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Todos juntos contra o aquecimento global
02 Maio 2016 | Por Sandra Machado
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O ambientalista Sergio Besserman durante as gravações de Precisamos Agir

O calorão que não cede, com aquela longa estiagem, seguida de chuvas excessivas, está longe de ser um sinal de que o clima anda maluco: é apenas a reação da natureza contra as agressões recebidas. Enquanto a maioria de nós apenas resmunga, pensando no próximo fim de semana, autoridades internacionais se colocam em ação. A 21ª Conferência Mundial sobre o Clima (COP-21), realizada entre 30 de novembro e 12 de dezembro de 2015 em Bourget, nas redondezas de Paris, representa um marco na luta contra o aquecimento global. Pela primeira vez na história, 195 países-membros da Convenção do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) chegaram a um acordo e assinaram um documento com unanimidade.  

O principal ponto do Acordo de Paris é o comprometimento de todas as nações, e não apenas dos países ricos, no combate às mudanças climáticas, limitando, para isso, o aumento da temperatura do planeta a 1,5o C. A partir de material produzido pela Agência France Press (AFP), o ambientalista Sergio Besserman, que preside a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, apresenta a série Precisamos Agir, produzida pela MultiRio, contextualizando as questões mais urgentes a serem discutidas pela sociedade brasileira. Atual presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), Besserman concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal MultiRio, na qual aprofunda alguns dos aspectos tratados nos programas.

Portal MultiRio – Qual é a proposta de Precisamos Agir? De que forma o poder público e a sociedade civil organizada podem dar sua contribuição?

Sergio Besserman – No zen budismo, há um pensamento que diz: ser e agir são a mesma coisa. Precisamos Agir procura integrar conhecimento, reflexão e responsabilidade com transformação em função do que está acontecendo no planeta. O poder público e a sociedade civil devem interagir da forma mais transparente e democrática possível. Para que as políticas públicas atendam melhor, com mais eficiência, é preciso que a sociedade compreenda as circunstâncias em que elas são formuladas. O objetivo dos programas é fazer cada um pensar sobre a própria responsabilidade. 

A cidade do Rio de Janeiro tem um litoral de 265 km, com 90 km de praias (Fonte: Armazém de Dados)

PM – Diante das previsões algo sombrias para 2050, quando a população mundial atingirá 10 bilhões de pessoas, dados os eventos climáticos extremos, é possível antecipar algum tipo de ocorrência, de forma a resguardar o Rio de Janeiro?

SB – Sim, todas as cidades do mundo têm investido em uma preparação para os impactos das mudanças climáticas. O Rio de Janeiro está na vanguarda da América Latina, no nível, talvez, da Austrália e da Nova Zelândia, no contexto do Hemisfério Sul, em termos de estudo e internalização dos técnicos da prefeitura. Falta muito a estudar e nem tudo é previsível. Mas já sabemos que as chuvas fortes vão ocorrer com mais frequência, e quando elas batem sobre os maciços montanhosos da Pedra Branca e da Floresta da Tijuca e estamos na maré cheia, acontecem as inundações a que estamos acostumados.

PM – A expansão térmica do oceano e o derretimento das geleiras aparecem como o mais grave dos problemas. No caso específico do Rio, que é uma cidade costeira, que soluções de engenharia já podem ser consideradas?

SB – O nível do mar está subindo todo dia. Na página do Instituto Pereira Passos, no Armazém de Dados, há mapas de áreas mais afetadas. É possível enfrentar o problema, mas não há dinheiro para tudo. Vai ser usado o mesmo dinheiro que seria destinado também para a educação e a saúde. Iremos salvar a Praia de Copacabana, porque ela gera emprego e renda, enquanto outros litorais terão apenas proteção. Em Rio das Pedras, por exemplo, é possível construir canais. Mas em Areinha, que fica dentro de Rio das Pedras, talvez seja mais indicado reassentar a população. Essas decisões não devem ser tomadas por tecnocratas. É preciso que haja escolhas democráticas da população. Uma ressaca que ocorra hoje será mais destrutiva do que antes, porque o mar já subiu 20 centímetros. Fazemos obras no presente que geram equipamentos para durar cem anos, como a revitalização do Porto do Rio ou o saneamento da Zona Oeste, já levando em consideração a elevação do nível do mar.

PM – A proposta da cidade carbono zero implica a disseminação do uso de tecnologias de combate ao desperdício e ao aquecimento global que vão revolucionar nossa relação com o consumo, nosso deslocamento dentro do espaço urbano e até a configuração interna das habitações. Considerando a desigualdade histórica na distribuição de renda no nosso país, é possível vislumbrar que essas mudanças efetivamente cheguem a todos os estratos sociais?

SB – Vai ter que ser possível para todo mundo. A COP-21 já sinaliza que 2o C é um limite inaceitável. Estamos muito atrasados. Nada de efetivo tem sido feito para mirar um aquecimento de 1,5o C. É necessário que comece a ser feito de verdade. O Brasil pode alcançar uma oferta de energia elétrica 100% renovável e garantir mobilidade com 100% de emissão de carbono zero. Trabalhar de casa, por exemplo, é um hábito que pode reduzir os deslocamentos, algo que se recomenda não apenas para pessoas, mas também para as cargas. As populações mais carentes têm o direito e é um dever da sociedade favorecer para que elas emerjam para padrões de consumo superiores. Produtos e serviços que não esquentem o planeta devem ser assegurados também para as camadas que já são carentes, hoje, de educação, saneamento e saúde. Isso se consegue por meio de maior conhecimento e cultura. Se não ocorrer a limitação do aquecimento global para um patamar inferior a 2o C, segundo um estudo do Banco Mundial, todos os ganhos contra a pobreza conseguidos nos últimos 20 ou 30 anos podem ser perdidos. E o pior: justamente sobre essas mesmas populações vão se abater as principais consequências do aquecimento.

Na Zona Sul, foram identificadas apenas três áreas de pequena extensão expostas ao risco de inundação, caso o nível do mar se eleve acima do desejado (Fonte: Armazém de Dados)

PM – O senhor considera que a necessidade de substituição dos combustíveis fósseis pelas chamadas energias renováveis é uma grande oportunidade para o Brasil, no sentido de que a exuberância natural oferece todas as condições para que o país se torne um modelo de matriz energética. Já que isso parece uma tarefa de magnitude do governo federal – garantir as condições e investimentos para os pesquisadores – dá para ser otimista, no atual contexto?

SB – Neste mundo que vai transitar mais cedo para o bem-estar das populações mais pobres, passando de uma civilização de combustíveis fósseis para a civilização do baixo carbono, que respeita os limites biofísicos do planeta, o Brasil está em uma posição singular. Essa pode ser a melhor estrada para mais competitividade e bem-estar per capita, ainda a ser percorrida em sua maior parte, contanto que com visão estratégica. Temos reservas extraordinárias com potencial de biomassa e, portanto, a possibilidade de matriz energética limpa. Os pastos degradados podem ser transformados em florestas. Podemos produzir alimento para o mundo a baixo carbono, ou seja, com baixa emissão de gases geradores do efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Nesse assunto especificamente, a totalidade dos países está mal. O tiro de largada desta corrida ainda não foi dado. A partir desse cenário, muda a competitividade relativa. Empresas e países com poluição muito intensiva em carbono saem perdendo e, assim, o Brasil surge com uma inserção muito competitiva.
 

A série Precisamos Agir, com dez episódios, está disponível na Videoteca.

Fontes: UOL e BBC

 
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