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Diretora da Rede receberá Prêmio Faz Diferença
22 Fevereiro 2016 | Por Sandra Machado
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Patrícia Gomes foi a escolhida na categoria Educação por ter transformado a escola com as piores notas da cidade no melhor índice do Ideb (Foto: Acervo pessoal)

Em 2009, Patrícia Gomes de Azevedo assumiu a direção da Escola Municipal Haydea Vianna Fiuza de Castro (10ª CRE), onde encontrou um cenário dos mais desoladores. Situada em uma área de conflito, entre os bairros de Paciência e Santa Cruz, a escola tinha um prédio que precisava de reformas, um alto índice de evasão escolar e as piores notas possíveis. Naquele mesmo ano, a Pedagogia Uerê-Mello estava sendo implementada como uma das políticas públicas oficiais na Rede Municipal de Ensino da cidade do Rio de Janeiro, e foi adotada também por Patrícia. Concebida pela doutora em Linguística e Filologia Yvonne Bezerra de Mello, a metodologia auxilia crianças e jovens traumatizados pela violência a superar seus problemas de cognição e bloqueios de aprendizagem.

Em apenas quatro anos, a comunidade escolar conseguiu um grande feito: atingiu a média 8,7 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de ensino no país, com a melhor pontuação de uma escola pública no Rio para o segmento do 1º ao 5º ano. A liderança de Patrícia à frente do trabalho foi reconhecida pelo Prêmio Faz Diferença, uma iniciativa do jornal O Globo, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que vai culminar com a entrega de um troféu em cerimônia de gala no Golden Room do Hotel Copacabana Palace, no próximo mês de março. Em sua 13ª edição, a premiação distingue as personalidades que mais têm se destacado em áreas ligadas às artes e ao conhecimento, e que podem servir de inspiração para o conjunto da sociedade.

Escola chegou a ficar um tempo sem direção, sob intervenção do município (Foto: Acervo pessoal)

Dentro do mesmo espírito, o Portal MultiRio conversou com a diretora Patrícia sobre sua trajetória de sucesso, em uma entrevista exclusiva. 

Portal MultiRio – Qual sua formação profissional e, resumidamente, sua trajetória na Rede Municipal de Ensino?

Patrícia Gomes de Azevedo – Sou pedagoga licenciada para Educação Infantil, psicopedagoga com formação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e tenho pós-graduação em Gestão de Escolas Públicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Estou na Rede desde 2000 e trabalhei sempre em áreas de risco, como Senador Camará e Vila Kennedy. Em 2009, eu e a diretora adjunta Eliane Lopes assumimos o compromisso e o desafio de estar à frente de uma unidade que não possuía um bom rendimento escolar.

PM – Como era a E.M. Haydea Vianna Fiuza de Castro quando você chegou?

PGA – Quando chegamos, a unidade estava bastante destruída fisicamente e apresentava índices muito abaixo da média da Rede. A escola fica entre os bairros de Paciência e Santa Cruz, em uma área de risco. As famílias estão abaixo do nível da miserabilidade e vivem em condições bastante precárias: 90% de nossa comunidade escolar sobrevive apenas com o dinheiro do programa Bolsa-Família e depende da escola para fazer suas refeições. Cerca de 70% dos alunos ficam conosco durante todo o dia. No contraturno, acontecem as oficinas do programa federal Mais Educação, o que garante o lanche de nossos alunos.

PM – Como tem sido o trabalho desenvolvido por você e pela sua equipe?

PGA – Quando iniciei meu trabalho, trouxe comigo apenas minha diretora adjunta, Eliane Lopes, que continua sendo meu braço direito e responsável por toda a parte de infraestrutura. Com isso, pude ter liberdade para acompanhar pessoalmente todo o projeto pedagógico do qual venho à frente desde então. Trabalhamos com a metodologia diferenciada do Uerê-Mello. A capacitação é realizada por sua criadora, que, uma vez por ano, vem fazer uma palestra exclusivamente em nossa unidade. O trabalho de acompanhamento e de apoio pedagógico é feito pessoalmente por mim. Os professores recém-chegados vão se adaptando à nossa realidade e à metodologia utilizada, o que facilita bastante o trabalho com nossos alunos em sala de aula. Com o passar do tempo, vão conquistando confiança e aperfeiçoando o projeto político-pedagógico. Sendo assim, temos obtido resultados maravilhosos de desempenho profissional dos professores, bem como um desempenho excepcional de nossos alunos.

A adjunta Eliane Lopes e a diretora Patrícia Gomes, na cerimônia de entrega da Medalha de Mérito Pedro Ernesto, realizada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro (Foto: Acervo pessoal)

PM – O que é necessário para manter uma escola funcionando bem quando ela está situada numa área de conflito?

PGA – Basta ter dedicação, amor, compromisso e comprometimento por parte de todos os envolvidos no processo de educar.

PM – O que você aprendeu com a experiência e poderia compartilhar com seus colegas professores e leitores do Portal MultiRio?

PGA – O que podemos compartilhar com outros colegas é a importância de uma gestão democrática, com o fortalecimento da equipe da unidade e casando, na administração escolar, o pedagógico e o administrativo. Também é importante traçar metas de longo e curto prazos, valorizar as ideias da comunidade escolar e estar pautado no tripé diagnóstico, planejamento e ações. O processo necessita ser desburocratizado, pois uma criança não pode esperar meses para ter um problema resolvido.

PM – Qual o significado dessa premiação para você e para as suas crianças?

PGA – A premiação foi muito importante, pois desde que ingressei na Rede me dediquei à educação de crianças que vivem em áreas de risco, e esse prêmio foi um marco de sucesso. Acredito que consegui resgatar a dignidade dessa comunidade tão abandonada e recuperar a autoestima de alunos, pais e professores.

 
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