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CRÔNICA: uma jornalista pela toca do coelho
A jornalista Kamilly Paiva, do Jornal EMOT, escreve sobre sua experiência pessoal no 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da JEDUCA que ocorreu em São Paulo nos dias 02 e 03 de setembro de 2024.
por Kamilly Paiva
20/09/2024
Créditos ao(s) autor(es).

Numa manhã, na escola, a Mari, nossa coordenadora e professora orientadora do Jornal EMOT, me chamou para conversar. Ela me contou que havíamos sido convidadas para participar de um congresso em São Paulo: o Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Associação Brasileira de Jornalistas de Educação. A Mari me perguntou se eu me sentia confortável para participar, já que falaria para muitas pessoas. Eu aceitei o desafio e fui!

No dia 02 de setembro, eu e minha mãe saímos de casa ainda de madrugada. Encontramos a Mari e chegamos no aeroporto bem cedo. Embarcamos por volta de 6h50 da manhã e quando entrei no avião, tudo que eu havia imaginado sobre a viagem começou a se desenhar. Estava prestes a chegar além das nuvens! A sensação do avião subindo, o frio na barriga... É algo surreal de se explicar. No início, senti medo, depois, achei incrível.

Ao chegar no evento, fui muito bem recebida: ganhei mochila, chocolate e fui tomar café da manhã no camarim. Já chegamos tirando fotos e iniciando a cobertura para o jornal. Nunca imaginei que um dia estaria ali, em São Paulo, numa famosa avenida da cidade. Isso, aliás, pensei depois. Depois que pisei na FECAP, instituição onde o evento aconteceu, não consegui pensar muito, o nervosismo começou a tomar conta.

Ainda no camarim, comendo alguns petiscos, pude começar a ouvir os sons da plateia e dos palestrantes que falavam naquele momento; os sons se misturaram na minha mente e pensei que tudo daria errado. Então, levantei, troquei de roupa, respirei fundo, repeti que conseguiria enfrentar meus medos e voltar para casa orgulhosa. Após assistir algumas palestras, chegou minha vez. Consegui ouvir o mundo ficar em silêncio por um momento. Apenas meu nome ecoava, ele ecoava por caixas de som instaladas no teto, através de uma voz feminina suave e agradável: "Kamilly Paiva".

Os sons de palmas começaram a entrar em meus ouvidos, fazendo eu perceber que era tudo verdade, que não era um sonho. Ao subir os degraus, sentei-me ao lado da Mari, minha coordenadora, e respirei fundo. Segurei aquele microfone fortemente em minhas mãos, com um único pensamento: "se eu errar uma só palavra, eu nunca mais quero subir em cima de nenhum palco".

O perfeccionismo dominava minha mente, porém, assim que a primeira pergunta foi feita, eu me decidi: eu não precisava ser perfeita, precisava ser eu. Se não fosse naquele momento, quando seria? Comecei a responder as perguntas com fluidez e até ironia, do jeito que sempre converso com minhas amigas. Entre tantos pensamentos, busquei a calma. As luzes que iluminavam o palco me lembravam que eu estava sozinha ali, junto com as pessoas no palco e minha mãe na plateia.

Em minha mente, as risadas e palmas não existiam, era apenas um longo silêncio, e uma pequena melodia musical ao fundo. A música me acalma e, naquele momento, estar no palco, acima de tudo, fez meu coração cantar.

Após sair do palco, o som novamente se fez presente, tudo voltou a ser normal, estranhamente normal. Digo estranhamente pois nada do que estava acontecendo naquele dia pertencia ao meu cotidiano. Tudo ali era tão diferente, tão longe da minha realidade... Eu não estava acostumada com tudo que estava vivendo, mas eu queria tanto viver! Eu queria tanto ser aquela jornalista no palco. E fui. Eu estava no local perfeito pra mim. É como disse a palestrante Silvia Bacher: todas as crianças e adolescentes deveriam ser estrelas, todas deveriam brilhar. Assim, mesmo sabendo que logo aquele momento iria acabar, eu quis acreditar que não iria embora tão cedo.

Durante o almoço, diversas pessoas vieram me cumprimentar e elogiar minha performance na palestra. Agradeci com muita gentileza e sorrisos verdadeiros, me senti uma verdadeira estrela: radiante. Após o almoço, retornamos às palestras, que foram muito interessantes; foi uma oportunidade única, pois escutei sobre temas que não aprenderia na escola, ao menos não daquele jeito. Após as palestras, fomos participar de um lanche na área externa. Neste momento, de trocas e conversas, conheci duas simpáticas estudantes da Universidade Federal de São Carlos! Elas eram lindas, carismáticas e fizeram perguntas sobre a desinformação na sociedade (tema da mesa que participei). Uma entrevista curta, porém, muito interessante, já que todos deveríamos estar falando sobre os problemas causados pela desinformação. Após tantas entrevistas e gravações para a cobertura Jornal EMOT e da ANDAR, fomos embora para o hotel.

Ficamos num hotel na Avenida Paulista. O hotel era muito bonito e chique. Nunca havia visto nada igual – talvez seja porque eu nunca tivesse entrado num hotel. Foi mais uma experiência que vivi. Ao deitar, me senti muito cansada. Não foi um sono gostoso e sim um sono necessário. Um sono após um sonho. Após acordar, tomamos café e começamos a nos despedir de São Paulo. O congresso JEDUCA continuaria por mais aquele dia, mas nós estávamos de malas prontas.

Durante toda a viagem de volta, eu só pensava em uma cena: enquanto eu falava segurando fortemente o microfone. Talvez seja estranho, mas me senti tão bem naquele instante... Eu sempre fui uma daquelas garotas do "encontre seu sonho", "encontre o reflexo da sua alma" e coisas do tipo... Então, durante aquele voo, fiquei me perguntando: então, é assim que se encontra um sonho? Será que aquele microfone também é um reflexo da minha alma?

Quando cheguei, apenas deixei minha mente descansar. Ela estava lotada. Já se passaram cerca de 15 dias e não sei descrever tudo o que senti. É como se eu fosse a Alice, que acabou de sair da toca do coelho, voltado ao mundo normal... É como se aquela viagem tivesse sido a ida ao país das maravilhas. Retornei: o mundo é ambíguo e chato, mas eu também estou aqui para transformá-lo.