A experiência foi realizada na EM Canadá, no Morro São Carlos, Estácio. Esta vem num processo de perdas e lutos, provocado pela situação de grande vulnerabilidade em que a comunidade se encontra, agravado pela pandemia. O território é dominado por agentes armados e a violência se apresenta de uma forma naturalizada.
Na rede pública, a sobrecarga dos docentes somou-se à preocupação e ao sentimento de impotência em relação às dificuldades de acesso dos estudantes às aulas online.
Os efeitos da Pandemia na saúde mental dos professores e alunos envolvem tanto fatores da vida pessoal quanto externos (relacionados à situação socioeconômica e sanitária do país).
Atendemos a demanda da direção e do corpo docente para realização de rodas de conversa com os professores. Para estes encontros foram planejadas temáticas relacionadas à realidade vivenciada por eles, acirrada pela pandemia e pela violência na comunidade:
1.Acolhimento e levantamento de demandas, 2.A importância do CUIDADO para CUIDAR; 3.Memórias das INFÂNCIAS; 4.INFÂNCIAS no SÃO CARLOS e seu BRINCAR; 5.“Territórios do Brincar- Diálogos com as Escolas”.
No 1o encontro, realizado, logo após a morte de uma aluna em acidente amplamente noticiado nas mídias, foi ofertado acolhimento coletivo à equipe pedagógica e direção, onde puderam trazer os desafios enfrentados desde a pandemia com as crianças, que têm se apresentado agitadas, agressivas e com dificuldades na convivência. Relatam como a perda de alunos desde o ano passado tem mobilizado a equipe e puderam refletir sobre como os alunos e a própria equipe têm elaborado esses lutos. No 2o, partimos da dinâmica de escreverem a 1ª palavra que associassem à palavra CUIDADO. A atividade possibilitou a reflexão não só sobre o cuidado aos alunos quanto ao cuidado de si próprio e das relações no trabalho. Alguns dos pontos destacados foram a sobrecarga a que várias professoras estão submetidas no cuidado aos filhos e aos alunos e a relação entre cuidar e ensinar. Refletiram também sobre como o cuidado às crianças é vivido no território. No 3o, trouxemos imagens que remetem à infância e convidamos o grupo a escolher a que representasse a sua infância. A atividade possibilitou o resgate de memórias afetivas e a identificação de diferenças e similaridades entre suas infâncias e dos seus alunos. Algumas professoras conseguiram relacionar suas memórias de infância à suas escolhas profissionais. No 4o, trouxemos um vídeo produzido com alunos da escola, com o objetivo de mobilizar a discussão sobre “As Infâncias no São Carlos” e o papel da escola na construção subjetiva e social dessas crianças. No 5o encontro, a partir do vídeo “Território do Brincar - Diálogos com as Escolas” refletiram sobre como potencializar no cotidiano da escola esse espaço do brincar e usufruir todo o seu potencial pedagógico, além de como construir esse “brincar” a partir das infâncias que se apresentam nesse contexto urbano e atravessado pelas violências e vulnerabilidades sociais.
Atingimos os objetivos, pois em cada encontro houve discussões saudáveis acerca das temáticas, as professoras mostraram a importância de colocar suas ideias, trocar opiniões e criar estratégias que precisam ser coletivas para lidar com demandas complexas, como a violência, a vulnerabilidade das famílias e o adoecimento dos professores.
Foi muito falado sobre a importância do cuidado com sua saúde mental, do brincar no espaço escolar e até mesmo sobre promover um ambiente mais saudável na escola. Tivemos notícias de algumas iniciativas onde puderam criar momentos mais lúdicos durante o recreio e na própria sala de aula.
Os encontros foram importantes também como mais um espaço para que o grupo pudesse exercitar a discussão entre pontos de vista divergentes e a troca de experiências, fortalecendo assim os vínculos e o trabalho em equipe.
Tanto nossa equipe quanto a equipe gestora da escola consideram necessário para o fazer pedagógico, investir na garantia de espaços como estes.
Andrade, Elizabete Rodrigues Silva de.
Adoecimento no Trabalho Docente em Tempos de Pandemia: impactos naa saúde dos professores dos anos iniciais de uma escola da rede pública do DF. Brasilia: Universidade de Brasília, 2020. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/27195/1/2020_ElizabeteRodriguesSilvaDeAndrade_tcc.pdf Acesso em 03/11/22.
Brasil, Nações Unidas. OMS: O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante. 14/05/20. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/85787-oms-o-impacto-da-pandemia-na-saude-mental-das-pessoas-ja-e-extremamente-preocupante Acesso em 03/11/22.
.
Folha de São Paulo. Podcast aborda cuidados com a saúde mental do professor em tempos de pandemia. 02/06/20. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2020/06/podcast-aborda-cuidados-com-a-saude-mental-do-professor-em-tempos-de-pandemia.shtml
Fórum Pensamento Estratégico (PENSES). Fórum Ser Criança e Adolescer em uma Sociedade Desigual. Youtube, 03/11/22. Disponível em: https://youtu.be/ApWnk0u61Ds Acesso em 03/11/22.
ONU. Covid-19: OMS divulga guia com cuidados para saúde mental durante a pandemia. ONU News. 18/03/20. Disponível em; https://news.un.org/pt/story/2020/03/1707792 Acesso em 03/11/22
Prado, Cláudio. O impacto da pandemia nos profissionais de educação. 06/08/21. Disponível em: https://www.fundacao1demaio.org.br/artigo/o-impacto-da-pandemia-nos-profissionais-de-educacao/ Acesso em 03/11/22.