O único esporte olímpico em que homens e mulheres competem em igualdade de condições possuiu uma história milenar. Os primeiros relatos de que se tem notícia sobre o adestramento de cavalos para fins militares remonta a 1.360 a.C. Os povos asiáticos começaram a montá-los a fim de se locomover mais rapidamente pelos campos de plantio e áreas de caçada.
Além do uso prático, a parceria entre homens e cavalos ganhou espaço nas competições esportivas. Na edição de 648 a.C dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, há registros da inclusão da corrida de bigas – prova em que essa espécie de charrete era puxada por dois ou quatro cavalos.
Entre os séculos XV e XVIII, o hipismo foi redescoberto pelos europeus, que passaram a realizar campeonatos e utilizar os animais para as caçadas. No Brasil, a primeira competição hípica ocorreu em abril de 1641, em Mauricéa, onde hoje está o Recife. O Torneio de Cavalaria surgiu de uma iniciativa do príncipe holandês João Mauricio de Nassau. Nos séculos XVIII e XIX, cavalgadas e outras disputas como corridas e simulações de combate se tornaram comum no eixo Rio-São Paulo.
Em 1881, a Real Sociedade de Dublin desenvolveu o que serviria de molde para os torneios atuais. A sociedade – que já havia inovado anteriormente ao promover provas de salto em altura e em distância – criou uma pista em que os conjuntos (nome dado ao par formado por cavalo e cavaleiro ou amazona) deveriam superar diferentes obstáculos.
Nos Jogos Olímpicos da Era Moderna, o esporte estreou com provas de salto na edição de 1900, em Paris. Em 1912, a modalidade voltou, em Estocolmo, e permanece até hoje. O retorno na capital sueca marcou, ainda, a entrada de outras duas disciplinas: o adestramento e o concurso completo de equitação (CCE). As três formam o programa olímpico do esporte regulado pela Federação Internacional de Hipismo (FEI), fundada em 1921.
Particularidades
Curiosamente, até os Jogos de Londres (1948), apenas militares competiam. A regulamentação caiu em 1951 e, nos Jogos seguintes, em Helsinque, foi permitido que mulheres e civis integrassem as provas ao lado dos homens, sem distinção por gênero.
Por ser o único esporte em que homem e animal disputam juntos, os cavalos são avaliados pelas regulamentações do Comitê Olímpico e, se um dos animais é pego no doping, o cavaleiro também é punido. Para os campeonatos, os cavalos viajam em aeronaves exclusivas. Eles possuem passaporte próprio que contém uma descrição física detalhada, lista de competições e vacinas tomadas.
Alguns dos atletas mais velhos na história dos Jogos praticavam hipismo. A amazona britânica Lorna Johnston competiu em Munique (1972), aos 70 anos. Já o austríaco Arthur Von Pongracz tinha 72 anos e 59 dias quando participou das provas em Berlim (1936), sendo o segundo atleta mais velho da história olímpica, ficando atrás apenas do atirador sueco Oscar Swahn, que tinha 72 anos e 281 dias quando participou dos Jogos da Antuérpia, em 1920.
Adestramento
A modalidade estreou com provas individuais nos Jogos de 1912, em Estocolmo. Já o evento por equipes começou a ser disputado em Amsterdã, em 1928. O objetivo é avaliar a condução do conjunto, verificando a capacidade da montaria de responder aos comandos do homem na execução de movimentos específicos.
A performance dos atletas é avaliada por sete juízes. Entre os quesitos, o mais importante é o controle do cavaleiro ou da amazona sobre o animal, sendo que até a postura da cabeça do cavalo é levada em conta. A dupla que receber a melhor avaliação é a vencedora. Os erros são informados por sinos e, após três erros, o cavaleiro é eliminado. Durante a apresentação, realizada em uma área plana, o cavaleiro não pode fazer qualquer tipo de som.
São disputadas provas individuais e por equipes, com três cavaleiros, simultaneamente. Elas possuem três fases:
Concurso Completo de Equitação (CCE)
Com origem militar, surgiu com a filosofia de ter os cavalos mais ágeis e resistentes para qualquer tipo de combate. A diminuição dos conflitos armados fez a prática crescer como esporte e, em 1912, estreava no programa olímpico dos Jogos de Estocolmo. O CCE é considerado uma espécie de triatlo equestre por reunir provas de adestramento, saltos e cross country.
Cavaleiros e amazonas competem em mais de um dia com o mesmo cavalo nas três provas, e as pontuações valem tanto para as individuais quanto por equipes. Na individual, o resultado final corresponde ao número total de penalidades acumuladas e, nos times (formados por três ou quatro conjuntos), apenas a pontuação dos três melhores é levada em conta.
Saltos
É o evento mais antigo do hipismo e sua primeira competição oficial data de 1900, na Irlanda, no mesmo ano em que estreava nos Jogos Olímpicos, na edição de Paris. O objetivo é completar – no menor tempo possível – um circuito com 8 a 12 obstáculos, que incluem barras paralelas, fossos e pequenos muros, sem derrubar elementos da pista, desviar na trajetória, colocar as patas na água, refugar ou ultrapassar o tempo limite para a apresentação. Essas ações são faltas que somam pontos, e o vencedor é quem contabilizar o menor número de infrações. São disputadas dois tipos de provas:
Hipismo paralímpico
Em comparação à tradição da modalidade olímpica, o hipismo paralímpico possuiu uma história bem recente. Os primeiros torneios aconteceram por volta de 1970, no Reino Unido e em países da Escandinávia. Estreou nos Jogos de 1984 em Nova Iorque (EUA); e Stoke Mandeville (Inglaterra). Porém, a pouca popularidade o manteve de fora dos Jogos até a edição de 1996, em Atlanta, quando integrou definitivamente o programa paralímpico.
A transferência da regulamentação do Comitê Paralímpico Internacional para a Federação Internacional de Hipismo, em 2006, ajudou a popularizar a modalidade. No Brasil, é praticada desde 2002 e a primeira vaga do país para os Jogos foi conquistada por Marcos Fernandes Alves, conhecido como Joca, após o atleta faturar duas medalhas de ouro no Parapan de Mar del Plata, em 2003.
A prova de adestramento é a única dos Jogos Paralímpicos. Cavaleiros e amazonas competem juntos em eventos individuais e por equipes. A pista possui adaptações de acessibilidade para oferecer maior segurança aos atletas e é menor do que a da competição olímpica. Além de rampas de acesso, a areia é mais compactada, facilitando a locomoção, e são utilizados sinais sonoros para orientar os competidores cegos.
Os cavaleiros e amazonas são separados por classes, dependendo do tipo de deficiência de cada um.
Nos Jogos Olímpicos, são disputadas provas de adestramento individuais, por equipes (de três a quatro integrantes) e freestyle. Os competidores devem executar uma série de movimentos pré-determinados: passos, trotes e galopes. No freestyle, os movimentos são livres e realizados ao som de uma música. Juízes espalhados pela arena avaliam a precisão dos movimentos, os erros são notificados por meio de sinos e o conjunto que tiver as melhores notas vence a prova.
Fontes: Comitê Olímpico Brasileiro, Comitê Paralímpico Brasileiro e Confederação Brasileira de Hipismo.