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Por que é tão importante se vacinar?
16 Outubro 2020 | Por Fernanda Fernandes
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"Vacinas são seguras e efetivas, mas, se não aplicadas, são ineficazes", diz médica pediatra e infectologista (Imagem: br.freepik.com)

As vacinas são um marco na história da saúde humana e salvam a vida de 3 milhões de pessoas por ano, segundo dado da Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, elas vêm sendo negligenciadas por uma parte da população.

A cobertura vacinal no Brasil vem em queda desde 2015, segundo a pediatra e infectologista Mariana Cypreste. “As pessoas estão ansiosas pela chegada da vacina do coronavírus, mas seguem com suas outras vacinas em atraso, o que é incongruente, incompatível”, avalia.

Em entrevista ao PORTAL MULTIRIO, a especialista descreve o atual cenário da cobertura vacinal brasileira, fala sobre movimentos antivacina e as fake news, avalia o risco de doenças já erradicadas voltarem a ameaçar e destaca o papel da escola na conscientização sobre a importância da vacina. Confira.

PORTAL MULTIRIO — O que é e como funciona uma vacina?

MARIANA CYPRESTE — Vacina é qualquer agente causador de doença que passa por modificações para que perca a capacidade de causar o agravo, mas que ainda seja capaz de, uma vez introduzido no organismo humano, estimular a produção de anticorpos (defesa) contra ele. Chamamos isso de imunização ativa: o sistema imune ativamente produz anticorpos contra um agente modificado com o qual entrou em contato.

PM — Por que se vacinar? Qual a importância da vacinação?

MC — Vacinas são comprovadamente eficazes e responsáveis pela erradicação e controle de diversas doenças ao longo da História. Um indivíduo vacinado tem menos chance de adoecer e, consequentemente, de transmitir a doença aos seus contactantes — o que é, também, uma maneira de proteger aqueles que não podem ser vacinados por motivos especiais.

Precisamos lembrar que vacinas não são somente para crianças. Tomamos vacinas a vida toda. Há calendários vacinais para criança (inclusive para prematuros), adolescente, adulto, gestante, idoso, pacientes especiais e, ainda, de acordo com a ocupação laboral.

PM — Vacinas podem fazer mal?

MC — Vacinas são extremamente seguras, mas como qualquer medicamento não estão isentas de efeitos adversos. Passam por longos e criteriosos processos de pesquisa e avaliação, chegando aos órgãos regulatórios para liberação e comercialização após diversas etapas cumpridas.

PM — Em 2019, o Brasil perdeu o certificado de país livre do sarampo. Há riscos de outras doenças que já haviam sido erradicadas voltarem a ameaçar?

MC — Devido a diversas estratégias de vacinação, principalmente ao Plano de Controle e Eliminação do Sarampo no Brasil (1992), essa doença, que era uma das principais causas de mortalidade infantil, foi controlada. Em julho de 2015, foi registrado o último caso de sarampo no Brasil e, em 2016, recebemos da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o certificado de país livre do sarampo.

No entanto, a progressiva queda na cobertura vacinal combinada ao contágio de pessoas não vacinadas que tiveram contato com brasileiros infectados fora do país levou ao surgimento de surtos, desde 2018, principalmente em São Paulo, em Roraima e no Amazonas. Assim, os requisitos necessários para manter o certificado de eliminação não foram mais sustentados e ele foi perdido em 2019.

Precisamos lembrar que a queda na cobertura vacinal para sarampo significa, também, risco para caxumba e para rubéola, já que esses componentes estão juntos na vacina tríplice viral. Queda na cobertura vacinal traduz um país desprotegido e com risco iminente de retorno de doenças controladas ou até mesmo erradicadas.

PM — Atualmente, a cobertura vacinal da população brasileira está em níveis satisfatórios? E, especificamente, sobre a vacinação infantil, o que você tem observado?

MC — De forma alguma. A cobertura vacinal no Brasil vem caindo progressivamente desde 2015. O ano de 2019 havia sido o pior, mas foi superado por 2020, de acordo com os dados parciais já liberados. Não atingimos nem 50% da meta em algumas vacinas, lembrando que uma boa cobertura deve estar, no mínimo, acima de 95%.

Estamos enfrentando índices de vacinação infantil extremamente baixos neste ano e a causa é multifatorial. A cobertura já não vinha satisfatória e, sem dúvida alguma, foi agravada pela pandemia pelo coronavírus. Ocorreu uma queda vacinal de 50% em todo o mundo.

