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A história do pagode, um dos filhos do samba
20 Fevereiro 2020 | Por Júlia Kronemberger *
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Contracapa do álbum Pé no chão (Foto: Divulgação/ RCA)

Nascido no fundo dos quintais das casas do Centro e do subúrbio carioca, o pagode é um gênero musical que surge como uma reação popular contra a maciça ocupação dos meios de comunicação por ritmos alheios à cultura nacional. Além disso, é mais uma manifestação cultural vinda da necessidade de compartilhar e construir a identidade da população negra brasileira.

No início, pagode era o nome dado às festas que aconteciam nas senzalas e, por isso, durante alguns anos, o termo acabou sendo usado como sinônimo de festa regada a comida, alegria, batuque e cantoria.

No final da década de 1970, foi emergindo um novo tipo de manifestação espontânea, resultado do encontro de sambistas em diversos pontos do Rio, como na quadra do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, em Olaria, e no Clube Sambola, na Abolição. Com um andamento mais rápido e enérgico, o samba se reinventou, dando origem ao pagode, que abriu espaço para a incorporação de novos instrumentos musicais, como o tantã, o repique de anel e o banjo com braço de cavaquinho, criados por Sereno e Almir Guineto, ambos integrantes de um dos primeiros grupos de pagode, o Fundo de Quintal.

Bira Presidente, Beth Carvalho e Ubirany no Cacique de Ramos, em 1983. (Foto: Roberto Filho | Wikimedia Commons)

Incorporação do pagode à indústria musical

Em 1978, a convite de Alcir Portela, presidente do Vasco da Gama na época, Beth Carvalho fez uma visita à quadra do bloco Cacique de Ramos para conhecer um grupo de pagodeiros que fazia um samba diferente às quartas-feiras, no Pagode da Tamarineira. A cantora logo simpatizou com o grupo e com a sonoridade que a introdução dos novos instrumentos davam à música, que se misturava com outros ritmos africanos não tão conhecidos. A compositora e instrumentista logo se tornou madrinha do bloco e do grupo, o Fundo de Quintal e, por isso, ficou conhecida como a Madrinha do Pagode.

Inicialmente formado por Almir Guineto – ex-diretor de bateria da Escola de Samba Unidos do Salgueiro –, Jorge Aragão, Neoci, Sereno, Sombrinha, Bira Presidente e Ubirany, o grupo, que tocava músicas de grandes sambistas e composições próprias, foi convidado por Beth Carvalho para participar de seu disco Pé no chão. Produzido por Rildo Hora, foram vendidas 500 mil cópias do álbum, marcando a inserção do pagode carioca na indústria fonográfica. Em 1980, foi lançado Samba é no fundo do quintal, o primeiro disco do Fundo de Quintal, que foi bem aclamado pela crítica.

Em 1981, deixaram o grupo Almir Guineto e Jorge Aragão, que seguiram carreira solo, além de Neoci, que logo veio a falecer. Com a saída dos integrantes, Arlindo Cruz e Walter Sete Cordas foram convidados a preencher as vagas.

Mas a relação de Beth Carvalho com o grupo não parou por aí. Ao longo dos anos, eles continuaram cantando, gravando e compondo juntos, como em 1987, quando ela fez uma participação especial na faixa Pra que viver assim, de Sombrinha e Adilson Victor, no LP Do fundo do nosso quintal.

O grupo passou por grandes mudanças durante os 40 anos de formação. Atualmente, é composto por Sereno, Ubirany e Bira Presidente, Júnior Itaguaí, Marcio Alexandre e Ademir Batera.

Almir Guineto e Zeca Pagodinho (Foto: Roberto Filho | Wikimedia Commons)

Outros grandes nomes do pagode e da música brasileira também foram revelados na quadra do bloco Cacique de Ramos, como Zeca Pagodinho, Caprí, Deni de Lima, Jovelina Pérola Negra e Nei Lopes. Um dos discos mais emblemáticos da incorporação do pagode à indústria musical foi o LP Raça brasileira, produzido por Milton Manhães, em 1985. Fizeram parte do disco: Mauro Diniz, Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Pedrinho da Flor e Elaine Machado. No ano seguinte, grande parte desses artistas seguiu carreira solo, destacando-se Zeca Pagodinho, com as grandes vendas de seu primeiro álbum.

 

O pagode dos anos 1990

Com a chegada dos anos 1990, o pagode acabou se dividindo em duas vertentes. A primeira, considerada “pagode raiz”, foi a continuação do trabalho dos músicos e dos compositores apoiados por Beth Carvalho. A outra surgiu como uma vertente mais comercial e obteve grande repercussão no Brasil e no exterior, o chamado “pagode romântico”, que conta com a construção de letras e harmonias mais sentimentais.

Esse novo jeito de fazer música é responsável por consideráveis mudanças no gênero musical, pois incorpora instrumentos eletrônicos, como o teclado, os quais, apesar de viabilizarem os grandes shows, aproximam mais o pagode do pop do que do samba, distanciando-o de suas feições originais, segundo críticos.

Atualmente, o pagode raiz segue em alta e, popularmente, confunde-se com o samba, fazendo uso direto do partido-alto e dos sambas de roda.

*Júlia Kronemberger, estagiária, com supervisão de Fernanda Fernandes

 
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