A partir da história de Maria Felipa Oliveira, liderança negra que viveu no século XIX, na ilha de Itaparica (BA), buscamos colocar em evidência ações revolucionárias promovidas por mulheres em prol da independência do Brasil, ações essas relegadas ao esquecimento com o apagamento da história.
Nossa prática também teve como finalidade promover vivências com possibilidades de construções antirracistas e mostrar outros gritos presentes num contexto de independência que até hoje se entende a partir de relatos eurocêntricos.
A prática foi realizada com crianças entre cinco e seis anos de idade, alunos da Pré-Escola II. A partir de documentos e bibliografia sugeridos pela Gerência de Relações Étnico-Raciais (Gerer) da SME-Rio para a elaboração de trabalhos para o Festival do Bicentenário da Independência, iniciamos a prática com uma conversa em roda, utilizando história narrada através de desenhos para contextualizar os movimentos e lutas pela independência do Brasil.
Nesse contexto, trouxemos a história de Maria Felipa de Oliveira, liderança negra que, com outras mulheres, articulou ataques a embarcações portuguesas pela independência do Brasil.
Após assistirmos aos vídeos indicados pela Gerer para a elaboração do painel, a turma produziu registros em forma de desenho, observando fotos de lideranças negras e indígenas da nossa atualidade.
Para a composição dos desenhos, utilizamos giz e lápis de cor em diferentes tons de pele. Também observamos e conversamos sobre as diferenças existentes entre cada um de nós e todas as mulheres das fotos utilizadas, ação que se articula ao projeto político-pedagógico da unidade Semeando Valores, Tecendo Futuros que, dentre outros princípios, nos fala da compreensão das diferenças e distintos modos de organização de vida, formadores da sociedade brasileira.
Nosso painel representou o grito e a determinação de mulheres, sobretudo negras e indígenas, que lutaram pela independência do Brasil e delas mesmas, mas que tiveram suas histórias apagadas ao longo do tempo.
A prática promoveu vivências que permitiram às crianças fazer observações, levantar hipóteses e manipular fotos coloridas de mulheres reais. O grupo já usava lápis com cores de diversos tons de pele, mas nesta prática pôde analisar e relacionar o material tanto aos tons de pele encontrados nas fotos que disponibilizamos como entre as próprias crianças.
Não apenas no que diz respeito ao tom da pele, mas também aos diversos traços fisionômicos e cabelos, foi possível observar a expressão de um sentimento de representatividade por muitas crianças do grupo. Além de reconstituir a luta de mulheres negras e indígenas pela independência do Brasil – que sofreu com apagamento em nossa história –, a prática contribuiu para promover vivências que reafirmam nossa escolha diária por uma educação antirracista.