Apesar de ser essencial manter o calendário vacinal em dia, muitas pessoas ficaram com medo de ir até os pontos de vacinação. Infelizmente, a população não encarou esse deslocamento como sendo uma saída essencial.

Além disso, enfrentamos a falta de algumas vacinas no mercado, o difícil acesso aos postos em algumas regiões, as fake news e os movimentos antivacinas, que, apesar de não terem origem no Brasil, ganharam força nacionalmente por meio das mídias sociais.

PM — No contexto da pandemia pelo coronavírus, muito tem se falado em vacinas. Você acredita que as pessoas possam estar mais conscientes da importância da vacinação e passem a acompanhar com mais atenção o calendário anual?

MC — Acredito que a conscientização sobre vacinação de maneira geral deva acontecer independente de termos ou não vacina contra SarsCov-2. As pessoas estão ansiosas pela chegada da vacina do coronavírus, mas seguem com suas outras vacinas em atraso, o que é incongruente, incompatível. Não se vacinam contra Influenza ou contra o sarampo, mesmo com acesso gratuito a essas vacinas e sabendo que são doenças graves, que podem levar a óbito.

Infelizmente, a população só “acorda” para a necessidade de vacinação quando se depara com algo que a choca. Por exemplo, se um primata não humano é encontrado morto e isso é noticiado, no dia seguinte teremos filas nos postos em busca da vacina contra febre amarela. Passados alguns dias, isso cai em esquecimento, até que outro fato pontual ocorra — quando, então, teremos filas em busca dessa vacina novamente.

Essa não é a mentalidade que precisamos ter. Vacinas são prevenção e promoção de saúde. Temos acesso a um dos melhores calendários do mundo (PNI – Programa Nacional de Imunizações) e que mais oferta vacinais gratuitamente. Mas de nada adianta se não o colocarmos em prática. Vacinas são seguras e efetivas, mas, se não aplicadas, são ineficazes.

PM — A que você atribui o crescimento dos movimentos antivacinas e negacionistas? Como combatê-los?

MC — Os movimentos antivacinas são muito bem organizados e coesos, usando as mídias sociais para a divulgação de seus ideais negacionistas. Esses grupos têm origem, em sua maioria, na Europa e nos Estados Unidos, e suas ideias são importadas para o Brasil por meio de organizações de pessoas com nível socioeconômico satisfatório, geralmente com algum ganho financeiro secundário.

Infelizmente, sabemos que uma notícia falsa e sensacionalista ganha notoriedade mais rapidamente que uma notícia séria e verdadeira. Pesquisas mostram que 7 em cada 10 pessoas acreditam em alguma notícia irreal envolvendo vacina. São posicionamentos que devem ser incansavelmente combatidos por nós, pelos meios de comunicação e pela população, que precisa se recusar a divulgar informações falsas.

Vale lembrar que o Estatuto da Criança e do Adolescente garante a vacinação das crianças e adolescentes como um dever a ser cumprido. O direito à vida e à saúde são garantidos pela Constituição.

PM — Você acha que a escola pode ter um papel relevante na conscientização sobre a importância da vacina? O que pode ser feito?

MC — O conceito de promoção de saúde, prevenção e coletividade deve ser estimulado e incentivado desde sempre, seja com palestras para pais, professores e outros colaboradores da escola, com entrevistas e com trabalhos escolares sobre doenças infectocontagiosas imunopreviníveis,  principalmente entre os adolescentes, já que nessa fase observamos alta taxa de evasão vacinal.
    
No caso das escolas da rede privada, a solicitação de que a caderneta vacinal esteja em dia no ato da matrícula talvez ajudasse, estimulando os responsáveis a não deixar as vacinas de seus filhos em atraso.

Materiais também são divulgados nas contas Vidya Academics (@vidyaacademics) e Ilha do Conhecimento (@ilhadoconhecimento), ligadas à UPVacina (Imagem: Reprodução/ Instagram)

Vacinas: como combater fake news e o negacionismo científico

Um material elaborado pela União Pró-Vacina (UPVacina), projeto desenvolvido por instituições de pesquisa e acadêmicas da Universidade de São Paulo (USP) - Ribeirão Preto para combater notícias falsas e gerar conteúdo baseado em evidências científicas.

A publicação reúne as principais dúvidas, fake news e teorias conspiratórias envolvendo vacinas tradicionais e vacinas da Covid-19.

A UPVacina produziu, ainda, um conteúdo com orientações sobre como lidar com o negacionismo científico.

 

 
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