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Evento no Jardim Botânico debate parques brasileiros
25 Novembro 2014 | Por Sandra Machado
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BouldaCidades precisam de espaços públicos. E o parque é, por excelência, o lugar da coletividade. Se essa ideia parece ultrapassada, ela se torna atualíssima diante da preocupação, em todo mundo, com a qualidade da vida nos centros urbanos, principalmente depois que as mudanças climáticas têm se agravado. Neste sentido, nos dias 18 e 19 de novembro aconteceu, no Espaço Tom Jobim, dentro do Jardim Botânico, a segunda edição do ciclo de debates Parques do Brasil. Organizado pela Fundação Getúlio Vargas, Instituto Semeia, Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e Arq. Futuro (plataforma de discussão sobre o futuro das cidades), o evento se propõe a discutir, com especialistas daqui e do exterior, novos modelos que conjuguem preservação e exploração econômica e, principalmente, capazes de envolver a população local, não apenas para que tenha orgulho de seus parques mas, principalmente, para tratá-los melhor daqui para a frente.

Seja entendido como um local para desacelerar da correria moderna, seja como uma área de lazer para a prática de esportes, todo parque deveria ser percebido como sinônimo de bem-estar pelos frequentadores. Mesmo sob esta perspectiva, os modelos são diversos e não podem ser nivelados: há casos consolidados, como o Parque Nacional do Iguaçú, no Paraná, mas também projetos inovadores. Bons exemplos são o Beirut Green Project, movimento cidadão que já conseguiu aumentar a área verde na capital do Líbano; o Zaryadye Park, de Moscou, que segue o conceito de wild urbanism e reproduz quatro ecossistemas russos dentro do perímetro urbano; e ainda o Parque Sitiê, localizado no Morro do Vidigal, que começou a surgir em 2005 – graças ao esforço da comunidade – onde antes existia um lixão.

A volta por cima do Central Park

Duas estrelas tiveram um encontro marcado logo na abertura do evento: o Central Park, de Nova York, construído entre 1858 e 1900, e o Parque do Flamengo, prestes a se tornar cinquentão, em 2015. Para falar sobre o parque norte-americano, compareceu Elizabeth Rogers, sua administradora entre 1980 e 1996 e primeira presidente da Central Park Conservacy. Coube a ela comandar a revitalização completa do local, após um período de descaracterização do traçado original e de um relativo abandono, que culminou entre as décadas de 1960 e 1970. “O nome vem do maior reservatório, bem no meio do terreno, Rogersque alimenta o sistema de distribuição artificial até lagos, fontes e quedas d’água concebidas para criar uma atmosfera de parque rural em meio à pressa da cidade”, explicou. Antes mesmo de existir o jardim botânico da cidade, que é de 1891, o Central Park já mantinha duas estufas especialmente para gerar cinco milhões de mudas plantadas na área.

Para a mestre em Planejamento Urbano pela Universidade Yale, a concepção da função de um parque muda de acordo com a cultura do momento. “A facilidade de circulação para passeios a pé já teve seu auge. Mais tarde, veio uma fase de instalação de belvederes e outros equipamentos, como piscinas e quadras de tênis, construídas por Robert Moses, no período entre 1934 e 1964.” Na era hippie, as frequentes passeatas, protestos e outras manifestações de forte apelo popular deixaram para trás muitas árvores com raízes aparentes, trechos destruídos e pichação. A partir do mapeamento das espécies, testes de água e de solo, instalação de novas luminárias, contratação de jardineiros e enquetes realizadas com o público sobre as atividades preferidas, foi possível cuidar do gerenciamento. “Usamos postais antigos como referência. Quando você restaura, as pessoas voltam para o parque”, sintetiza Elizabeth Rogers.

Aposta corajosa no Parque do Flamengo

Para Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, as pessoas vão a esses espaços pelos mesmos motivos, geração após geração. A criação do Parque do Flamengo, batizado Brigadeiro Eduardo Gomes na década de 1970, que ele qualifica como “uma magnífica obra de arte urbana”, representou uma busca pela modernidade – melhor dizendo, por mais agilidade no deslocamento entre a Zona Norte e a Zona Sul – e por espaços amplos para a cidade. A Avenida Norte–Sul, planejada desde 1947, ameaçava boa parte do patrimônio histórico do Centro. Da mesma forma, o surgimento de arranha-céus na área que havia sido aterrada pelo material retirado dos Morros do Castelo e de Santo Antônio, no trecho entre o Aeroporto Santos Dumont e a Enseada de Botafogo, acabaria com o panorama mais bonito da cidade.

“Mas a cidade se reinventou na efeméride dos 400 anos”, lembra Fajardo. “Os arquitetos Lota de Macedo Soares e Affonso Eduardo Reidy; o paisagista Roberto Burle-Marx e o governador Carlos Lacerda contaram com um corpo técnico de alta qualidade na prefeitura.” Oito faixas de rolamento garantem, até hoje, a velocidade no fluxo do trânsito e um recanto verde, cheio de natureza, mesmo tendo sido uma área projetada. “A paisagem é o bem mais valioso.” Graças a Fajardolocais como o Parque do Flamengo, o Rio de Janeiro recebeu da Unesco o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

No momento, 18 órgãos se dividem nos cuidados do parque. Um dos objetivos tem sido combater o excesso de equipamentos instalados pelas empresas de telefonia celular nos postes altíssimos, que só existem ali. Já foram restaurados o Teatro de Marionetes Carlos Werneck e a Cidade das Crianças, e reforçado o efetivo da Guarda Municipal, responsável pela segurança. De acordo com Fajardo, cabem, também, consultas aos frequentadores sobre a melhor destinação a ser dada a instalações que saíram de moda, como as pistas usadas para a prática do aeromodelismo ou os tanques antes utilizados no nautimodelismo.

 
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