Entre os corsários franceses e os aliados ingleses
Era o ano de 1711. Protegido por um forte nevoeiro, o corsário francês Duguay - Trouin transpôs a barra da baía de Guanabara. Invadiu a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro pondo em risco a vida de seus habitantes, contestando o domínio do rei de Portugal sobre o porto do Rio de Janeiro e ameaçando avançar sobre a região das Minas, ainda sob precário controle das autoridades portuguesas.
Desta vez, porém, foi diferente. Amedrontado, o governador Francisco de Castro Morais fugiu, sem esperar o auxílio militar que vinha das Minas. Duguay - Trouin saqueou a cidade e ainda impôs a seus moradores um oneroso resgate: 610 mil cruzados, cem caixas de açúcar e duzentos bois!
Quando Duguay - Trouin partiu, muitos dos habitantes do Rio de Janeiro voltaram a comentar que, se aquela "porta" da cidade que se abria para o mar favorecia a entrada de notícias, pessoas e mercadorias - como escravos negros -, permitia também a entrada de forasteiros, doenças e corsários, provocando-lhes medo.
Naquele momento, porém, o que os habitantes da cidade não podiam imaginar - assim como os de outras possessões portuguesas na América - é que os ataques de corsários franceses não se repetiriam. Depois de 1711 não mais ocorreram incursões de corsários e invasões estrangeiras no litoral brasileiro.
Se o combalido Reino dos Bragança pôde, desde então, garantir segurança aos súditos e preservar suas possessões na América foi porque contava com a proteção política e diplomática dispensada pela Inglaterra. Entretanto, a proteção britânica não era suficiente para eliminar os muitos focos de tensão e atrito com a monarquia espanhola. Tais focos, localizados tanto no continente europeu quanto no mundo colonial americano, agravaram-se após a subida dos Bourbon ao trono espanhol, no início do século XVIII, quando os reis da Espanha passaram a contar com a proteção política e diplomática da França.
Não sabendo se contaria para sempre com a proteção britânica, a Coroa portuguesa procurou garantir de forma mais efetiva as comunicações entre a Colônia do Sacramento e Laguna. Por isso, nas primeiras décadas do século XVIII, intensificou a ocupação do litoral meridional. |