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Biografias incentivam a leitura entre as crianças
24 Agosto 2015 | Por Sandra Machado
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ana maria 250Uma forma interessante de incentivar o hábito da leitura nas crianças é apresentá-las às biografias. Recentemente, o livro Eu sou Malala, da ativista paquistanesa Malala Yousafzai, a mais jovem ganhadora de um Prêmio Nobel da Paz em todos os tempos, foi relançado em uma edição juvenil pela Companhia das Letras, e conquistou, inclusive, os leitores adultos.

No Brasil, o segmento geralmente se organiza em coleções, nas quais a preocupação com os elementos editoriais das obras – como produção gráfica e ilustração – seguem um alto padrão. Alguns exemplos são a Coleção Filosofinhos, da Tomo Editorial (Descartes, Freud, Platão...); a Coleção Biografias, da Editora Girassol (Salvador Dali, Madre Teresa...); e a Coleção Brasileirinhos, da Paulus Editora (Cora Coralina, Jorge Amado...). Uma editora, em especial, se destaca no mercado: a Callis, que tem atualmente seis coleções de biografias infantojuvenis, além de uma biografia avulsa sobre a pintora Frida Kahlo.

A faixa etária recomendada varia de 7 a 12 anos. Para os menores, indicam A infância de..., Pequenos Craques e Crianças Famosas. As demais são para um público pré-adolescente: A luta de Cada um, Artistas Famosos e Biografias Brasileiras. “Nós compramos os direitos de edição da coleção Crianças Famosas no exterior e, depois, a expandimos, usando personalidades, autores e ilustradores nacionais”, explica o editor Ricardo Barreiros, em entrevista ao Portal MultiRio.

Portal MultiRio – Existe algum diferencial nas biografias, em termos de atratividade para as crianças?

Cartola300Ricardo Barreiros – As biografias escritas para crianças precisam de uma linguagem adequada e, geralmente, fazem uso de muitos elementos visuais que tornam os livros mais interessantes ao seu público. Trabalhar com biografias para crianças é um grande desafio porque temos que contar a vida de alguém (o que não é tarefa fácil) sem extrapolar a carga de texto que uma criança suporta. O livro se torna atrativo quando encontramos esse equilíbrio entre fatos importantes, concisão, linguagem apropriada e ilustrações interessantes. Trata-se, também, de um verdadeiro exercício de alteridade, porque nos colocamos, o tempo todo, no universo do leitor.

PM – Saberiam estimar qual a parcela de biografias destinadas ao segmento infantojuvenil no mercado editorial no momento?

RB – Não tenho estatísticas precisas que falem sobre isso, mas temos bons exemplos de coleções bem-sucedidas no mercado brasileiro. O que é claro é que, dentre as biografias, de uma forma geral, as que são destinadas para o público infantil representam uma fatia pequena. Talvez por conta desse desafio que é resumir a vida de alguém em poucas páginas e de forma interessante, sem que o texto fique com cara de verbete de enciclopédia e sem perder o caráter literário, que é o que encanta a criança.

PM – De onde surgiu a motivação para publicarem as biografias?

ziraldo250RB – A Callis tem, em sua missão, a valorização de artistas e personalidades que lutaram, em caminhos diferentes, por um mundo melhor e mais justo. Então, contar a história dessas pessoas é algo intrínseco aos quase 30 anos de editora. Hoje trabalhamos com grandes coleções de biografias para o público infantojuvenil, sendo a mais conhecida delas a Crianças Famosas. Essa, em especial, é muito interessante, porque conta como foi a infância de pessoas como Beethoven, Picasso, Cartola, Santos-Dumont, Castro Alves... O foco não são as realizações de adulto (que são abordadas só no final), mas a infância mesmo: o que eles faziam quando crianças, do que brincavam, o que aprontavam. Trata-se de algo bem diferente do que geralmente estamos acostumados a ver e cria uma empatia especial com o jovem leitor.

PM – Que importância têm os elementos editoriais, como projeto gráfico e ilustrações, neste tipo de publicação?

RB – Esses elementos são fundamentais porque prendem a atenção, ajudam a desenvolver a criatividade, complementam a história. Eles fazem parte de quase todos os livros infantis. É importante que a biografia não seja apresentada como um corpo estranho dentro do universo de leitura da criança. Por outro lado, o trabalho de edição de biografias para crianças também tem as suas particularidades e se diferencia de outros gêneros infantis em alguns pontos. Um exemplo disso é que, quando você vai contar uma história fictícia, o ilustrador tem mais liberdade para compor o personagem. Na biografia, essa liberdade precisa estar de acordo com o que sabemos sobre o biografado; a criação parte de uma figura real e deve respeitá-la.

PM – Mesmo fugindo de uma perspectiva ultrapassada, ligada à “pedagogia do exemplo”, é possível identificar algum caráter pedagógico no hábito da leitura de biografias por parte das crianças?

zumbi250RB – É possível, sim, mas também não podemos deixar de lado o quanto a leitura de uma biografia pode ser divertida e prazerosa. Curiosamente, quando falamos sobre biografia, o aspecto pedagógico vem à tona com frequência, e o da leitura de fruição fica mais por conta da literatura de ficção. Mas isso é um erro. É fato que a criança aprende muito lendo sobre a vida desses grandes ícones, ela toma conhecimento de particularidades históricas, é introduzida em alguns movimentos artísticos, em questões sociais, descobre costumes diferentes do dela. Mas esses não são os únicos pontos positivos. Nossas biografias sobre Zumbi e Sepé Tiaraju¹, por exemplo, têm mais ação e aventura do que muitos livros de ficção.

PM – Que elementos devem fazer parte de uma boa biografia para o público infantil?

RB – Uma boa biografia começa pela escolha do biografado, e nisso é importante ter em mente as figuras que são conhecidas e as que deveriam ser conhecidas. A editora tem um papel fundamental, de não deixar que personalidades tão importantes para a nossa história caiam no esquecimento. Outros pontos são a veracidade das informações (os fatos devem ser checados com cuidado), o texto precisa ser adequado à faixa etária (e isso em nada é sinônimo de um texto raso, muito menos hermético demais) e, por fim, a ilustração e o projeto gráfico de qualidade. Não existe uma fórmula de sucesso, mas respeitar esses tópicos é um ponto de partida para produzir bons livros.

Leia mais sobre o assunto. Amanhã, na matéria Biografias para crianças: a palavra de quem faz.

¹Sepé Tiaraju – Líder indígena e comandante da Guerra Guaranítica, foi declarado Herói Guarani Missioneiro Rio-Grandense e inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, por ter lutado pela liberdade de seu povo.

 
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