O principal lema da esgrima é o cavalheirismo. Por isso mesmo, os competidores são obrigados a se saudarem como parte do ritual. Caso contrário, podem até ser desclassificados. Muito dessa mística vem dos romances históricos do século XIX – como o clássico Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas –, que tornaram os espadachins familiares ao imaginário popular. No entanto, o duelo com armas brancas realmente fez parte da vida social, considerado uma forma de defesa da honra. Em 1892, Olavo Bilac e Raul Pompeia chegaram a agendar um confronto – que na última hora não se realizou – porque discordavam da atuação de Floriano Peixoto na presidência da República – o primeiro era contra e o segundo, a favor.

Do bélico ao lúdico

A arte da esgrima foi além do seu caráter militar original e ganhou um teor recreativo a partir de 1474, quando os espanhóis Jaime Pons e Pedrós Torres estabeleceram as primeiras regras para a competição esportiva. Apenas no século XVII surgiram as primeiras escolas na França. Atualmente, a esgrima está subdividida em três tipos de armas: espada, florete e sabre. O objetivo é apenas tocar o corpo do adversário, com a ponta cega, o maior número de vezes possível.

Pierre de Frédy, ou Barão de Coubertin, instituiu os Jogos Olímpicos na Era Moderna e incluiu a esgrima, que ele mesmo praticava, já na primeira edição, realizada em Atenas, em 1896. A esgrima em cadeira de rodas surgiu como uma disputa entre veteranos de guerra, durante os Jogos de Stoke Mandeville, na Inglaterra, em 1953. Na primeira edição dos Jogos Paralímpicos, realizados em Roma, a modalidade também já estava incluída. A principal diferença em relação à esgrima olímpica é que a cadeira fica presa ao solo por fixadores.

Desde os Jogos de Berlim, em 1936 – ano em que o Brasil começou a participar da modalidade –, um sistema auxiliar para a arbitragem tem sido usado para facilitar a marcação dos pontos. Um sinalizador fica preso nas costas da jaqueta do esgrimista por uma argola de metal. Desse aparelho sai um fio, que passa por dentro da manga e é conectado à arma. Cada toque acende uma lâmpada do placar – verde para um lado e vermelho para o outro. As disputas acontecem sobre uma pista metálica de 14 metros de comprimento por dois metros de largura, adaptada para invalidar os golpes que acertam o chão. Todos os movimentos têm nomes específicos, de acordo com um código internacional padronizado.

Controle rigoroso dos riscos

Nos Jogos Olímpicos, há provas individuais e por equipes. As primeiras são decididas em três matches de três minutos ou, então, se um dos esgrimistas tocar o oponente 15 vezes. Nos eventos por equipe, times de três competidores se enfrentam em nove séries de três minutos. Vence o grupo que acumular mais pontos ou atingir o adversário 45 vezes, o equivalente ao triplo do esperado de uma prova individual.

De acordo com a arma usada, muda a área considerada para a pontuação e a maneira de dar os toques. Com o florete, a área válida se limita ao tronco, sem contar os braços e a cabeça. No caso da espada, valem os toques realizados em qualquer parte do corpo. Com o sabre – que pode ser usado não apenas com a ponta, mas também com o corte e o contracorte – se pontua atingindo o corpo da linha da cintura para cima, à exceção dos braços do oponente.

Os atletas se protegem usando todo um aparato corporal na cor branca. Jaqueta e calça são feitas de um material resistente. A cabeça é coberta por uma máscara com tela de arame trançado em quadradinhos com cerca de dois milímetros de lado. A mão que segura a arma calça uma luva flexível. Para completar, o esgrimista usa meias de cano longo e tênis.

Pela relação da esgrima com o universo militar, em 1937 o Exército brasileiro criou o Curso de Mestre d’Armas, que funciona até hoje como o único no país, na Escola de Educação Física do Exército, localizada na Urca, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele é destinado à formação dos oficiais. Já os interessados a se iniciarem no esporte durante a infância dispõem de três opções na cidade: o Clube Militar, a Real Sociedade Clube Ginástico Português e o Clube de Regatas Vasco da Gama.

Fontes:

Site da Confederação Brasileira de Esgrima

FREITAS, Armando; BARRETO, Marcelo. Almanaque Olímpico SporTV. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.

SILVA, Ana Carolina Feracin da. Entre a pena e a espada. Literatura e política no governo de Floriano Peixoto: uma análise do jornal O Combate (1892). Caderno AEL, v. 9, n. 16/17, 2002.