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Educa Rio 2018 debate midiaeducação, Educação Infantil e neurociência
19 Abril 2018 | Por Fernanda Fernandes e Larissa Altoé
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O Educa Rio 2018, evento promovido pela Revista Educação e pela PUC-Rio, com curadoria de Silvana Gontijo, discutiu temas como midiaeducação, literatura e cultura, Educação Infantil e neurociência na última terça-feira (17), na universidade localizada na Gávea.

Pela manhã, o debate foi sobre midiaeducação, literatura e cultura e contou com a presença de Silvana Gontijo, jornalista, presidente da planetapontocom e pesquisadora na área de midiaeducação; Jonathan Caroba, ex-aluno e coordenador de midiaeducação do Colégio Estadual José Leite Lopes – Nave/Rio; Heloísa Buarque de Hollanda, professora emérita da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/ UFRJ) e coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC/ UFRJ); Nádia Rebouças, consultora de comunicação para a transformação; e Maria Arlete Gonçalves, consultora e ex-gerente de cultura do Oi Futuro.

Silvana Gontijo apresentou o trabalho da planetapontocom e falou sobre inovação e a necessidade de se levar sempre em conta o fator humano. “Educadores inovadores precisam aprender a superar o medo do novo; e, para serem eficazes, as relações de trabalho precisam sair do modelo competitivo para o colaborativo. Só assim trabalharão de forma interdisciplinar”, pontuou. Ela também apresentou Jonathan Caroba, que contou sobre sua experiência profissional no Nave.

Silvana Gontijo fala sobre a importância da midiaeducação na formação de crianças e jovens.

Ao falar sobre cultura e literatura, a professora Heloísa Buarque de Hollanda voltou seu discurso para a favela, a periferia. “Era problema no passado, mas apresentou-se como potência. A estética da periferia está em movimento, é pop, e aposta na inovação muito mais do que os co-workings dos ‘playboys’”, comentou a educadora, antes de apresentar o projeto de extensão e pesquisa Universidade das Quebradas, do PACC/ FCC/UFRJ, coordenado por ela.


Heloisa Buarque de Hollanda ressalta a potência da cultura da periferia.

O projeto, que existe há 12 anos, tem como objetivo promover a produção de conhecimento e de criação artística, estimuladas pelo encontro e pelo diálogo entre a comunidade acadêmica brasileira, produtores de cultura e artistas da periferia. Assim, é oferecida formação ampliada por meio de encontros presenciais e virtuais.

“A Academia não tem noção do que se passa na periferia, fala sobre o que não conhece. As teses, em geral, se reduzem a uma fala sobre ‘o outro’. Escolhi o salão dourado, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, lugar nobre da universidade, para a periferia entrar afirmando-se como sujeito. Fazendo um curso pago por eles, já que pagam impostos”, destacou Heloísa.


Para Nádia Rebouças, é fundamental que crianças e jovens tenham uma visão crítica das mídias.

Maria Arlete Gonçalves, por fim, reforçou a necessidade de professores e gestores buscarem novos caminhos para a escola de hoje, que apresenta demandas diferentes das do  passado. “Não posso nem dizer para pensarem fora da caixa porque, hoje, não existe mais ‘caixa’. Lembrando que a compreensão de ensino passa pela escuta e por aceitar se transformar”, concluiu.

Educação Infantil e neurociência

À tarde, Maria Leonor Pio Borges de Toledo, PhD em Educação pela PUC-Rio, falou sobre Criança, experiência e memória: por um cotidiano significativo na Educação Infantil. Carla Tieppo, doutora em Farmacologia pela USP e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, apresentou a reflexão Potências e fragilidades na adolescência: as duas faces da mesma moeda.

Maria Leonor enfatizou que na Educação Infantil temos crianças e não alunos, e que o currículo não deve ser pensado como preparatório para o Ensino Fundamental. Para ela, a atual organização do tempo, do espaço e do currículo desumaniza as pessoas envolvidas no processo – crianças e professores. “Sentar com perna de chinês, calar, abaixar a cabeça – a rotina não deve massacrar os envolvidos, engessá-los. O controle corporal excessivo – cadeira, mesa, papel – deve ser evitado. “Quanto menor a criança, maior é a sua necessidade de se expressar por meio de um ato motor, cinético. A escola precisa oferecer experiências que criem significados, que gerem desenvolvimento. Experiências estéticas e de prazer. A Educação Infantil deve permitir que as crianças brinquem. Desse modo, elas constroem conhecimento sobre si, o outro e o mundo.”

A pesquisadora disse que “as relações sociais das crianças se transformam em funções mentais. Elas estão moldando sua subjetividade. É preciso levar em consideração as singularidades de cada uma, não padronizá-las. O papel do professor é imprescindível, favorecendo as trocas e mediando as relações, incentivando a cooperação e a solidariedade. Cabe a ele propor a ampliação do repertório. É preciso flexibilidade para permitir o novo, de acordo com os interesses das crianças. Acolhê-las e aprender a subverter com elas.”

Segundo Maria Leonor, o currículo da Educação Infantil não deve ser pautado em conteúdos a priori e datas comemorativas, mas basicamente no brincar, de acordo com o patrimônio cultural circundante, e no oferecimento de literatura infantil que aborde questões humanas com expressões plásticas diversas.

Potências e fragilidades na adolescência: as duas faces da mesma moeda

“Na adolescência, o cérebro praticamente dá um 'reset', impelindo o jovem a investigar o mundo para além do que lhe é familiar”. Desse modo Carla Tieppo descreveu a transformação biológica que leva o corpo infantil à juventude. “É preciso apaziguar a ebulição emocional do adolescente para que ele possa aprender. Precisamos contribuir com o seu amadurecimento e não apenas passar o conteúdo previsto. Possibilitar a interiorização deles de forma genuína ajuda nesse processo.”

Pesquisa publicada na Revista de Saúde Pública da USP, em 2014, mostrou que o número de adolescentes com ansiedade e depressão a partir de 12 anos é alto, atingindo, em média, 45% das meninas com 17 anos. Os meninos também são afetados, mas em menor escala. O levantamento foi feito em cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. “As sociedades ocidentais pressionam excessivamente por resultados. É preciso intervir precocemente ao identificar o sofrimento. A ansiedade pode levar à depressão e a comportamentos de risco, seja sexual ou com entorpecentes”.

De acordo com Carla Tieppo, muitas sinapses da região cerebral chamada córtex pré-frontal, que nos distingue dos outros animais e nos permite imaginar e pensar sobre o futuro, são perdidas durante a adolescência, e só voltam a se consolidar ao final desta fase. A capacidade de caracterizar as pessoas para além do seu papel social também é incrementada nesse momento da vida. Há uma ampliação da capacidade emocional do sujeito. “É importante notar que potência não é igual a facilidade. A realização do sujeito não está relacionada com a facilidade com a qual ele realiza algo, mas sim com o que o emociona, com o que o faz liberar serotonina.”, explica Carla.

Tieppo concluiu dizendo que com o amadurecimento, um cérebro saudável é capaz de aprender com o passado, fazer previsões sobre o que pode acontecer de acordo com o modo como se comporta e, desse modo, existir no mundo. “Temos que aprender a lidar com um sistema emocional pré-histórico para que nossas emoções nos levem aonde quisermos ir. O desenvolvimento do adolescente deve ser integral. O conteúdo é um meio para levá-lo a alcançar outros objetivos. Não devemos especializá-los precocemente.”

 
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