentre elas, inicialmente, a da Pedra da Onça) para sensibilizar os alunos no contato com o seu espaço vivido, e valorizá-lo quanto ao possível aspecto científico e educacional.
Inspirados no poema No meio do caminho, do poeta e escritor Carlos Drummond de Andrade, instigamos a curiosidade do público utilizando a seguinte pergunta: Que “pedra” compõe a paisagem dos bairros da Ilha? Como resposta, obtivemos a análise do entorno do espaço vivido do aluno, o que nos levou à paisagem (conceito chave em geografia no sentido de aguçar a percepção que o indivíduo tem do seu entorno) e às histórias/mitologias que eles resgataram de seu conhecimento de mundo.
A partir de um ponto conhecido como Pedra da Onça, no bairro da Freguesia, na Ilha, promovemos leituras e apresentações das versões da mitologia indígena referentes àquela “onça” – na verdade, um gato maracajá – e organizamos uma coletânea de poesias e histórias sobre a Ilha do Governador relacionadas às áreas de geomitologia e de geopoética. Como o protagonismo dos alunos é um ponto bastante trabalhado na escola vocacionada, nosso projeto buscou reunir histórias do entorno do alunado e mostrar sua importância para a qualidade de vida insulana.
Com as aulas teóricas que tiveram sobre noções básicas de geologia e geodiversidade, os alunos da eletiva puderam posteriormente manusear minerais diversos e rochas – entre eles, os que compõem as areias das praias da Ilha (cedidos pela UFRJ aos cuidados de nossa escola) – e apresentá-los a toda a escola, levando o corpo discente da unidade a relacionar a composição das areias das praias aos minerais e amostras de rochas ali expostos. O questionamento “Que ‘pedrinha’ é essa?”, buscando saber a origem, características e usos das amostras, suscitou uma relevante experiência tátil e criativa em geodiversidade entre os alunos do EF II.
O percurso pedagógico traçado para a execução da eletiva teve como norte inserir os alunos no seu espaço vivido da forma mais ativa, crítica e criativa possível, ampliar seus conhecimentos básicos de geologia com materiais e processos de análise do ambiente mais próximos deles e disseminar gradativamente a ideia de geodiversidade e a necessidade de preservação do patrimônio natural e histórico da Ilha e do país