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Mudança de hábito
04 Abril 2013 | Por Márcia Pimentel
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batalha das_flores_3Com a missão de remodelar a cidade, Pereira Passos assinou, poucos dias depois de assumir o cargo de prefeito, uma série de decretos que preconizavam o que estava por vir: a suspensão de obras e reformas sem licença da Prefeitura; a “apanha e extinção de cães vadios”; a proibição de urinar, cuspir e pedir esmola na rua, de criar porcos, de fazer comércio ambulante de leite de vaca tirado na hora, de vender miúdos em tabuleiros descobertos etc. A remodelação da cidade ansiada pela República daqueles tempos exigia, além de uma grande reforma urbana, mudança de hábitos e nova disciplina, dentro dos parâmetros citadinos já vigentes em metrópoles como Paris e Londres.

A construção da Avenida Central, ligando o porto à Avenida Beira-Mar, na Glória, era o ícone desses novos tempos que Pereira Passos queria imprimir ao Rio de Janeiro. Além DESFILE AV_CENTRAL_3do corte do Morro de São Bento e da derrubada dos Morros do Castelo e do Senado, que deixou mais de 3 mil pessoas desabrigadas, segundo estimativa de historiadores; além da nova avenida com iluminação elétrica e edificações afrancesadas decoradas com mármore e cristal, em substituição aos cortiços e degradadas habitações coloniais; além das vitrines das novas lojas de artigos finos e importados; além de tudo isso, a regeneração do centro da cidade também valeu novas regras de vestimenta.

Segundo o historiador Nicolau Sevcenko, não podiam mais caminhar pela nova avenida aqueles que não estivessem trajados decentemente. “Para os homens, isso implicava em calçados, meias, calças, camisa, colarinho, casaco e chapéu”, escreve ele na introdução do volume três de História da Vida Privada no Brasil. Paralelamente às novas regras de se vestir – em tempos em que parte BAILE-PROIBIDOconsiderável da população sequer tinha dinheiro para comprar sapato –, revistas e colunistas sociais passaram a incentivar o “desfile de moda” na “passarela” da Avenida Central, que passou a ser o centro nervoso da vida social e cultural da capital brasileira, além de modelo do imaginário republicano.

Na remodelada capital do país, agora vitrine da República, também ficaram proibidos os rituais e os cultos de origem africana, a capoeira, os tambores e as danças “sensuais”, como o maxixe. Até mesmo o carnaval assume ares europeizados, não se tolerando mais o entrudo e os blocos de mascarados. O carnaval, agora, passa a ser aquele das batalhas de flores e dos corsos em carro aberto, complementando a ambiência parisiense perseguida por Pereira Passos.

 
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