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Revolução educacional na Finlândia
20 Maio 2015 | Por Sandra Machado
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cri finn2Anos atrás, a Finlândia deu um salto de qualidade no ensino de massa, quando resolveu incrementar os recursos humanos – leia-se investir na qualificação e na remuneração dos professores. Em nome da excelência, o país deve passar por uma nova reforma a partir de 2016. A principal mudança almejada é despertar nas crianças uma postura mais participativa, lançando mão de áreas transdisciplinares relacionadas com assuntos costumeiramente tratados apenas do lado de fora dos muros escolares. Hanna Laakso, Conselheira Senior de Assuntos Internacionais do Conselho Nacional de Educação da Finlândia, concedeu uma entrevista exclusiva sobre o assunto ao Portal MultiRio, que organizamos, por tópicos, nos blocos a seguir.

Sete áreas transdisciplinares

“O projeto propõe envolver as crianças em atividades práticas, realizadas pelo menos uma vez ao ano, em um dos temas.”

tabela

Gestão municipal

“Para garantir que todos os cidadãos tenham oportunidades iguais no que tange à educação de qualidade, o Ministério da Educação e Cultura concede total poder de gestão aos municípios, que ficam responsáveis por adaptar sua metodologia e grade curricular aos parâmetros federais. Basicamente, eles regulam, apenas, quais disciplinas devem ser contempladas e o número mínimo de aulas para cada uma das principais, como o idioma finlandês, por exemplo.”

Educação gratuita universal

“Da pré-escola à universidade, ninguém paga para estudar: apenas 2% dos estabelecimentos de ensino são particulares, mas subvencionados por dinheiro público. O compromisso com a educação é consenso entre todos os partidos políticos. Não existem testes de aferição, quer das escolas, quer dos alunos, e, em lugar de controle, a Finlândia aposta em confiança.”

Carreira atraente

“Graças a isso, a profissão de professor é muito popular na Finlândia. Atualmente, por causa da concorrência, apenas 20% dos candidatos conseguem uma vaga no curso universitário. Para trabalhar em creches e na classe de alfabetização (idade de seis anos), eles necessitam ter licenciatura. A partir do Ensino Fundamental, todos os professores devem ter mestrado. O curso de Pedagogia oferece uma boa base em gerenciamento, liderança e desenvolvimento institucional, bem como estimula a pesquisa. Da mesma forma, quem já trabalha precisa passar por algum curso de reciclagem anual, com duração mínima de três dias.”

Aposta na formação do professor

“A estratégia finlandesa para melhorar o ensino, iniciada com uma reforma geral em 2004, se concentra na figura do professor. Começa por atrair para a profissão justamente os melhores alunos do Ensino Médio. Continua por buscar reter nos seus quadros os melhores profissionais, por meio da oferta de oportunidades, de uma melhor infraestrutura e do reconhecimento. E passa, ainda, por conseguir levar professores àquelas escolas que mais necessitam, como as situadas em regiões distantes dos grandes centros urbanos. Nesta equação, a remuneração entra como mais um atrativo.”

Compensação financeira

“O salário mínimo bruto de um professor de período integral fica entre 2.200 e 3.000 euros (R$ 7.480 e R$ 10.200 reais) mensais. Somadas as gratificações, a média dos salários pagos vai de 2.500 a 4.200 euros (R$ 8.500 a R$ 14.280) por mês. Funções complementares – como ficar responsável pelo laboratório de idiomas, por exemplo –, o número de anos no serviço público e a experiência acumulada em sala de aula também geram o pagamento de um adicional. A categoria se aposenta entre os 60 e os 65 anos, com proventos que podem chegar a 66% da renda que o professor tinha quando estava em atividade.

sala de_aulaA maior parte trabalha em período integral. O número de aulas semanais, cada uma com duração de 45 minutos, varia entre 16 e 24, dependendo do tipo de instituição e da disciplina. Quem tem uma carga menor é considerado como professor de meio período. O ano letivo, que chega, no máximo, a 190 dias, começa em agosto. Os professores não são obrigados a estar na escola nos dias em que não há aulas ou quaisquer outros compromissos. Eles nunca são requisitados durante o período de férias.

A atuação do professor finlandês, contudo, se estende bem além do ambiente escolar: ele participa de ações comunitárias que estejam diretamente ligadas ao bem-estar dos alunos, como a clínica de aconselhamento à família. Caso atue no Ensino Fundamental, ele dedica 2 horas a estas tarefas a cada 15 dias, número que aumenta para 3 horas no segmento do Ensino Médio.”

Excelência no ensino

“A Finlândia fica entre as melhores colocações do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o ranking elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e revisado a cada três anos. Entre os participantes, o país mantém o primeiro lugar no quesito de paridade entre as escolas, a despeito da autonomia em gestão. Culturalmente, a Finlândia enxerga a educação da população como um investimento econômico, indispensável para garantir a prosperidade geral, uma vez que aumenta a competitividade no mercado externo.”

rampasRelação humanizada

“Para os especialistas finlandeses, o salto de qualidade que se deu no ensino partiu de uma observação muito simples: a de que o cerne da educação básica está no ambiente de aprendizado, e não nas ferramentas de verificação nem no uso da tecnologia em si. Desta forma, a tarefa principal da escola é fazer crescer, entre os alunos, o desejo de aprender, motivá-los a trabalhar com um propósito e a desenvolver habilidades de aquisição, aplicação e avaliação de informações. Além disso, não existe lugar para uma postura passiva do aluno, já que o professor atua principalmente como um planejador.”

Personalização

“O professor de turma pode requisitar outro professor especialmente para auxiliar no atendimento a um único aluno que esteja com dificuldades de aprendizagem, mesmo que por um período prolongado. Alunos com qualquer tipo de deficiência também têm direito a um professor assistente. Diferenças interpessoais não constituem problema. Em sala de aula, características de cada personalidade são tão valorizadas quanto a capacidade de interação social. Para uma criança finlandesa, gostar da escola não tem nada de difícil. Não há nenhuma preocupação oficial em relação à quantidade de dever de casa a ser solicitado. Em conjunto com a equipe, os professores escolhem os livros e outros materiais de acordo com a turma, assim como o grau de utilização dos computadores.”

Um pouco da história do país

A Suécia anexou a Finlândia durante o período das Cruzadas, no século XII. Em sua versão escrita, a língua finlandesa só viria a ser compilada, no entanto, por Mikael Agricola, muito mais tarde, quando ele traduziu o Novo Testamento para o idioma e escreveu o primeiro livro, em 1543: uma cartilha para ensinar às crianças a ler e a escrever. No entanto, a primeira escola com aulas dadas em finlandês só foi fundada em 1858. Como resultado das guerras napoleônicas, a Suécia perdeu a Finlândia para a Rússia em 1809, quando o país permaneceu como um grão-ducado por um século. Como consequência da Revolução de 1917, a Finlândia conquistou sua independência em 6 de dezembro do mesmo ano.

Com uma população atual em torno de 5,5 milhões de habitantes, a Finlândia escolheu o sistema parlamentarista e tem apenas uma câmara, com 200 representantes eleitos em voto direto. O país integra a União Europeia desde 1995. A preocupação com a qualidade de vida faz parte da identidade do país. A partir de 2013, uma política pública foi implementada para diminuir o risco de exclusão social provocada pela falta de trabalho. Qualquer pessoa de até 25 anos, e também os recém-graduados com menos de 30, recebem automaticamente uma oferta de emprego, de uma vaga como trainee, de curso ou de reciclagem profissional durante os três primeiros meses em que estiver desempregado.

Fonte: Site da Comissão Europeia

 
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