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Ensino de História à luz da BNCC
13 Novembro 2019 | Por Larissa Altoé
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Jogar Capoeira, de Johann Moritz Rugendas, 1835

História não se restringe apenas a datas importantes ou personagens marcantes, sejam heróis ou vilões. Para se chegar a um dia crucial ou mesmo entender ações que influenciaram a vida da população é necessário compreender processos que envolvem grupos humanos ligados ao evento em questão.

A Base Nacional Comum Curricular – BNCC – estabelece que “a História deve se transformar em ferramenta a serviço de um discernimento maior sobre as experiências humanas e as sociedades em que se vive”. Entre as competências específicas da disciplina para o Ensino Fundamental, o documento coloca em primeiro lugar: “compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços (...)”.

A experiência em sala de aula

Para Daniel Nasser, professor da E.M. André Urani (2ª CRE), na Gávea (Rocinha), “o principal motivo do ensino de História na Educação Básica é a construção de noções básicas de cidadania. Vejo isso contemplado na BNCC, quando destaca, nos objetivos da formação do estudante, a compreensão de processos históricos para “analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (...), criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”.

Daniel considera um desafio para o professor de história desenvolver em sala de aula conceitos e métodos relacionados ao pensar histórico. A partir de sua experiência, ele destaca práticas que podem ser desenvolvidas com os estudantes no cotidiano escolar, como identificação, comparação e diferenciação de experiências históricas; análise de continuidades e rupturas ao longo do tempo; elaboração de questionamentos e hipóteses sobre o tema estudado.  

Um método muito utilizado por Daniel Nasser é a análise de fontes históricas, iniciando por sua contextualização: o quê, quando, onde, como, por quê,  em quais circunstâncias. “A partir da interpretação de uma fotografia, um relato, um objeto, uma carta ou do texto de uma lei, podemos perceber visões de mundo, modos de vida, relações de poder, interesses de diferentes grupos sociais, imposições, resistências, contradições e conflitos de uma sociedade. Esse método é potencializado quando realizado de forma interdisciplinar”, detalha o professor.

No estudo da escravidão no Brasil, por exemplo, Daniel usa imagens produzidas por artistas viajantes do século XIX, como o Mercado da Rua do Valongo, de Jean-Baptiste Debret, ou Jogar Capoeira, de Johann Moritz Rugendas. Tais imagens são analisadas com os estudantes para a compreensão daquela experiência histórica. “Estimulo sempre a imaginação histórica dos estudantes, propondo que construam narrativas se colocando no lugar daqueles sujeitos retratados nessas imagens e imaginando como seria viver naquela sociedade, quais os limites e as possibilidades de ação de cada grupo social”, explica.       

Outro caminho interessante, segundo Daniel, é incentivar o estudante a relacionar as características do tempo e da sociedade em que vive com outras experiências históricas. “Assim, ao estudar os regimes totalitários do Nazifascismo, por exemplo, estimulo os estudantes a pensarem como seriam vistas naquela sociedade suas noções contemporâneas de liberdade de expressão, respeito ao próximo, valorização das diversidades e da justiça social. Esse exercício de comparação visa perceber as diferenças e aproximações das sociedades ao longo do tempo e incentiva o estudante a refletir sobre sua própria realidade. Quais setores da sociedade tomaram o poder naquele contexto? Quais interesses e projeto de sociedade defendiam? Quais setores sociais eram excluídos e perseguidos? Por quê? Tais questões, além de explicitar os conflitos e disputas de interesses naquele contexto, procuram fazer da sala de aula espaço de construção de debates e questionamentos sobre o tempo presente. Essa prática auxilia o estudante a se perceber como sujeito pertencente a uma sociedade e a problematizar as questões de seu tempo, dois aspectos relacionados a uma cidadania voltada à participação na vida pública com consciência social”, conclui Daniel.

Projeto pedagógico

Roberto Antunes, coordenador de História da Gerência de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro – SME, diz que projetos pedagógicos que favoreçam esse viés de intervenção e atuação no mundo são importantes, especialmente no 9º ano, quando os conceitos históricos estão mais consolidados. “Trabalhar com a história e a memória locais colabora para uma conscientização sobre as estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais nas quais os estudantes estão inseridos”.

Nuremberg, 1945

Entre os conteúdos do 9º ano, Roberto coloca como exemplo a 2ª Guerra Mundial e, ainda mais especificamente, o Holocausto. “Como aproximar esse tema da realidade de nossos alunos, objetivando a construção de um mundo melhor, fundamentado no respeito?”, pergunta o coordenador. “Um ponto que pode ajudar a aproximar os estudantes do tema é a intolerância. Tanto os judeus na Europa da década de 1940 quanto moradores das comunidades cariocas desse começo de século XXI vivem em áreas complexas, sendo alvos de constante incompreensão e intolerância”, afirma Roberto.

Para o coordenador, ao trabalhar o Brasil contemporâneo, “nada melhor para o professor do que analisar e observar com olhos críticos a própria realidade que nos cerca, mostrando aos alunos o processo histórico que nos trouxe até o momento presente. Quando o aluno percebe a História tão presente em sua vida, o aprendizado se torna efetivo, marcando sua existência e se consolidando. A História passa a ser e a refletir a sua própria vida”.

 
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