De tanto ouvir alunos perguntando “Por que tenho que aprender fração, números decimais ou outro conteúdo da Matemática?”, o professor Marcos Vinicius da Silva Barbosa, da E. M. Rodrigues Alves, na Barra da Tijuca (7ª CRE), passou a contextualizar o tema, colocando o aluno em situações que o exigissem. Outra estratégia que usa para enfrentar a resistência à matéria é tirar os estudantes de sala de aula sempre que possível: “Eles adoram a quadra de esportes. Então, quando ensino áreas e perímetros, levo a turma para medir a área do gol e o perímetro do local como um todo”.

Com esse estilo de ensinar e apaixonado por culinária desde pequeno, Marcos criou em 2016 o projeto Porções do Saber, no qual leciona Matemática ao mesmo tempo em que ensina receitas. O local é o laboratório originalmente utilizado para Ciências – amplo, com bancada e pia com água corrente. No início do ano, quando os professores oferecem as disciplinas não obrigatórias durante o ‘Feirão das Eletivas’, foi preciso sortear as 25 vagas do primeiro semestre e as 31 do segundo, porque houve mais de 60 inscritos, entre meninos e meninas, em cada turma.

A cada receita – nugget de frango, quindim ou quiche – os alunos confeccionam a tabela nutricional, calculam o custo total e por unidade e aprendem, por exemplo, proporção – quando é pedido que dobrem a receita ou reduzam-na à metade.

Com a palavra, os estudantes

Emerson Quaresma, 13 anos, conta que é divertido dividir porções, adicionar ingredientes e aprender que muitas vezes os alimentos industrializados podem fazer mal ao nosso organismo.

Luana Moizinho, 12 anos, lembra que entendeu melhor fração graças à aula eletiva. Ao fazer cupcake, ela precisou triplicar a receita e teve que multiplicar ingredientes fracionados, ou seja, 2/4 de açúcar por 3, e assim por diante. “Ao medir os ingredientes, a questão clareou”, afirma ela.

Mariane Abreu, 11 anos, e Adrielle Nepomuceno, 13, explicam como aprenderam proporção: se uma lata de leite condensado é suficiente para fazer 25 brigadeiros, quantas serão necessárias para 100 docinhos?

As estratégias de Marcos estão dando certo. A E.M. Rodrigues Alves atende turmas de 7º, 8º e 9º anos. Portanto, necessariamente, os alunos chegam transferidos de outras unidades. O professor relata que, no primeiro bimestre do 7º ano, as notas em Matemática giram em torno de cinco ou seis, mas no terceiro bimestre chegam a oito, nove. Êxito comprovado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação do Rio – IDERIO –, que aplica provas de Matemática e Português e traz a escola em primeiro lugar entre todas as outras do município nos dois últimos anos.

Marcos diz que o êxito da matéria eletiva se estende também para as turmas regulares de Matemática: “As aulas do Porções do Saber são prazerosas e tornam mais simples o aprendizado de conceitos matemáticos. Além disso, os alunos que participam ajudam, depois, os demais colegas com exemplos da aula de culinária”.

“A escola pública me permite criar”

O professor se formou com 21 anos. Deu aulas por um ano em escola privada, mas não gostou. “Eu era muito novo e a direção não me apoiava. Sentia-me engessado”, recorda. Passou em concursos estaduais e começou a lecionar na Vila da Penha, em uma escola já desativada, e no Ciep Deputado Ulysses Guimarães, em Sepetiba. Em 2013, fez concurso para o município, 40 horas, e foi designado para a E.M. Rodrigues Alves, na Barra. “Eu não saberia fazer outra coisa. O contato com os alunos não é monótono. Saio exausto, mas renovado”.

Atualmente, Marcos leciona no município durante o dia e, às segundas e quartas, à noite, no Ciep estadual. Ainda dá aulas particulares. Costuma acordar às 5h30 e chegar em casa às 22h. Quando não tem aula particular agendada, aproveita para se exercitar na academia próximo à sua residência. Nos finais de semana, gosta de ir a teatro, cinema ou shows com a esposa.