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Abastecimento de água reflete crescimento da cidade
06 Maio 2015 | Por Sandra Machado
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reservatorios home1Em tempos de crise hídrica, o fornecimento de água volta a ser assunto de destaque. No Rio de Janeiro, a preocupação por garantir o recurso à população já existia no início do século XIX, quando o governo real proibiu, pela primeira vez, o desmatamento indiscriminado. A proteção do mais importante manancial foi garantida com a desapropriação das terras onde está situada a Floresta da Tijuca, local da nascente do Rio Carioca. O imperador Dom Pedro II determinou, ainda, o reflorestamento da área, já devastada pelo cultivo de cana-de-açúcar e de café, e coube ao major Manoel Archer e ao administrador Thomás Nogueira da Gama coordenarem o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica. A recuperação do verde na região da Tijuca, Sumaré e Paineiras garante, até hoje, um clima mais ameno ao Rio de Janeiro. O que pouca gente sabe é que os reservatórios integram o patrimônio tombado. Situados em platôs ou no topo de morros, são como verdadeiros mirantes e, ainda hoje, a maioria contribui para o abastecimento de água do Rio.

Para o pesquisador Gilmar de Almeida, é possível dividir a história da distribuição de água na cidade em três períodos que chegaram a coexistir, de acordo com a localização mais ou menos distante do Centro. O primeiro teve início com a ocupação da cidade, em 1567, quando as nascentes ainda eram preservadas. O acesso dependia do escravo, negro ou indígena, que buscava a água nas margens dos rios e a carregava até as residências. No segundo momento, também no período colonial, a mão de obra escrava era combinada a um conjunto de instalações (aqueduto, chafarizes e bicas públicas), construído para aproximar os distantes mananciais do núcleo urbano. O historiador delimita essa fase entre a construção do Chafariz da Carioca, em 1724, e o ano de abolição da escravatura, em 1888.

Por essa época, a destruição das matas e florestas para a produção de lenha e carvão já prejudicava a abundância original, da mesma forma que as terras dos mananciais começavam a passar para o controle privado. Mas a solução encontrada pelos vice-reis – criar pontos de acesso público à água na região central da cidade – se mostrava precária, porque uma significativa parcela da população que vivia nas freguesias urbanas – Candelária, São José, Sacramento, Santa Rita, Santana, Glória, Lagoa, Santo Antônio, São Cristóvão, Engenho Velho, Gávea, Engenho Novo e Espírito Santo – não possuía escravos domésticos nem podia arcar com as despesas dos chamados "escravos de ganho", que prestavam pequenos serviços à custa de pagamentos destinados ao seu proprietário.

Distribuição por “penas d’água”

O último período surgiu com o desenvolvimento do sistema de captação e distribuição de água diretamente para as residências e empresas, por meio das chamadas "penas d’água", que ofereciam um serviço primitivo de encanamento. No entanto, o aumento da demanda forçava a busca por fontes de abastecimento cada vez mais longe dos limites da cidade. Paulo de Frontin, posteriormente declarado patrono da engenharia brasileira, foi quem realizou, em poucos dias, uma obra capaz de resolver a crise oriunda da estiagem no Rio em 1888, ao captar a água localizada a 55 quilômetros de distância do Centro, na Serra do Comércio, na Baixada Fluminense. O Rio de Janeiro victor konder 2contava, então, com nada menos do que 16 casas de banho, como o Hotel Pharoux. Foi a partir delas que o Centro se tornou referência em lançamento de produtos e negócios, já que esses locais eram um polo de socialização. Atendiam, também, àquela população que ainda não dispunha de banheiro em casa e que se deixava empolgar pelo crescente discurso da higiene em prol da saúde.

O período entre 1850 e 1930 concentra o auge da construção de reservatórios no perímetro urbano. A criação do Ministério dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, em 1861, deu um grande impulso ao processo. A evolução da tecnologia de adução contou com o talento de engenheiros como Jerônimo de Moraes Jardim, Luiz Monteiro de Barros, Henrique de Novaes e os irmãos André e Antônio Rebouças. Seu esforço conjunto inaugurou uma nova fase no abastecimento de água da cidade, quando decidiram cortar toda a Baixada Fluminense para a captação das fontes nas serras de Duque de Caxias e de Nova Iguaçu. A iniciativa deu origem ao chamado Sistema Acari ou Sistema das Cinco Linhas Pretas: São Pedro (1877), Rio D’Ouro (1880), Tinguá (1893), Xerém (1907) e Mantiqueira (1908).

Abastecimento atual

Em funcionamento desde o ano de 1880, o Reservatório do Pedregulho, em São Cristóvão, passou a cobrir duas regiões distintas: a Zona Sul da cidade, que começava a demonstrar um crescimento mais acentuado da população, e a Zona Norte, que, embora menos povoada, concentrava um grande número de fábricas. Em 1940, com a inauguração da primeira adutora de Ribeirão das Lajes, foi estabelecida a ligação Lajes-Reservatório do Pedregulho, que passou a ser o grande centro distribuidor no coração da cidade. Na década seguinte, com a conclusão da segunda adutora de Lajes, e com a captação das águas do Rio Guandu, formou-se, também, a ligação Guandu-Pedregulho. A Estação de Tratamento de Água do Guandu, localizada em Nova Iguaçu, é considerada a maior do mundo e responsável por cerca de 80% do fornecimento de água para a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Fontes: Site do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), site da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), A Domesticação da Água: os Acessos e os Usos da Água na Cidade do Rio de Janeiro entre 1850 e 1889 (dissertação de Mestrado de Gilmar Machado de Almeida, Programa de Pós-Graduação em História das Instituições, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Unirio)

 
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