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Chico Mendes, o líder do povo da floresta
11 Dezembro 2014 | Por Márcia Pimentel
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CHICOMENDES-DOISFILHOSEra uma vez um menino pobre que se tornou líder do povo da floresta e mudou a visão do mundo sobre a sustentabilidade das atividades humanas. Esse poderia ser o início de uma fábula, ou da sinopse de um novo filme de James Cameron, o diretor de Avatar. Mas trata-se de uma história real com desfecho trágico para seu protagonista, embora ele tenha deixado um grande legado para a humanidade e os movimentos sociais. Trata-se do seringueiro Francisco Alves Mendes Filho, que, segundo a antropóloga Mary Helena Allegretti, organizou uma base social forte contra os desmatamentos na Floresta Amazônica, e protagonizou uma “revolução paradigmática” sobre a relação entre desenvolvimento e meio ambiente. Morto poucos dias depois de completar 44 anos, esse notável brasileiro, nascido em Xapuri, no Acre, comemoraria seu 70º aniversário de nascimento no dia 15 de dezembro.

Para entender a trajetória de vida de nosso personagem, é preciso voltar às primeiras décadas do século XX, quando centenas de migrantes nordestinos partiram para a região amazônica a fim de trabalhar na extração do látex, nos seringais nativos. Nesse grupo, estava o avô de Chico Mendes, que se fixou no seringal Porto Rico, na cidade de Xapuri, no Acre. Ele e os demais seringueiros, da época, trabalhavam sob o sistema de aviamento, que consistia na troca da borracha pelos produtos vendidos no armazém do dono do seringal.

Com a concorrência dos novos mercados mundiais produtores de borracha, a partir da década de 1910, vários seringalistas endividados abandonaram suas propriedades, dando lugar a novas modalidades de organização. Sem a presença dos patrões, os seringueiros do Acre viraram autônomos e passaram a extrair a castanha, cada um dentro de sua colocação.

Era nesse contexto que vivia Chico Mendes, um dos poucos seringueiros alfabetizados da região. A vida corria calma até que, na década de 1970, o governo militar tomou uma série de medidas com o objetivo de atrair capitais para a região Norte do país – entre elas, a instituição de incentivos fiscais visando transformar os antigos seringais em fazendas agropecuárias. Como consequência dessas medidas, as terras onde os seringueiros moravam há décadas começaram a ser vendidas, e eles foram expulsos, sem indenização, para a periferia das cidades. Os conflitos começaram a surgir e, aos poucos, toda a região tornou-se uma área conflagrada.

A partir de 1974, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agrigultura (Contag) passou a incentivar a formação de Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs). No ano seguinte, Chico Mendes tornou-se secretário geral do STR de Brasileia, cidade vizinha a Xapuri, destacando-se como líder.

CHICOMENDES-XAPURIFoi um dos principais defensores da proposta de enfrentar os desmatamentos e parar as motosserras. Essas ações, iniciadas em 1976 e chamadas de “empates da derrubada”, surtiram resultado, não só porque os fazendeiros se viram forçados a dividir parte da fazenda que haviam comprado, mas porque revelavam para o conjunto da sociedade os problemas sociais provocados pelo desmatamento. Em 1977, Chico Mendes fundou o STR de Xapuri e elegeu-se vereador pelo único partido de oposição da época: o MDB. Três anos depois, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional.

Novos conceitos

Em 1985, liderou a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros e, junto a esses trabalhadores, lançou a proposta das Reservas Extrativistas. Na ocasião, o então presidente do STR de Xapuri propôs a união dos povos da floresta, buscando o apoio dos indígenas, das populações ribeirinhas e dos demais grupos, como o dos quebradores de coco babaçu, também dependentes do extrativismo.

Os brasileiros e a comunidade internacional começaram, enfim, a tomar conhecimento da situação na Floresta Amazônica. Em 1987, membros da Organização das Nações Unidas (ONU) visitaram Xapuri. No mesmo ano, a convite do Congresso dos Estados Unidos, Chico Mendes denunciou, em Washington, o cenário de desmatamento da Amazônia, e ganhou vários prêmios internacionais por sua defesa do meio ambiente. Como consequência dessa repercussão internacional, os bancos suspenderam os financiamentos dos fazendeiros que haviam comprado as antigas fazendas de seringa.

chicomendes-casaO Estado brasileiro também acelerou os estudos sobre as definições institucionais mais adequadas ao conceito de Reserva Extrativista – que inaugurava um novo paradigma sobre a questão fundiária –, e mesmo antes de encontrar uma solução definitiva começou o processo de desapropriação das terras dos fazendeiros. Em 1988, o Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, em Xapuri, deu lugar a um assentamento de seringueiros.

Ameaçado de morte em vários momentos, foi atingido com tiros de escopeta, no quintal de casa, no dia 22 de dezembro de 1988. O assassinato teve repercussão imediata na imprensa mundial. Finalmente, em 1990, Darly e seu filho foram condenados pelo crime, o Governo Federal resolveu as questões jurídicas pendentes e a Reserva Extrativista Chico Mendes foi criada oficialmente.

 
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