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Ensino híbrido: um novo modelo a ser adotado?
17 Março 2021 | Por Márcia Pimentel
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Foto: Agência Brasil, cc

Com o isolamento social provocado pela Covid-19, em 2020, a internet se transformou no principal meio de contato da escola com seus alunos. Em 2021, as redes de ensino lutam pela reabertura das unidades escolares, mas a dura realidade da pandemia não tem permitido o retorno das aulas presenciais nos mesmos moldes de antes. No caso do Rio de Janeiro, o avanço possível, no momento, tem sido a a combinação de práticas presenciais e remotas, por meio do uso de diferentes dispositivos e recursos tecnológicos. Mas a mera soma desses dois tipos de atividades caracterizam um sistema de ensino híbrido?

Em webinar promovido pelo Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ceipe), a presidente do Centro de Inovação para a Educação no Brasil (Cieb), Lúcia Dellagnelo, disse que a resposta é não, porque o ensino híbrido é caracterizado por um novo estilo de aprendizado. Nele, o aluno está o centro da aprendizagem e precisa ter experiências diversificadas e momentos de autonomia. Para ela, a surpresa da pandemia, que levou os profissionais de Educação ao uso de rucursos digitais, preparou o terreno para a Educação do país migrar para o ensino híbrido.

No mesmo webinar, Cláudia Costin, atual presidente do FGV Ceipe, defendeu a ideia de que é preciso aproveitar 2021 como o ano da transformação. "É na crise que aparecem as oportunidades para a inovação", disse, acreditando que a implantação do ensino híbrido ainda favorece a ampliação da carga horária de estudo.

Mudança nos papéis

Com a popularização do computador, da internet e dos celulares, nos anos 2000, as universidades aceleraram as pesquisas sobre novas modalidades de ensino supostamente mais compatíveis com as transformações que as tecnologias digitais vinham promovendo nas formas de comunicação, no acesso à informação e nas expectativas e nos modos de produção de conhecimento dos estudantes.

Segundo essas pesquisas, as mudanças promovidas pelas novas tecnologias resvalavam no modelo educacional hegemônico, ou seja, na escola tradicional. Isso porque as novas e rápidas formas de acesso à informação, por exemplo, passaram a concorrer com a palavra do professor e com o livro, ainda que tais informações não sejam obtidas a partir de fontes fidedignas e confiáveis. A expectativa dos alunos perante a escola também já não seria mais a mesma, assim como, não raro, os estudantes passaram a questionar ainda mais as informações passadas pelo professor, baseados naquilo que tinham lido na internet e nas redes sociais, incluindo as fake news.

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No ensino híbrido, o tradicional papel do professor é revisto. Foto: Alberto Jacob Filho, MultiRio

Essas mudanças reforçaram as reflexões sobre vários aspectos no campo da educação e do ensino. Uma delas foi sobre a necessidade de transformação do papel do professor. Em vez de ser o "dono" da palavra em sala de aula, deveria se transformar em mediador e contextualizador dos diferentes tipos de saberes – tradicionais, científicos, religiosos, senso comum –, mostrando, inclusive, sobre quais pilares cada tipo de conhecimento seria construído e como isso impactaria a "verdade" que cada um produz.

Em evento do Comitê Olímpico Brasileiro, realizado em 2019, Rodrigo Rodrigues, do canal Geobrasil no YouTube e professor de Geografia da E.M. Presidente Eurico Dutra (4ª CRE), lembrou que o papel histórico do professor havia mudado: “Não podemos mais ser meros repassadores de informações, como no passado, porque elas estão disponíveis na internet. Nosso papel, hoje, é contextualizar e dar sentido à aprendizagem”.

As transformações no papel dos professores exigiriam ainda um novo papel para os alunos. Não só porque eles já vinham trazendo para a escola expectativas diferentes dos estudantes do século XX. Mas também porque o novo papel do professor requeriria um aluno mais debatedor, mais participativo e mais ativo na construção de seu próprio conhecimento, ou seja, as escolas precisavam estimular a construção de alunos protagonistas.

Sobre isso, o professor Rodrigo Rodrigues, que tenta praticar o conceito de aluno protagonista há alguns anos, disse em entrevista à MultiRio: "É uma prática que foge ao tradicionalismo e que busca dar voz e poder ao outro, desenvolvendo o conteúdo curricular a partir de uma abordagem que tenha significado para quem vai recebê-lo. Tenho tido grandes resultados e sido reconhecido por isso". Sobre o papel do professor, Rodrigues também lembrou que antes de ser um contextualizador, é preciso que ele exerça sua função de liderança e abrace a responsabilidade desse papel, pois só assim poderá se transformar em fonte de inspiração para os estudantes.

