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História do Aedes aegypti no Brasil
13 Fevereiro 2017 | Por Sandra Machado
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Fac-símile do livro de Miguel Dias Pimenta (Fonte: sumidoiro.wordpress.com)

O inimigo número um do Brasil não mede mais do que meio centímetro e não voa além de meio metro acima do solo. Apesar da aparente limitação, há pelo menos 300 anos, gerações e gerações de brasileiros padecem dos males causados pelo Aedes aegypti. Originário do nordeste da África, na região onde se situa o Egito, o mosquito chegou aqui de navio, no ano de 1685, para não sair mais.

De acordo com os registros históricos, foi em Recife que a saga começou. Importante lembrar que, se em áreas florestais o vetor da febre amarela é principalmente o mosquito Haemagogus, no meio urbano a transmissão acontece através do Aedes aegypti. E foi essa a moléstia inicial transmitida por ele. Na capital de Pernambuco, cerca de 600 pessoas morreram de febre amarela entre o Natal e o dia 10 de janeiro de 1686, conforme descrito em um dos primeiros livros de medicina brasileiros, Notícias do Que É o Achaque do Bicho, publicado em 1708 pelo médico português Miguel Dias Pimenta. Cinco anos mais tarde, na mesma cidade, o Aedes gerou um surto de dengue, que acometeu até mesmo o governador da província, António Félix Machado da Silva e Castro, também conhecido como Marquês de Montebelo.

O médico e sanitarista Oswaldo Cruz, chefe da Diretoria de Saúde Pública, coordenava o trabalho dos agentes, que percorriam a cidade em charretes puxadas por mulas. A força-tarefa lavava os bueiros, enchia de areia os cacos de garrafa cimentados sobre os muros para afastar os ladrões, e entornava os tonéis de água que encontrava nos quintais, para desespero das famílias que não tinham água encanada (Fonte: tvassembleia.org)

Orientado pelo doutor João Ferreira da Rosa, que lhe salvou a vida, o governador promoveu algumas mudanças que guardam semelhanças com as campanhas de hoje em dia: mandou despejar todo o lixo numa área distante da circulação de pessoas, afastou os doentes do convívio com quem estava sadio e ordenou que os mortos fossem enterrados em covas bem fundas fora da cidade, além de orientar aos moradores para que limpassem suas casas e as ruas regularmente. A decisão mais importante do Marquês de Montebelo, no entanto, foi recomendar ao médico que escrevesse um livro sobre o assunto. Por isso, o Tratado Único da Constituição Pestilencial de Pernambuco foi publicado em Lisboa no ano de 1694.

Nesse meio tempo, a epidemia já havia se espalhado, também, para a Bahia, onde o mosquito chegou em abril de 1686. Foi tão forte que causou baixas até entre os médicos de Salvador. Desesperada, a população se dirigiu para o Colégio dos Jesuítas, onde implorou misericórdia, rezando para São Francisco Xavier, um dos fundadores da Companhia de Jesus. No mês seguinte, uma grande procissão correu as ruas da cidade e o recuo da doença foi atribuído a um milagre. Tanto que, como agradecimento, em 3 de março de 1687 Salvador adotou Francisco Xavier como seu santo padroeiro.

Dengue não era exclusividade do Brasil

Registros antigos falam da ocorrência da doença também na Ilha de Java, próxima à Indonésia, em 1779, e na Filadélfia, no ano seguinte. Dos Estados Unidos, o surto passou ao Caribe, por mar, em 1827. Depois de um período de trégua, a doença ressurgiu no Brasil em 1846, com uma epidemia que atingiu São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, entre outras cidades. Nessa época, os cariocas apelidaram a dengue de polca, que era o ritmo da moda, enquanto os paulistas preferiam se referir a ela como urucubaca. Quanto à febre amarela, voltou com força total com a chegada de um navio francês em Recife no dia 18 de dezembro de 1849. De uma tacada, a doença matou 2.800 vítimas na cidade. Dez dias mais tarde, já havia chegado ao Rio de Janeiro, trazida em embarcações oriundas da Bahia. Ao longo da segunda metade do século XIX, dada a ausência de saneamento adequado, o Aedes aegypti se espalhou pelo território nacional.

Em 1902, foi criada a Diretoria de Saúde Pública, com sua brigada mata-mosquito, que promovia a vistoria das casas, a interdição e a derrubada de imóveis insalubres, na tentativa de fazer o saneamento da região central e portuária do Rio. Sob o comando de Oswaldo Cruz, foram adotados o uso de inseticidas e a campanha compulsória de vacinação, que gerou uma das mais assustadoras reações populares no município de que se tem notícia: a Revolta da Vacina.

Difícil erradicação

Funcionários da Sucam saindo, de bicicleta, para aplicação de inseticida, nos anos 1970 (Fonte: Portal do Servidor Público do Brasil)

No combate nacional ao Aedes aegypti, algumas importantes batalhas foram vencidas, mas essa guerra ainda parece longe de terminar. Uma ação concentrada do Ministério da Saúde (MS), ao longo de dois anos, parecia ter eliminado o último foco do mosquito no país em 1955. Tanto que, no ano seguinte, debelada a dengue, foi criado o Departamento Nacional de Endemias Rurais, para o enfrentamento da febre amarela, da malária e outras endemias. Após o reaparecimento do Aedes na cidade de Belém, em 1967 foi criada a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam) e, novamente, em 1973 o mal parecia erradicado. Mas em apenas três anos surgia nova reintrodução do vetor em Salvador, que até meados da década de 1980 já havia atingido, outra vez, praticamente todos os estados.

A situação piorou quando o primeiro surto de dengue hemorrágica registrado no mundo aconteceu em Cuba, em 1981. Com a expansão da variante mais grave da doença, em 1990 era criada no Brasil a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), com foco maior no aspecto do saneamento. Na atualidade, além do reconhecimento de que a reincidência está diretamente relacionada ao desequilíbrio ambiental, a opção do Governo Federal tem sido descentralizar as ações, que devem ser realizadas pelas prefeituras, individualmente, sob a orientação do MS.

Fontes:

MARDINI, Lucia. Manejo Ambiental para o Controle da Dengue. Centro Estadual de Vigilância em Saúde – RS, 2007

Portal Fiocruz

Portal da Saúde – SUS

 
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