Música rima com festa. Por isso, o Portal MultiRio homenageia os 450 anos da Cidade Maravilhosa com a série Rio de Música, sobre os gêneros musicais cariocas. Lundu, maxixe, marchinha de carnaval, choro, samba e bossa nova ajudam a retratar o espírito de época e contar as transformações sociais pelas quais o Rio tem passado.
Apesar de o carnaval carioca estar se abrindo a outras influências, e, há alguns anos, animar os foliões até mesmo ao som dos Beatles, não existe baile, no Rio de Janeiro, que não enfileire as velhas marchinhas, se quiser esquentar mesmo o público. Gerações e gerações de brasileiros conhecem, de cor, as letras e a graça de um dos nossos mais genuínos produtos culturais.
Marcha é um ritmo que, historicamente, serve para marcar os passos dos pelotões de infantaria. Sua primeira formatação artística chegou ao Rio de Janeiro com as companhias portuguesas de teatro, ainda no século XIX. Mas foi na cidade que o estilo passou por uma total reformulação, ganhou seu tom satírico e crítico das mazelas sociais. Pedro Paulo Malta, jornalista, pesquisador musical e cantor, afirma que a marchinha é uma forma criativa de resolver um assunto, de maneira sucinta e bem-humorada, como se fosse um cartum.
A primeira marcha escrita especialmente para o carnaval é de autoria de Chiquinha Gonzaga. Composta para o Rosa de Ouro em 1899, Ó abre alas deu ao rancho a vitória naquele ano. Pedro Paulo Malta relata o ambiente propício à composição: “Um cordão ensaiava perto da casa da Chiquinha, no Andaraí, e ela resolveu reproduzir o toque daquele batuque no piano. Surgia a primeira canção carnavalesca. Chiquinha Gonzaga era uma defensora da música popular brasileira, numa época em que só era considerado cultura o que vinha de fora”.
Depois de absorver influências de gêneros os mais variados – como o lirismo da modinha e até mesmo a marcação do charleston norte-americano – a marchinha tomou grande impulso. José Francisco de Freitas, conhecido como Freitinhas, costumava contratar músicos para irem às ruas e às batalhas de confetes ou desfiles de cordões para divulgar suas obras. Só a partir do sucesso estrondoso de Ó Pé de Anjo, de José Barbosa da Silva, o famoso Sinhô, em 1920, é que os músicos profissionais se atentaram para o filão de compor canções especialmente para os festejos de Momo. Junto com esse interesse, o andamento da marcha também se acelerou e, finalmente, Freitinhas emplacou seu único grande hit: Dorinha, Meu Amor, que estourou no carnaval de 1928, na voz de Mário Reis.
Dois anos mais tarde, a gravadora Casa Edison organizou um concurso que premiou um dos maiores nomes do cancioneiro carnavalesco no país: Ary Barroso, primeiro lugar pela autoria da marcha Dá Nela. Em 1932, foi a própria Prefeitura quem assumiu a realização da disputa. Mecanismos de divulgação bem mais eficazes foram o rádio e o cinema, que logo se apropriaram de uma inesgotável produção carioca de marchinhas, e as espalharam por todo o Brasil. Por isso mesmo, desde 2005, a Fundição Progresso realiza o Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas, que, a cada ano, homenageia um grande artista cuja história esteja ligada à folia. O Prêmio Cidade Maravilhosa da décima edição do evento coincide com a celebração pelos 450 anos de fundação do Rio.
A marcha-rancho
De acordo com a Enciclopédia da Música Brasileira, a variação da marcha-rancho começou com a performance de instrumentistas, predominantemente de sopro, no fim dos anos 1910. Seu ritmo era algo mais dolente do que o das marchas comuns e os compositores costumavam indicar, nas partituras, a referência ao nome do estilo para orientar a execução. Mas a canção que simboliza a marcha-rancho só seria escrita em 1934, numa parceria de Noel Rosa e Braguinha. Gravada por Sílvio Caldas no fim de 1937, depois da morte de Noel, As Pastorinhas foi considerada pelo público a melhor marchinha de carnaval do concurso realizado pela Prefeitura no ano seguinte, desbancando Touradas de Madri, também de autoria de Braguinha com o parceiro Alberto Ribeiro.
Na época de ouro das marchinhas, vários grandes compositores se destacaram: Lamartine Babo, Nássara, Wilson Batista, Haroldo Lobo e, já nos anos 1960, João Roberto Kelly. Do panteão dos cantores fazem parte Francisco Alves, Orlando Silva, Emilinha Borba, Marlene, Linda e Dircinha Batista, e as também irmãs Aurora e Carmen Miranda. O primeiro sucesso da Pequena Notável, aliás, foi a marchinha Taí, de Joubert de Carvalho. Festa do Interior, de Braguinha e Alberto Ribeiro, relançada por Gal Costa em 1983, também já tinha sido gravada por Carmen em 1937.
Por sorte, a marchinha continua viva, e não apenas nos dias de folia e brincadeira. Sempre é possível matar a saudade ou apresentar às novas gerações toda sua irreverência com a ajuda de CDs, DVDs e, principalmente, do teatro. Um bom exemplo é o musical Sassaricando – E o Rio Inventou a Marchinha. Escrito pela historiadora Rosa Maria Araújo e pelo jornalista Sérgio Cabral, o premiado espetáculo estreou no SESC Ginástico em 2007 e, depois de percorrer todo o país, sem jamais sair de cartaz, está de volta à cidade, para celebrar os 450 anos do Rio à altura. Isso tudo sem deixar de fora Cidade Maravilhosa, marchinha do carnaval de 1935, de André Filho, eleita como hino oficial por unanimidade.
24/03/2015
Um dos mais conhecidos produtos de exportação da indústria cultural brasileira, a bossa nova teve origem nos bairros da Zona Sul do Rio de Janeiro, no fim dos anos 1950.
Rio de Música
17/03/2015
Atribui-se o mérito da criação do choro no cenário musical carioca ao surgimento de uma classe média urbana, predominantemente negra, composta por pequenos comerciantes e funcionários públicos.
Rio de Música
03/03/2015
Em 1902, o primeiro maxixe era gravado na Casa Edison – Sempre Contigo, de autoria ignorada. Mas o gênero musical já se desenvolvia na cidade desde a década de 1870.
Rio de Música
24/02/2015
Muito popular já em meados do século XVIII, o ritmo é fruto de uma mistura cultural única e traz em sua gênese influências dos escravos angolanos, dos espanhóis e dos portugueses.
Rio de Música
10/02/2015
O convívio de várias etnias – em especial bantos, jêjes e nagôs – fez do Rio de Janeiro o lugar ideal para a ocorrência de uma mistura musical única. Diante da repressão à realização de suas festas, os negros respondiam com uma rede inventiva e solidária, da qual o gênero se origina.
Rio de Música