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Para a incredulidade de muitos cariocas, a construção de Brasília tornou irreversível a transferência da capital da República para o Planaldo Central (Crédito: Agência Brasil/Creative Commons)

Em 1° de outubro de 1957, o Congresso Nacional aprovou a Lei n° 3.273, agendando para 21 de abril de 1960 a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília. O debate sobre o que aconteceria com o antigo Distrito Federal ganhou força em 1958. Apesar da incredulidade de muitos, a transferência era fato consumado e, cada vez mais, tomava contornos irreversíveis – ora pelo rápido andamento das obras, ora pela ação do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976), que contornava e negociava com grupos de oposição a aprovação de seu projeto.

Diante desse caminho sem volta, outra questão estampava as manchetes dos periódicos nas bancas de jornal da cidade. Artigos publicados no Correio da Manhã, entre julho e agosto de 1958, continham um extenso material, citado pela historiadora Marly Motta, sob o sugestivo título: “Que será do Rio?”. Nessa série de reportagens, os destinos do Rio, locus privilegiado da formação da nacionalidade brasileira a caminho de perder o status de capital federal, eram debatidos por figuras renomadas. Os textos registravam o olhar e o entendimento de profissionais com formações diversas – ex-prefeitos, empresários, técnicos em planejamento urbano, geógrafos, sociólogos e historiadores –, ligados à história do Rio.

A mobilização, buscando respostas, se espalhava para além das publicações e dos debates parlamentares, alcançando os meios de comunicação de massa. No rádio, que atraía um número incontável de ouvintes, a polêmica sobre o assunto se alastrava, ecoando pelas ondas sonoras em múltiplas vozes.

Naquela época, a televisão, nos seus primórdios, com a programação apresentada em tempo real (sem replay), desempenhou papel importante. A chamada caixa mágica foi apresentada ao público brasileiro no dia 4 de junho de 1939, graças à Primeira Exposição de Televisão – evento realizado durante a Feira Internacional de Amostras do Rio de Janeiro, inaugurada pelo presidente Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954). Receptores produzidos pela empresa alemã Telefunken transmitiriam, de um pequeno estúdio montado no local, imagens de cantores famosos do rádio, como Francisco Alves (1898-1952) e Dalva de Oliveira (1917-1972).

Porém, se a TV era uma novidade para os brasileiros, não era para as populações da Alemanha, da Inglaterra, da França, da União Soviética e dos Estados Unidos. Tal qual o rádio nas décadas anteriores, a força desse novo veículo era especialmente significativa na cidade do Rio de Janeiro, em razão da existência dos aparelhos nas residências cariocas. E isso foi percebido como um algo a mais por alguns políticos. O olhar eletrônico da câmera fez “da televisão da capital federal o palco iluminado onde procuravam demonstrar os seus próprios acertos e os erros do outro”, segundo palavras da historiadora Marly da Silva Motta.

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O debate sobre a mudança da capital federal foi um dos principais assuntos dos jornais cariocas, durante a década de 1950, especialmente após a eleição do presidente Juscelino Kubitschek. Detalhe de página da Tribuna da Imprensa de 1°/11/1956 (Crédito: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)

Contudo, por meio da imprensa escrita, os debates apareceram em cores nítidas. Mais do que em qualquer outra região do Brasil, a população carioca era predominantemente urbana e com um alto grau de alfabetização. Esse aspecto intensificava a difusão do debate político em artigos e editoriais na imprensa, que apresentavam, em letra de forma, conteúdos divergentes.

Manchetes veementes, estampadas em jornais como Última Hora e Tribuna da Imprensa, cobriam as bancas localizadas nas esquinas e nas praças da cidade, aquecendo e fervilhando os debates. A Tribuna, em novembro de 1956, comentou, assim, sobre a mudança da capital: “Por força de secular trabalho de unificação, todos os caminhos vão para o Rio. E agora?”.