A Jornada de Planejamento e Formação Pedagógica 2022, que aconteceu entre os dias 2 e 4 de fevereiro, contou com lives e palestras voltadas para o Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e para a Educação Infantil.
A palestra de abertura foi com o educador António Nóvoa, reitor honorário da Universidade de Lisboa.
Confira os temas que foram abordados com foco no Ensino Fundamental e na EJA:
Habilidades de letramento na aprendizagem de todas as áreas, por Magda Soares
Doutora em Educação e professora da UFMG, Magda Soares iniciou sua apresentação explicando a diferença entre alfabetização e letramento. Segundo a educadora, a alfabetização é a apropriação do sistema alfabético e ortográfico, enquanto o letramento é o desenvolvimento de habilidades de ler e interpretar textos e de produzir textos.
Magda Soares comentou que a palavra “letramento” veio, de certa forma, substituir o conceito de alfabetismo funcional.
“’Funcional’ é muito ruim, parece que você só tem que aprender a ler para ‘funcionar direito’. Mas não é só isso. A palavra letramento surgiu para unir habilidade de compreender e interpretar textos de diferentes áreas, disciplinas, diferentes gêneros, ser capaz de construir textos diferentes demandas do contexto social e cultural”, elucidou.
A professora criticou o conceito de que leitura e escrita são ensinadas para que a criança aprenda a ler para, depois, usar a leitura para aprender.
“Isso reduz muito o papel da leitura e da escrita. Elas são muito mais do que isso: são fonte de vivências, de prazer, de lazer”, disse Magda Soares.
Na opinião da professora da UFMG, professores e até mesmo livros didáticos dos Anos Iniciais dificilmente trabalham com o desenvolvimento de habilidades de ler e de interpretar textos em todas as áreas.
A leitura e a interpretação de textos, segundo ela, podem acontecer mesmo na Educação Infantil.
“É o que eu chamo de ler antes de aprender a ler. Quando a professora conta uma história para a criança e desenvolve habilidades de leitura e de escrita conforme vai fazendo perguntas”, expôs.
Magda Soares destacou algumas habilidades necessárias para que uma pessoa leia, compreenda e produza um texto, como distinguir um fato de uma opinião, e defendeu o uso de variados tipos de texto.
“Sendo professora de História, de Ciências ou de Português, temos que nos habituar a usar textos para além do livro didático, porque a leitura do mundo não é a leitura do livro didático. É a leitura do jornal, da revista, de livros etc.”, destacou.
A educadora demonstrou como poderia se dar uma prática de leitura com os alunos, usando como exemplo um artigo da Revista Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) intitulado Ascensão e Declínio dos Tupis. Ao ler, Magda Soares apresentou possibilidades pedagógicas e conteúdos que poderiam ser trabalhados com os estudantes, como a orientação sobre localizações geográficas, a pesquisa do significado de algumas palavras que aparecem no texto e até uma discussão sobre a situação dos indígenas hoje.
Segundo Magda Soares, neste momento crítico de transição para o digital, é indispensável saber orientar os alunos.
“Não há como fugir disso. Mas também não há como aderir à cultura digital e deixar a cultura do escrito de lado, como muitas escolas fizeram no período de pandemia”, ressaltou.
“Devemos procurar construir o futuro pensando em reinventar o ensino para que ele torne nossos alunos capazes de ler e escrever de maneira proficiente. Planejar uma forma que nos leve a mais sucesso na leitura e na escrita de todas as disciplinas”, finalizou.
Multiletramentos e letramento matemático: competências transversais para aprendizagem, por Kátia Smole
Kátia Smole, doutora em Educação e diretora do Instituto Reúna, organização sem fins lucrativos que trabalha para colaborar com a implementação da BNCC, defendeu que a pedagogia dos multiletramentos é necessária para transformar o aluno de consumidor acrítico em um analista crítico, e é a tarefa da escola.
Atuando há mais de 20 anos na área de Educação, ela destacou como habilidades da Matemática podem contribuir para o desenvolvimento do raciocínio lógico e para a aprendizagem das diferentes disciplinas.
“O letramento matemático traz diferentes formas de letramento – dedutivo, indutivo, probabilístico, a ideia da espacialidade –, importantes, também, para o contexto da alfabetização, da Arte, da História, da Geografia, do raciocínio analítico, da resolução de problemas, da argumentação baseada em evidências”, expôs.
Na opinião da educadora, é um engano achar que o raciocínio lógico é característico apenas da Matemática e a espécie humana já nasce com uma capacidade lógica que se desenvolve pela vida, podendo ser potencializada na escola.
Os multiletramentos, segundo a diretora do Instituto Reúna, devem ser pensados por todos, desde a Educação Infantil, por meio de um ambiente propício para discutir o erro e para desafiar os alunos a investigar, com formas diversas de trabalhar e problematizar.
“O tipo de atividade que damos em sala, o ambiente, dá espaço para a pesquisa? Vou estudar textos multimodais? Para isso, não importa a disciplina. Em Educação Física, por exemplo, como é retratado o corpo humano nas diferentes mídias? Não se trata apenas de passar um texto no quadro para o aluno copiar, mas criar um espaço onde tenhamos boas perguntas e façamos investigações”, orientou Smole.
“Precisamos fazer o novo. Trazer as múltiplas linguagens do mundo para a sala de aula por meio de metodologias ativas que envolvam resolução de problemas, pesquisas e estratégias como aula invertida, estações de rotação para a realização de trabalhos interativos e aprendizagem mais individualizada”, concluiu.