Nos dias atuais, o universo da caricatura continua sendo um reduto essencialmente masculino. Mas, no início do século XX, uma jovem contrariou as expectativas e se tornou colaboradora de diversas publicações: O Binóculo, Careta, O Malho e Fon-Fon. A última revista chegou a inaugurar uma seção chamada Galeria das Elegâncias, na qual as mais distintas senhoras da sociedade carioca eram desenhadas por Nair de Teffé. Em pouco tempo, seu dom era reconhecido também em Paris, onde foi convidada a publicar no jornal Excelsior e nas revistas Fantasio, Le Rire e Femina. Graças à boa repercussão, recebeu do governo francês o grau de Officier de l’Instruction Publique, título que a autorizava não apenas a lecionar, mas também a abrir escolas em território francês.
Boa formação e vanguarda
Nair de Teffé nasceu em 1886, em Niterói, filha de Antônio Luís von Hoonholtz, o Barão de Teffé, e de Marie Louise Dodsworth. Passou a maior parte da infância e da adolescência entre a Bélgica, a Itália e a França, estudando nos melhores colégios, onde aprendeu a pintar e a desenhar. Educada na Europa e oriunda de uma família liberal, aos 19 anos retornou ao Brasil, indo morar em Petrópolis, quando começou a levar mais a sério a arte da caricatura.
Excelente pianista e cantora, em 1912 estreou como atriz na peça Miss Love, de Coelho Netto, escrita especialmente para ela. Após mais um sucesso – com a comédia Longe dos Olhos, de Leopoldo Fróes –, montou sua própria companhia teatral, a Troupe Rian, que destinava os ganhos para obras assistenciais. Naquele mesmo ano, conheceu Hermes da Fonseca, durante exposição individual de suas caricaturas num salão do Jornal do Comércio. Viúvo, em breve o marechal pediria aquela moça irreverente em casamento, realizado no dia 8 de dezembro de 1913. Como o presidente estava no exercício do mandato (1910-1914), a cerimônia foi cercada de toda a pompa e circunstância, e a festa, realizada com a presença da alta sociedade, do corpo diplomático e de vários chefes de Estado.
Uma vida de altos e baixos
Em 26 de outubro de 1914, desafiando o protocolo, organizou um recital de modinhas no Palácio do Catete, que ficou conhecido como a noite do Corta-Jaca, no qual ela mesma executou, ao violão, este maxixe de Chiquinha Gonzaga, o que gerou duras críticas de Rui Barbosa. O tenso fim de mandato de Hermes da Fonseca e um acidente sofrido por Nair de Teffé levaram o casal a uma temporada na Europa. Mas o retorno ao Brasil, em 1920, lhes reservava um destino trágico.
Em junho de 1921, o marechal tomou posse da presidência do Clube Militar. Intrigas políticas levaram o presidente Epitácio Pessoa a mandar fechar o clube e determinar a prisão de Hermes da Fonseca, em 2 de julho de 1922. Mesmo tendo sido libertado depois de 24 horas, o evento gerou uma reação por parte de jovens oficiais, que iniciaram o levante conhecido como a Revolta dos 18 do Forte. Hermes da Fonseca foi preso novamente e liberado apenas em janeiro de 1923, vindo a falecer naquele mesmo ano.
Militância sem trégua
Viúva aos 37 anos, Nair de Teffé continuou a expressar sua opinião divergente da mentalidade da época e a cobrar o direito a mais participação feminina na vida política brasileira. Entre 1928 e 1932, presidiu a Associação de Ciências e Letras de Petrópolis, que transformou em Academia Petropolitana de Letras. Em 1929, tomou posse na Academia Fluminense de Letras. Com a morte de seus pais, na década de 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro. Mandou construir o Cinema Rian, na Avenida Atlântica, comprado pelo Grupo Severiano Ribeiro em 1946. Mudou-se definitivamente, com três filhos adotivos, para Niterói. Em 1974, lançou o livro A Verdade sobre a Revolução de 22, em que revelava aspectos ainda obscuros do evento.
Nos anos 1970, diante da cobrança insistente da Receita Federal, enviou uma carta ao Jornal do Comércio em que reivindicava a isenção do pagamento de Imposto de Renda para pensionistas com mais de 85 anos de idade. Aos 90, em vez de preencher o formulário da Receita, achou por bem ampliar ainda mais o universo dos beneficiados. Desenhou uma caricatura do ministro da Fazenda, Delfim Netto, e incluiu um recado: “Ministro, desculpe-me, mas essa coisa de Imposto de Renda é muito complicada pra mim. Vocês deviam dispensar os adultos com mais de 70 anos”. Nair morreu no dia em que completou 95 anos e foi sepultada junto ao marido, em Petrópolis.
Fonte: PASCHOALOTTO, Ivanete; SIMILI, Ivana. Nair de Teffé: Uma narrativa biográfica para as mulheres dos séculos XIX e XX. Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 7, n. 1, p. 121-134, 2011.
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