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Resgate da história indígena
22 Outubro 2018 | Por Larissa Altoé
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José Ribamar Bessa Freire, 70 anos, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação da Uerj e é professor de pós-graduação em Memória Social da Unirio. Boa parte de sua carreira foi dedicada a descobrir fontes primárias que contam a trajetória dos primeiros habitantes do Brasil e a ajudar na inserção de indígenas na sociedade brasileira. O Portal MultiRio conversou com Bessa – como é conhecido por seus alunos – sobre as descobertas de 40 anos de pesquisa e seu trabalho de formação de professores indígenas.

Portal MultiRio: Por que o senhor começou a pesquisar sobre indígenas?

José Ribamar Bessa Freire: Sou de Manaus, sempre me interessei pela questão indígena, minha tese de doutorado é sobre as línguas indígenas no Amazonas. Na década de 1990, já morando no Rio, coordenei aqui uma equipe de 12 pesquisadores em um projeto de pesquisa de âmbito nacional. Foi para uma publicação da USP, com financiamento da Fapesp. O historiador John Monteiro – já falecido – e a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha queriam verificar se a ideia que havia na época de que não existia uma História Indígena – nem nas faculdades de História –, porque esses povos não haviam deixado documentos escritos, era verdadeira. O fruto desse trabalho foi a publicação Guia de fontes para a História Indígena e do Indigenismo em arquivos das capitais  brasileiras. O Rio foi capital do Brasil por dois séculos; 25 grandes arquivos daqui formam dois terços dessa obra.

A partir daí, identifiquei que havia 15 cidades do interior fluminense que surgiram onde havia aldeias. Consegui novo financiamento via Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE – para pesquisar os documentos de paróquias, câmaras e cartórios municipais desses municípios. Dessa vez, a equipe era formada por seis alunos da Uerj e fizemos um levantamento dos documentos sobre indígenas em cidades como Resende, Valença, São Fidélis e Santo Antônio de Pádua. Publicamos o livro paradidático Os aldeamentos indígenas do Rio de Janeiro, muito útil para professores do Ensino Fundamental.

O meu objetivo em todos esses anos de pesquisa foi resgatar uma memória apagada, fazer com que aflore. Hoje em dia, oriento teses de mestrado e doutorado sobre indígenas no Rio de Janeiro, na Unirio.

PM: Qual foi sua principal descoberta durante as pesquisas?

Bessa: A invisibilidade dos indígenas. Deleuze [filósofo francês] diz que o contrário da lembrança não é o esquecimento. É o esquecimento do esquecimento. Ou seja, não termos consciência de que esquecemos. O país não quer ser lembrado de que o indígena foi formador de nosso povo, de nossa nação.

PM: Como é o seu trabalho de formação de professores indígenas?

Bessa: O artigo 231 da Constituição de 1988 afirma o direito dos indígenas de viverem de acordo com seus costumes. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB –, de 1996, garante uma escola diferente para os indígenas, que deve ser bilíngue, ensinando a língua materna indígena e a Língua Portuguesa como segunda língua. De acordo com a LDB, o currículo das escolas indígenas deve trabalhar tanto a sociedade como os saberes tradicionais, usando pedagogias próprias, sejam yanomami, guarani etc.

O Censo Escolar Indígena do MEC, de 1999, encontrou 2.323 escolas indígenas no Brasil e 8.431 docentes trabalhando nelas, dos quais estima-se que 90% sejam indígenas. Eu ajudo a formar professores para essas escolas, com reconhecimento oficial das secretarias estaduais equivalente ao Ensino Médio/Magistério.

Já formei professores guarani no Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo e Rio de Janeiro, professores ticuna no Alto Solimões e professores de nove etnias diferentes no Acre. Também dou aulas para professores indígenas no Ensino Superior. São módulos de História e Literatura Oral em diferentes universidades que possuem licenciaturas interculturais para indígenas – UFSC, Ufes, UFMG, Ufam. São 30 universidades no total que possuem esse tipo de licenciatura. Desenvolvo esse trabalho de formação de professores indígenas durante minhas férias de julho e de fim de ano.

 
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