Sou professor na rede de ensino da Prefeitura do Rio e especialista em Ensino de Ciências e Biologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Ensino de Biociências e Saúde pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Faço consultoria e assessoria pedagógica e desenvolvo projetos educacionais com foco no aspecto lúdico, visando, com isso, enriquecer o processo de ensino-aprendizagem.
Desenvolvo programas de ações educativas em museus, o que inclui mediação, interatividade e visitas direcionadas preferencialmente ao público escolar. Recebi do Sebrae em 2023 um distintivo digital de Educador Transformador pela seleção de um projeto empreendedor de minha autoria. Sou autor de um capítulo no livro Professores inovadores IV, no qual relato uma prática pedagógica exitosa no ambiente escolar.
Como o ensino do sistema nervoso humano é complexo para o nível de abstração de um aluno de sexto ano, cuja idade varia entre 11 e 12 anos, tive a ideia de inserir elementos de ludicidade em minhas aulas para aproximar o conteúdo da efetiva aprendizagem.
A partir de pesquisas que desenvolvi sobre referenciais teóricos como Gardner e Vigotsky, aliadas a estudos que realizei em formação continuada, comecei a elaborar e executar estratégias pedagógicas focadas no aspecto lúdico para que conseguisse desenvolver a criatividade dos alunos durante a atividade.
O lúdico é importante no processo cognitivo de receber e interpretar as informações recebidas por um estímulo visual, pois olho e cérebro compreendem, analisam, organizam e inserem o estímulo recebido em categorias mentais a partir de sua figura, fundo, tamanho, cor, contraste, contorno, simetria e localização e na ação protagonista do alunado. Hoje, tanto no campo profissional quanto no pessoal, pessoas criativas são muito valorizadas quando usam a interdisciplinaridade para melhorar o desempenho e facilitar a aquisição dos conteúdos do currículo.
O mapeamento do cérebro de forma lúdica favorece a troca de informações, a socialização e os vínculos na turma. Na atividade, os alunos são reunidos em grupos para montar a representação de um cérebro humano. A montagem estimula a generosidade e o espírito de equipe na medida em que os grupos compartilham o mesmo material e cada grupo precisa gerenciar determinada quantidade de linhas de lã para que todos consigam montar a representação de seu cérebro a contento.
Mais do que uma prática exitosa, o mapeamento do cérebro de forma lúdica foi uma atividade da qual os alunos gostaram muito de participar. Conseguiram compreender que nosso cérebro possui regiões distintas e que cada região ou pedaço do cérebro (como eles a definem) é responsável por inúmeras ações e sentimentos nos seres humanos.
A transformação do abstrato em palpável, de forma divertida, não só foi possível como também bastante proveitosa. Os alunos só conheciam um cérebro humano por imagens de sua superfície, o que tornava difícil compreender como seria a sua organização interna.
Foi um encantamento ouvir desses alunos que o cérebro realmente possui divisões que “ninguém consegue ver” (mais um fator positivo do uso da metodologia lúdica!). Uns chegaram a perguntar se as regiões corticais “tinham essas cores (das linhas de lã) de verdade”. Outros concluíram que a região frontal devia ser bem “ativa” nos professores que montam aulas maneiras – já que essa é a região da criatividade e imaginação. Essas associações enriquecem o processo de aprendizagem e fazem o professor caminhar junto ao seu aluno ofertando ferramentas para sistematizar de forma legítima o conteúdo .
É interessante também observar nessa prática que o modo como cada criança usa as linhas de lã e monta o a representação do cérebro humano revela pistas que permitem ao professor conhecer seus alunos do modo mais afetivo e sensível possível. A disposição das linhas de lã e a montagem delas na imagem do cérebro revelam talentos artísticos, estética, equilíbrio, meticulosidade, simetria e organização espacial.