“A Educação Infantil não tem o objetivo de alfabetizar as crianças, no sentido de que aprendam as vogais, repetindo-as, ou que saiam alfabetizadas desse período na escola. Trata-se de proporcionar uma imersão em nosso mundo, privilegiando a literatura, a música, os quadrinhos etc. Vivenciando materiais e repertórios culturais com as professoras, as crianças têm experiências de leitura e escrita adequadas à Educação Infantil”, explica Cátia Cirlene, gerente de Educação Infantil (EI) da SME-Rio.
A gerência de EI promoveu no primeiro semestre de 2022 o curso “O Lugar da Alfabetização na Educação Infantil” para professores regentes da pré-escola por meio da plataforma da Escola de Formação Paulo Freire. No segundo semestre de 2022, o mesmo curso será oferecido para todos os professores que atuam na EI, assim como gestores, coordenadores pedagógicos e professores articuladores. Não há limite de vagas e o curso também será dado pela EPF, modalidade EAD. As inscrições estão previstas para começar em 5 de setembro. É preciso fazer login na plataforma para realizar a inscrição e acompanhar as atividades.
Módulos do curso na EPF
O curso é constituído de três módulos: Mód. I - O que não é alfabetização na EI; Mod. II - Perspectiva discursiva: linguagem, interação e aprendizagem na EI; Mod. III - A alfabetização na perspectiva discursiva e as experiências no cotidiano da EI. Cada módulo é composto por três aulas em formato ebook e/ou videoaula, mais atividades de avaliação e uma live. O objetivo do curso é possibilitar o debate e a reflexão acerca das concepções de infância, de criança, de desenvolvimento e de aprendizagem que fundamentam as diferentes abordagens de alfabetização na Educação Infantil.
Cátia Cirlene destacou que o Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil, do MEC, foi referência para a formatação do conteúdo do curso na EPF. “Fizemos uma formação mais objetiva e condensada para a plataforma da Escola de Formação Paulo Freire, a partir do material do MEC. A Coordenação Geral de Educação Infantil do MEC adota, nesse material, a perspectiva da linguagem, segundo a qual é por meio dela que a criança se coloca e está no mundo. É também por meio da linguagem que a criança pode ampliar sua experiência no mundo, segundo essa linha de pensamento”, explicou Cátia.
Bruna Moraes, que leciona no EDI Professor Rubem Gonçalves (10ª CRE), em Santa Cruz, é uma das professoras do município que atuam nessa perspectiva. “Quando entrei na Rede me incomodava lecionar baseada nas atividades com folhas A4, mas na época eu não tinha outra visão, não sabia como me desvencilhar dessa prática. Comecei a pesquisar e estudar sobre o assunto. Isso me levou a refletir sobre minha própria prática. Dois livros, em especial, influenciaram o modo como leciono hoje em dia: Além da A4 - Minúcias da vida cotidiana no fazer-fazendo da docência na Educação Infantil, de Altino José Martins Filho; e Educação Infantil como direito e alegria – em busca de pedagogias ecológicas, populares e libertárias, de Lea Tiriba.
Protagonismo infantil
Bruna, atualmente, leva para as crianças uma proposta de elas serem protagonistas no processo de aprendizagem. A busca da professora é pelo desenvolvimento das potências e possibilidades das crianças, respeitando a etapa da Educação Infantil. Diz ela: “não fazer da EI um preparatório para o Ensino Fundamental. Acredito em projetos, vivências, práticas, no “desemparedamento” infantil por meio de vivências no quintal, na horta. Minha turma brinca todos os dias”.
E é assim, por meio de brincadeiras e interações em espaços ao ar livre da escola, com árvores, passarinhos etc, que as turmas para as quais Bruna leciona também interagem com a leitura e a escrita.
Se a atividade é voltada ao aprendizado de como se escreve o próprio nome e os dos colegas, por exemplo, as crianças levam para o quintal fichas com os nomes dos alunos escritos nelas e brincam de achar o nome de um colega entre todas as fichas.
Se está sendo preparada uma festa no EDI, a turma faz coletivamente um convite. A professora Bruna é a escriba que transpõe para o papel a mensagem que as crianças querem que esteja no convite.
Outro dia, pode ser a receita de bolo de cenoura. As crianças colhem a cenoura da horta da escola, preparam o bolo e o saboreiam.
“Dessa maneira, as crianças entendem que o que é falado pode ser registrado por meio da escrita, seja escrevendo nomes, convites ou receitas. A escrita aparece como um registro do que viveram. Por meio das vivências com leitura e escrita na EI pode acontecer da criança se alfabetizar, mas o objetivo da etapa não é ser alfabetizado, não é uma imposição” explica Bruna.
Detalhes do material referência do MEC
O Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil, do MEC, foi elaborado em parceria com especialistas da UFMG, UFRJ e UniRio. Trata-se de um PDF dividido em 8 cadernos que detalham as possibilidades de trabalho docente, com orientações pedagógicas, contemplando a oralidade, a leitura e a escrita. As ilustrações são de Graça Lima, Mariana Massarani e Roger Melo, com autorização para uso em atividades educativas.
A seguir, indicamos um pouco do que há em cada um dos 8 cadernos:
Caderno 0 - apresenta o material, elaborado como um curso de formação para professores.
Caderno 1 - propõe a reflexão sobre as relações entre docência, linguagem e cultura escrita.
Caderno 2 - apresenta a possibilidade de integração de produções culturais e das diferentes mídias ao trabalho pedagógico: literatura, música, dança, teatro, cinema, TV, brinquedos etc.
Caderno 3 - aprofunda a discussão sobre linguagem e cultura escrita.
Caderno 4 - mostra como os bebês se relacionam com uma cultura marcada pela linguagem escrita, pois, como disse Paulo Freire, “a leitura de mundo precede a leitura das palavras”.
Caderno 5 - mostra a importância da produção das crianças e apresenta possibilidades de trabalho junto às crianças de 4 e 5 anos.
Caderno 6 - aborda como é possível desenvolver experiências curriculares, com o foco na ação das crianças, a partir de diferentes linguagens.
Caderno 7 - orientações para lidar com o Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE, política pública de leitura e de distribuição de livros do governo federal para escolas de todo o país.
Caderno 8 - a relação entre as famílias e as profissionais que atuam em instituições de Educação Infantil, apresentando propostas para a formação de pais e crianças leitores.
“A Gerência de EI da SME referenda o Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil, do MEC. Os livros sugeridos e as discussões propostas são muito interessantes”, resumiu Cátia Cirlene.