Metodologias ativas

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O aluno precisa ter momentos de autonomia e de colaboração. Foto: Thomaz Silva, Agência Brasil, cc

O debate sobre o novo contexto trazido pelas tecnologias digitais não parou na necessidade de mudar o papel dos alunos e professores. Entre os pontos debatidos, a necessidade de promover mudanças no currículo (vide as transformações promovidas pela Base Nacional Comum Curricular) e a premência dos educadores em enxergarem as tecnologias digitais como novas aliadas no processo de ensino e como portadoras de novas formas de socializaçao, comunicação e linguagem.

Nos debates sobre currículo, também ganharam força as metodologias ativas, ou seja, aquelas capazes de estimular uma postura mais participativa do aluno e que dão mais foco ao desenvolvimento das competências e habilidades do que aos conteúdos por si só. Nessa nova visão, a avaliação de um trabalho de História, feito em grupo, por exemplo, não seria mais focada apenas nas informações sobre um determinado evento histórico, mas também na colaboração mútua, no desenvolvimento da capacidade de explanação do aluno, nos recursos que ele utilizou para apresentar o trabalho, no reconhecimento dos tipos de fontes de informação, na capacidade de articulação do conhecimento e das visões de mundo etc...

Hibridismo

Quando se pesquisa sobre a proposta de ensino híbrido, na contemporaneidade, a constatação é de que ela não significa apenas uma mistura do ensino virtual com o presencial. Nela, está intrinsecamente implícita a aplicação das metodologias ativas e a mudança na perspectiva de ensino em relação ao papel dos alunos e professores, como foi explicado acima.

Nenhum desses conceitos intrínsecos é estranho à Rede Pública Municipal do Rio de Janeiro, pois há vários anos eles vêm sendo postos pela Secretaria Municipal de Educação e abraçados por centenas e centenas de professores que dela fazem parte. Nesse contexto, reforçam-se as necessidades de incorporar as tecnologias às práticas pédagógicas e dedesenvolver ações de formação de professores, frente às atuais competências digitais.

No ensino híbrido, a função do tempo remoto é não só a de integrar a Educação à tecnologia, que hoje permeia tantos aspectos da vida social, da comunicação e da informação. Teria também a incumbência de ratificar a responsabilidade do aluno com a sua própria aprendizagem e com a possibilidade que ele tem de encontrar caminhos mais relacionados aos seus interesses. Lúcia Dellagnelo explica que, dentro desse contexto, faz-se necessário que o professor, ao desenvolver os componentes curriculares, pense na maneira como vai integrar atividades remotas e presenciais.

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Rodrigo Rodrigues, do canal Geobrasil do Youtube e professor da Rede. Foto: arquivo pessoal

Antes da pandemia, o professor de Geografia Rodrigo Rodrigues já utilizava seu canal no YouTube, o Geobrasil, para complementar informações sobre o que era trabalhado em sala de aula e desenvolver atividades. O canal também servia para os estudantes revisarem pontos importantes.

"Mas, antes de indicar os vídeos, eu desenvolvia uma metodologia de estudos para os alunos conseguirem se adaptar melhor à proposta online. É fundamental ensinarmos como devem lidar com o ensino híbrido, pois ele é bem diferente do ensino presencial. É preciso sistematizar processos, fazer o passo a passo, montar um cronograma, dar suporte, pois aprender sem a presença física do professor exige maturidade e sabemos que nem todos os estudantes atingiram esse ponto", explicou Rodrigues acerca de sua experiência.

No modelo híbrido de Educação, o ensino presencial também exerce papel fundamental e imprescindível, já que não se trata de abandonar o que se sabe. Nele, o professor continua sendo fundamental para o cumprimento dos componentes curriculares, mas também incentiva os alunos a buscarem novos conhecimentos, estimula o debate e a articulação da aprendizagem com a realidade da classe e de cada um, propõe projetos comuns, contribui para que desenvolvam suas preferências e vocações, tira dúvidas...

A grande inquietação do professor da E.M. Presidente Eurico Dutra, no processo de ensino, é a construção de uma comunicação acessível e contextualizada com a realidade de seus alunos, para que possa estabelecer com eles uma relação afetiva e de cumplicidade. E, para Rodrigo Rodrigues, o modo presencial é o momento mais eficiente para que isso aconteça. "Entendo que, antes de ensinar algo a alguém, é preciso ter o mínimo de informação sobre esse alguém. O contato entre seres humanos ativa circuitos emocionais. A presença física e a experiência vivida é fundamental para construir laços", conclui.

 
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