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A Geração Y e o uso de tecnologias em sala de aula
13 Abril 2012 | Por Márcia Pimentel
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Foi o professor da Universidade de Toronto Don Tapscott, um entusiasta das novas tecnologias e uma espécie de guru dos negócios na internet, um dos primeiros a sair em defesa da geração nascida nos anos 1980, a primeira a crescer, ao menos nos países do hemisfério Norte, cercada pelas mídias digitais. Mais conhecida como Geração Y – assim batizada em função da moda, no Leste europeu, de dar nomes iniciados com a letra Y às crianças nascidas na época -, esse grupo se caracterizaria, segundo seus críticos, pela ansiedade, impaciência, imediatismo e dificuldade de lidar com a hierarquia e ainda pela pouca intimidade com processos cognitivos escritos mais profundos e complexos. Tapscott, contudo, afirma que esta geração tem inúmeras qualidades, dentre elas a facilidade de se expressar e de trabalhar em grupo, a independência, a abertura emocional, a autenticidade e os sensos de inclusão social e de inovação.ilustra_y_tecno

No Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (Ibmec), em 2007, constatou que, em nosso país, os jovens nascidos na década de 1980 não têm perfil homogêneo. Seja como for, críticos, defensores e pesquisadores são unânimes em relação à intimidade que esta geração tem com as novas tecnologias de comunicação (internet, programas de relacionamento, celular, etc). O fato de ser o primeiro grupo que cresceu sob a égide digital implicaria, na área de Educação, no uso desses avanços em sala de aula? A intimidade com tais tecnologias, aliada ao senso de inovação e demais qualidades descritas por Tapscott, estaria resultando em novas práticas pedagógicas por parte dos professores da Geração Y?

A resposta é sim no caso de Fernanda Lima da Costa, professora da Escola Municipal Roberto Burle Marx, localizada no bairro carioca de Jacarepaguá. “Fui criada entre as tecnologias, sempre trabalhei com elas e sempre busquei desenvolver atividades em que os alunos tivessem interesse”, disse ela. Nascida em 1981, Fernanda define os dois anos em que trabalhou no Laboratório de Informática da escola como um dos momentos mais produtivos de sua carreira. Isso porque ela atuava em parceria com os diversos professores, que requeriam dela o desenvolvimento de atividades relacionadas à tecnologia e a determinado assunto, como o corpo humano, por exemplo.

“O bom de trabalhar com as novas tecnologias é que os alunos não sentem que estão estudando e aprendendo. Na verdade, acho que tudo fica mais divertido quando utilizamos instrumentos além do giz e quadro negro. Aprender a dividir com uma barra de chocolate é bem mais gostoso do que aprender da forma tradicional”, avaliou Fernanda, que não usa uma ferramenta exclusiva - como um blog - para desenvolver atividades com os estudantes. Tudo depende do projeto, do assunto e do objetivo a ser atingido. Ela pode requerer que os alunos editem imagens em movimento no programa Movie Maker, ou que editem uma música usando o gravador e editor de sons, ou ainda desenvolvam qualquer outra coisa a partir de qualquer ferramenta digital disponível. “Ano passado, por exemplo, os estudantes fizeram paródias a partir do tema “dengue”. Usaram o gravador de voz para cantar o que criaram, capturaram as batidas rítmicas e, depois, juntaram tudo em um editor de som”, explicou a professora.

Para Fernanda, contudo, a utilização pedagógica das novas tecnologias em sala de aula não é, de forma geral, uma característica dos professores de sua geração. Nesse ponto, ela concorda com a colega Alessandra Pinto, professora da Sala de Leitura da mesma escola, 10 anos mais velha, que inscreveu três filmes, desenvolvidos junto com os alunos, no Festival Anima Mundi. “A nova geração tem muita facilidade de se apropriar das tecnologias, mas isso não se reflete no uso pedagógico das mídias digitais em sala de aula”, observou Alessandra.

Fernanda explicou que inúmeros outros professores de sua idade, ou mesmo mais velhos, até utilizam as tecnologias digitais na escola, mas não como ferramenta pedagógica inovadora: “Usam o editor de texto para escrever, lançam as notas em planilha do Excel e pedem para os alunos fazerem pesquisa na internet. Isso não é dar aplicação pedagógica às novas tecnologias. Dar esta aplicação às mídias digitais é uma questão de querer, depende da vontade do professor. Eu quis. Fiz um curso de Informática na Educação, onde aprendi a fazer isso”, afirmou.

Transformação paulatina

De fato, segundo Maria Elisabette Brisola Prado, pesquisadora do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade de Campinas (Unicamp) e professora do curso de Tecnologia e Mídias Digitais da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), os recursos tradicionais de ensino (quadro negro, exercícios e provas) continuam sendo usados prioritariamente pela maioria dos professores de todas as idades. Esse cenário, contudo, vem sendo transformado aos poucos. Os próprios recursos tecnológicos têm favorecido a disseminação de novas propostas pedagógicas, que sugerem outras formas de ensinar. Mas, como Fernanda havia dito, o fato de utilizar tecnologias na prática escolar não significa, necessariamente, que o professor esteja integrando as mídias à atividade pedagógica.

Na avaliação de Maria Elisabette, um professor pode usar a tecnologia com base numa concepção reprodutora de ensino, como passar um vídeo que trate de um assunto visto em sala de aula. Ou ainda solicitar que os alunos usem um editor de texto para fazer uma cópia. Para ela isto é pouco numa perspectiva educacional que conceba o uso das mídias de forma integrada ao processo de ensino e aprendizagem. De acordo com a pesquisadora, a integração entre tecnologia e pedagogia requer do professor uma postura que conceba a aprendizagem como um processo que o aluno constrói, o que é bem diferente da postura que habitualmente se adota no sistema escolar. “Na perspectiva da integração, a mediação pedagógica do professor deve propiciar que as informações veiculadas pelas mídias sejam interpretadas, ressignificadas e, possivelmente, representadas em outras situações de aprendizagem, usando ou não os recursos da mídia”, explicou Maria Elisabette.

Talvez a Geração Y dos professores brasileiros ainda seja tímida em relação à integração entre novas tecnologias e pedagogia não apenas por conta do peso histórico do ensino tradicional, mas também por não se sentir ainda totalmente “filha” das mídias digitais. “Embora já tivesse contato com computadores há muitos anos, só pude comprar um há pouco tempo. Além disso, tive que aprender a mexer neles. As crianças do século XXI é que praticamente já “nascem sabendo” a usar essas tecnologias, porque os pais têm computador e máquina digital em casa. Os meninos e meninas (de dois a seis anos) daqui da creche acham que fotografia é para colocar no Orkut”, observou Pepita Thomaz Jardim, agente de creche nascida em 1982 e que trabalha em um premiado projeto de fotografias digitais da Creche Municipal Margarida Gabinal, na Cidade de Deus.

 
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