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Um cofre de porquinho para chamar de seu
17 Fevereiro 2014 | Por Sandra Machado
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paulo5Economês não precisa ser aquele monstro debaixo da cama de quem não é mais criança. Basta que alguém lance alguma luz sobre a ciência econômica e mostre que ela não é nenhum bicho-papão. Em julho de 2012, Paulo Costa, então com 21 anos, teve a oportunidade de passar adiante o que andava aprendendo na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, numa experiência com alto potencial multiplicador. Durante três dias, ele capacitou 54 professores de 17 unidades do programa Ginásio Experimental Carioca (GEC) para lecionar Educação Financeira. No primeiro semestre de 2013, cerca de 340 alunos participaram das aulas da disciplina eletiva. No semestre seguinte, o sucesso se repetiu. Assim, em 2014, a oferta será ampliada para 29 GECs.

“O nome Educação Financeira já diz tudo: os meninos aprendem a poupar e a cuidar”, explica Heloísa Mesquita, gerente do projeto dos ginásios, que são escolas municipais de horário integral do segundo ciclo do Ensino Fundamental. Para ela, essas aulas são uma chance que as crianças têm para sedimentar conceitos abstratos, que nem todo mundo entende de primeira. “Rever fração e porcentagem – e, agora, com situações conhecidas! O aluno se dá conta da razão de existir da Matemática.” Como nem toda criança recebe mesada, as proposições reformuladas por Paulo ganharam o seguinte formato: se você economizar o dinheiro que gasta em chiclete todo dia, durante 30 anos, quanto vai ter no final do período? “Tem muito menino ajudando a mãe a administrar o cartão de crédito”, diz Heloísa, ressaltando o valor da ressonância do aprendizado.

Paulo ainda não concluiu a graduação em Economia, mas está convencido de que se educar nesta ciência é altamente compensador. De origem humilde, ele é um excelente exemplo do quanto a Educação alavanca a qualidade de vida. “Na minha época de estudante do Colégio Militar do Rio de Janeiro, um comandante gostava de me dizer: palavras convencem, exemplos arrastam. Sempre guardo essa ideia comigo.” Graças a uma bolsa de estudos integral, Paulo viajou para o exterior pensando em estudar Engenharia, como o irmão. Depois de entrar numa aula de Economia, por engano, resolveu mudar de graduação. A oferta para o curso na Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro se deu de forma espontânea, à medida que o rapaz ia aumentando seu círculo de relações com professores norte-americanos e, também, brasileiros.

tchurma3O curso oferecido aos professores dos GECs incluiu uma apostila de autoria do rapaz, a qual, além do conteúdo teórico, traz, também, exercícios e provas. Na sala de aula, os alunos têm a oportunidade de discutir suas próprias experiências com os colegas e professores, o que pode ser uma das razões pelas quais o curso tem tido tanto sucesso. “Os estudantes gostam de falar sobre dinheiro, porque, hoje em dia, eles sabem o que querem e quanto custa“, teoriza Paulo. Após o primeiro contato com a Educação Financeira, houve alunos que se sentiram estimulados a iniciar uma poupança. “Além disso, o aumento na nota de Matemática dos estudantes da eletiva foi muito além do esperado. O que pode levar a muitos benefícios, como maior interesse pelas áreas de ciências e engenharia, das quais o Brasil é tão carente”, lembra Paulo, numa reflexão já no nível da macroeconomia.

A Educação Financeira toca em questões que são caras ao brasileiro, dada sua mentalidade – por exemplo, abrir mão de um benefício imediato em prol de mais segurança no futuro. Por isso mesmo, essa disciplina propõe uma mudança de paradigma que tem tudo a ver com o perfil dos GECs, porque, segundo a percepção de Paulo, os ginásios trabalham a ideia de sonhar em longo prazo. “Se guardamos dinheiro, um pouco a cada dia, podemos investir no nosso futuro, seja por meio de uma universidade, seja por meio de um curso de idiomas. O importante tem sido mostrar aos estudantes que é possível alterar o futuro, com algumas mudanças pequenas no curto prazo.”

A forma como Paulo resume os fundamentos da Economia Financeira é empolgante. “Primeiro, mostramos que ser menos consumista não significa, necessariamente, ser menos feliz. Segundo, trabalhamos a ideia de usar o dinheiro eficientemente: caso saibamos que é necessário pagar um curso de inglês, precisamos nos preparar financeiramente no longo prazo para poder fazer esse gasto, em vez de ter de pedir empréstimo em bancos ou usar cartões de crédito. Essas formas de crédito têm juros altíssimos, que podem atrapalhar, e muito, as finanças das pessoas – especialmente dos jovens, que tendem a possuir renda menor. Por último, a aula pretende transformar os alunos em consumidores e poupadores mais sofisticados. Nós ensinamos a eles a diferença entre juros em contas de poupança, que ajudam a aumentar um montante, e os juros das dívidas, que fazem dívidas crescerem. Falamos, também, sobre um tema de grande importância no Brasil: a inflação, que tem rodado a casa de 6% anualmente, o que é um número bastante elevado.”

msg1Embora os leigos em Economia costumem acreditar no contrário, a popularização dos fundamentos econômicos talvez seja o sonho de todo economista, por diversas razões, na opinião de Paulo. “Ao saber como funcionam os empréstimos, pequenos investidores têm mais confiança para investir em seus negócios, como abrir uma loja. Dessa forma, há criação de empregos e geração de riqueza. Ao entender o que são taxas de juros e rendimentos, as pessoas podem fazer melhores escolhas sobre como investir seu dinheiro, em caderneta de poupança ou ações, por exemplo.” E conclui, otimista: “Há sempre a possibilidade de usar o dinheiro de uma maneira consumista, sem pensar no dia de amanhã. No entanto, há uma maneira mais interessante, que é o que tento passar nas aulas: a possibilidade de utilizar os recursos financeiros como uma ponte para um futuro melhor. Por isso, nas aulas, incentivamos o uso do dinheiro para investir no futuro dos alunos, o que gerará mais riquezas para os próprios alunos, para suas famílias e para o país”.

 
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