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Fórum debate educação e cinema infantil
22 Setembro 2014 | Por Sandra Machado
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pensarainfancia300O 12º Festival Internacional de Cinema Infantil (Fici), edição 2014, realizado entre 12 e 21 de setembro, no Rio de Janeiro e em Niterói, exibiu mais de cem filmes de 24 países e promoveu atividades para estimular o vínculo cultural da criançada com a sétima arte. Em destaque, o 7º Prêmio Brasil de Cinema Infantil, que, neste ano, foi concedido a três filmes escolhidos por alunos de escolas públicas. Como preparação para o Fici, de 8 a 11 de setembro aconteceu o Fórum Pensar a Infância – 6º Fórum sobre Políticas, Narrativas e Linguagens para o Cinema Infantil no Brasil, no Oi Futuro Flamengo.

Como parte da programação, o Fórum promoveu a chamada Conversa no Cinema, ou seja, a exibição de filmes seguida de bate-papos. Um deles foi o premiado Class of Fun, de Barbara Bredero, uma produção holandesa de 2013 baseada nos livros infantis de Mirjam Oldenhave. A história de ficção mostra a maneira pouco ortodoxa pela qual Sr. Kees, um jovem e carismático aspirante a professor, consegue reverter o desinteresse de uma turma do Ensino Fundamental pela escola. Para tanto, ele se vale da mímica no ensino da Geografia, da cenografia para explicar Biologia e de rap para trabalhar Matemática, mostrando aos seus superiores que uma aula pode ser divertida sem deixar de ser educativa.

Rosane Svartman, que dirigiu os longas Desenrola e Tainá 3, fez a mediação do debate sobre Class of Fun e ressaltou a necessidade de um diálogo mais horizontal entre professores e alunos. Para a cineasta, é preciso discutir o chamado cof“ensino depositário”, que privilegia a posição do professor.

Segundo Vera Lúcia Silva Leite de Campos, supervisora educacional da E.M. Roraima (4ª CRE), e que também atua na formação de professores na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a exibição de filmes como este pode ajudar muito no combate à evasão escolar, que ainda acontece nos anos finais do Ensino Fundamental. Assim como Tobias, personagem do filme, várias crianças atravessam situações difíceis na vida familiar. “A escola não tem como ir além do seu próprio espaço e alcançar onde os problemas estão”, lamenta. Segundo Vera, muitas vezes os pais pedem auxílio porque a criança não quer mais frequentar as aulas.

Sobre os professores, ela diz: “Os recém-formados já chegam pessimistas. Só mesmo o voo da imaginação pode fazer com que o professor saia da posição de crítica ao sistema e passe para a ação, sem desistir”, avalia Vera. Fáuston da Silva, vencedor do Prêmio Brasil de Cinema Infantil na categoria Histórias Curtas, com O Balãozinho Azul, e também autor de Meu Amigo Nietzsche, comentou sua experiência pessoal. “Outros países, como a China, têm uma visão estratégica, pela qual o Estado toma para si o investimento em crianças de alto potencial.”

O compositor Hélio Ziskind, que foi consultor musical da TV Cultura na série infantil Castelo Rá-Tim-Bum, vê na escola a oportunidade de confirmação de que o assunto estudado faz parte da cultura. “O processo do aprendizado é sofrido. A beleza, às vezes, demora a aparecer...”

Desafios para professores e alunos

quenia3On the Way to School, dirigido pelo francês Pascal Plisson e realizado em parceria com a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – em 2012, também foi apresentado. O filme retrata a difícil realidade de crianças que vivem em regiões remotas e suas dificuldades para conseguir se deslocar até a escola.

Jackson, de 11 anos, e sua irmã menor Salome andam 15 quilômetros em duas horas, todo dia, nas savanas do Quênia, fugindo do ataque de elefantes, para estar na sala de aula às 7h30. Zahira tem 12 anos e caminha por quatro horas, cruzando 22 quilômetros da Cordilheira do Atlas, no Marrocos, com duas colegas, toda segunda-feira, para chegar ao pensionato onde passa a semana – caso contrário, não estuda. Carlos, de 11 anos, viaja 18 quilômetros em uma hora e meia, diariamente, com a irmãzinha Micaela na garupa do cavalo, pela região argentina quase deserta da Patagônia. Samuel, de 13 anos, tem uma distância mais curta a percorrer – apenas quatro quilômetros –, mas o trajeto diário passa de uma hora porque seus irmãos mais novos, Emanuel e Gabriel, precisam arrastá-lo em cima de uma cadeira de rodas improvisada.

Qual seria o motivo de tanto sacrifício para as crianças retratadas no documentário? Jackson quer pilotar avião, Zahira e Samuel pretendem ser médicos e Carlos deseja se tornar veterinário. Para eles, ter a chance de estudar, apesar de tantos obstáculos, é como tirar a sorte grande.

trioGuilherme Coelho, diretor de Fala Tu e de Órfãos do Eldorado, encaminhou o debate sobre On the Way to School e formulou, em voz alta, a pergunta que toda a plateia desejava fazer: será que não era mais fácil estudar em casa? Quem respondeu foi a neurocientista e professora Alessandra Gomes, afirmando que é a vontade de pertencer a um grupo social e de se desenvolver no ambiente de uma escola o que faz toda a diferença. E ainda destacou que, para cada uma daquelas crianças, o percurso, em si, já é um aprendizado e tanto.

Guilherme Fiúza Zenha, diretor do filme infantil O Menino no Espelho, pensa que os adultos andam tolhendo demais as crianças, “como se a infância fosse algum tipo de distúrbio”. Ele afirma: “Antigamente, a gente aprendia a se movimentar no mundo quase que instintivamente, geralmente só com a orientação do irmão mais velho. Hoje, o que mais se vê é superproteção dos pais”. Para Maria Lúcia Braga, coordenadora da E.M. Jornalista Brito Broca (2ª CRE), os cuidados com as crianças devem ser socialmente compartilhados. O ideal é que a família esteja presente no ambiente escolar. “Existe um novo olhar na escola. Cada vez mais, o professor deixa o velho papel de tutor e passa ao de mediador.”

 
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