Criar um podcast como forma de aproximar a comunidade da escola, quebrando estereótipos de quem vive numa favela carioca, a partir do protagonismo dos estudantes locais. Esta é a expectativa da E.M. Bernardo de Vasconcellos (4ª CRE), localizada no bairro da Penha, nas imediações da Vila Cruzeiro, e que envolve alunos de quatro turmas do 7º e 8º ano.
O podcast intitulado de “Bernado Cast” surge a partir da vontade dos alunos em desenvolver a prática social da escrita e da leitura, e ter o contato com obras literárias. A unidade é repleta de grafites de personagens importantes, como Nelson Mandela e Charles Darwin, e na Sala de Leitura, a imagem da escritora Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo” (1960) e que dá nome ao espaço, é fonte inspiradora para o podcast:
“O inicio seria um diário impresso, nos inspiramos na Carolina Maria de Jesus, e a ideia foi fazer um diário da Vila Cruzeiro, assim como ela fez um diário na favela do Canindé”, diz o professor de Língua Portuguesa, Pedro Paulo Machado.
Durante a visita da equipe da Andar - Agência de Notícias dos Alunos da Rede à unidade escolar, os alunos optaram pelo formato, o que foi acatado por Pedro Machado, que considera que as novas tecnologias podem servir para estudo e que os professores não podem ver o seu uso como uma ameaça ao aprendizado:
“Podcast foi o que os alunos escolheram porque dá para manter a estrutura de um diário, mas numa mídia que é mais próxima deles. Às vezes, na sala de aula, essa parte digital é vista como inimiga. Eles ficam muito no TikTok, mas eles têm costume de ouvir podcast, reconhecem como uma forma de adquirir conteúdo”, explica o professor.
Aluno do 7º ano, Cláudio Cauê da Silva do Nascimento é um ouvinte de podcasts e mostra que compreendeu bem sua definição:
“É uma forma de áudio que pode ser considerada como rádio, e a pessoa pode ouvir a qualquer momento”, explica o aluno, em depoimento em vídeo que a escola produziu para o lançamento da Andar.
Alcance na comunidade e protagonismo local dos estudantes
O podcast “Bernardo Cast” pretende explorar a oralidade da contação de histórias. Já a partir do primeiro episódio, os alunos irão entrevistar moradores antigos da Vila Cruzeiro. Pedro Machado guarda surpresa sobres nomes, mas afirma que o objetivo é que o conteúdo alcance além dos muros da escola:
“O podcast está sendo pensado pelos alunos para ser ouvido pelas pessoas que moram na região, seus amigos e vizinhos”, explica o professor. Com a representatividade do território em que os alunos vivem, eles poderão valorizar a dignidade dos moradores de favelas:
“Trabalhamos muito a questão do território, é aquilo que as pessoas são, para muito além dos estereótipos de quem mora numa comunidade. O podcast demonstra que temos conteúdo”, explica o professor.
As tarefas são divididas pela equipe conforme os anos de escolaridade: alunos do 7º ano são os entrevistadores, e os do 8º desenvolvem as perguntas. Atualmente, a equipe é formada por quatro alunos, mas Pedro Machado abre o convite a todos e acredita num aumento em breve. Ele explica os desafios para a produção dos episódios, como diferença de turnos e agendamento de entrevistas:
“Alguns alunos são da tarde, outros da manhã, algumas partes são gravadas separadamente, temos que agendar com as pessoas”, diz o professor, que pretende publicar os episódios quinzenalmente.
O aluno Miguel Vítor Muniz Boa Esperança diz, em depoimento para o encontro da Andar na MultiRio, que cada episódio terá meia hora de duração e adianta temas imprescindíveis para o “Bernardo Cast”:
“Nós seremos os entrevistadores, e entrevistaremos professores, funcionários e outros alunos da escola, e os temas serão racismo, tipos de preconceito, e desigualdade social”, revela o aluno.
Protagonismo que aproxima a escola da comunidade
Pedro Machado explica ainda que o podcast, apesar de não ser uma mídia escrita, pode incentivar a produção textual na escolha das perguntas corretas, além de convergir com outras disciplinas, como História ou Geografia:
“Eles estão pesquisando a história da Vila Cruzeiro, e automaticamente, a história da Penha. De certa forma, tem algo interdisciplinar, eles vão entrevistar professores de diversas matérias, vão precisar estudar o conteúdo”, diz o professor.
A diretora da E.M. Bernardo de Vasconcellos, Daniela Azini Henrique destaca, além da interdisciplinaridade, o protagonismo da turma:
“São eles que vão narrar e eleger as histórias a serem narradas, vão buscar os personagens, abrindo uma brecha para a construção de um currículo digital feito por alunos da rede, e isso é uma experiencia fantástica”, diz a diretora.
Professora de História à frente da direção da unidade desde 2017, Daniela Azini menciona o projeto “Ser e Pertencer”, que se fundamenta em eixos como memória, identidade e pertencimento. O projeto desenvolve ideias como o Rolé na Penha, em que os alunos apresentam o bairro aos professores, e o Vale a Penha, produção de vídeos em parceria com a MultiRio:
“O projeto ‘Ser e Pertencer’, ao mesmo tempo em que fala de símbolos do bairro, como a Igreja da Penha, também explora a diversidade local, formada por diferentes vozes. A gente entende que estes alunos e alunas trazem narrativas que não podem ficar do lado de fora. Eles têm uma contribuição única e singular”, diz a diretora.
O grafite mais recente na E.M. Bernardo de Vasconcellos, outra homenagem a Carolina Maria de Jesus, logo na saída, está sendo finalizado pelo artista visual Ângelo Campos, ex-aluno, com origem na Vila Cruzeiro, que produziu os demais grafites da escola. Segundo Daniela, desta vez, a imagem virá acompanhado da frase “eu escrevi a realidade”, cunhada pela escritora.
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