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João do Rio: o cronista da belle époque carioca
23 Maio 2013 | Por Sandra Machado
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Joaodorio 2Mestre da crônica como registro de época, o jornalista fez uma verdadeira etnografia do Rio de Janeiro nos anos 1910 e 1920, transitando desde as altas esferas sociais até os grupos mais marginalizados. Observador atento das mudanças promovidas em prol da modernização da cidade, João do Rio retratava o impacto do progresso – como, por exemplo, a rápida incorporação do cinema ao cotidiano carioca – e descrevia ambientes onde, até então, nenhum repórter tinha se aventurado, como os terreiros de candomblé e umbanda. Eleito em 1910 para ocupar a cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL), João do Rio foi o primeiro a tomar posse usando o famoso “fardão dos imortais”. Seu perfil na página da ABL o descreve como “o primeiro homem da imprensa brasileira a ter o senso da reportagem moderna” e também como “o maior jornalista de seu tempo”, além disso, dá nome ao Ciep João do Rio, em Guadalupe (6ª CRE).

Segundo Zuenir Ventura, nenhum jornalista antes de João do Rio havia ousado tanto na apuração: ele subiu os morros da cidade, entrou em presídios e circulou por áreas de concentração de dependentes do ópio, que era, então, a droga mais usada. Foi também o primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, fundada em 1917, no Rio de Janeiro – que a partir de 2002, passou a se chamar Sociedade Brasileira de Autores (Sbat), e é pioneira na defesa dos direitos autorais no país. Durante mais de 20 anos de atividade profissional, ele colaborou com periódicos no Rio, São Paulo e Portugal, como O Paiz, A Tribuna, Gazeta de Notícias, Correio Mercantil, O Tagarela, A Ilustração Brasileira, O Coió e A Revista da Semana.

Entre fevereiro e abril de 1904, realizou uma sequência de reportagens sobre as religiões do Rio, inclusive quatro matérias inéditas sobre cultos afro-brasileiros. A série despertou tanto interesse do público que o autor decidiu publicar, meses mais tarde, o livro As Religiões do Rio. Considerada uma referência para a pesquisa da Antropologia e da Sociologia, a obra superou a marca de 8 mil exemplares, vendidos em seis anos, numa fase em que o país tinha um altíssimo índice de analfabetismo – cerca de 65% da população acima de 15 anos de idade. Poucos anos depois, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) viria a reconhecer o valor antropológico dos terreiros de candomblé, em 20 de maio de 1907. Graças às suas reportagens, aconteceu o primeiro concurso carnavalesco na cidade: a Festa dos Cordões, na qual atuou como um dos três juízes. O jornal Gazeta de Notícias instituiu o evento em 1906, numa tentativa de civilizar os cordões populares e dar a eles um nível mais aproximado do carnaval da elite, inspirado nos modelos europeus.

Embora tenha nascido no Rio de Janeiro no dia 5 de agosto de 1881, só 22 anos mais tarde, em 26 de novembro de 1903, Paulo Barreto daria lugar a João do Rio. Com este pseudônimo, assinou boa parte de seus mais de 2.500 textos, entre peças teatrais, críticas literárias, contos, crônicas e traduções. Da primeira vez, usou o nome que o imortalizou para assinar o artigo O Brasil Lê, uma enquete sobre as preferências literárias do leitor carioca publicada no jornal Gazeta de Notícias. Batizado como João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, Paulo Barreto assinava sua produção sob diversos heterônimos. Claude, Caran d’ache, Paulo José (o alter ego político), o Máscara Negra (crítico teatral), além de Godofredo de Alencar (que também virou personagem) eram todos tipos que surgiam bem de acordo com sua multifacetada personalidade e interesses.

José Antônio José, por exemplo, foi um cronista da alta sociedade carioca, a quem é atribuída a coluna Pall-Mall Rio, que publicou 225 crônicas no jornal O Paiz entre 25 de setembro de 1915 e 4 de janeiro de 1917. Os textos deram origem ao livro de mesmo nome, lançado em 1917, no qual se lê, na página 19: “(...) o trottoir roulant por onde passa o Rio inteiro, o Rio anônimo e o Rio conhecido, lustrado pela luz do inverno que faz ressaltar os prismas belos e apaga a fealdade. Não há gente desagradável, como não há automóveis velhos. Ninguém os vê. Os olhos estão nas mulheres bonitas, nos homens bem vestidos, nos automóveis de luxo. É um desfilar de ópera”.

Uma de suas personas mais originais, no entanto, foi Joe, entusiasta do progresso, que assinava a coluna Cinematographo, publicada aos domingos, entre 11 de agosto de 1907 e 18 de dezembro de 1910, no jornal Gazeta de Notícias. O material acabou gerando o livro Cinematographo: Crônicas Cariocas (1909), no qual denunciava, por exemplo, a prática da mendicância com exploração de crianças ou o aviltamento salarial do trabalhador comum. O nome da seção não poderia ter sido mais oportuno: somente entre agosto e dezembro de 1907, foram abertas 18 salas de cinema no Rio, a maioria na Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Além do mais, a crônica parecia um instantâneo tão fugidio quanto as imagens cinematográficas e, de certa forma, os contornos da metrópole.

Paulo Barreto teve, coincidentemente, uma vida breve. Muito provavelmente devido à obesidade, ele faleceu aos 39 anos dentro de um táxi, vitimado por um infarto agudo, no dia 23 de junho de 1921. Estima-se que mais de 100 mil pessoas tenham ido se despedir no funeral do jornalista, que era uma verdadeira celebridade. O enterro foi realizado no Cemitério de São João Batista, no bairro de Botafogo, no Rio, onde a Rua Paulo Barreto foi batizada em sua homenagem.

 
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