Sucesso e realização são dois conceitos frequentemente confundidos. Enquanto o primeiro invoca um reconhecimento que é externo ao sujeito, o segundo remete a uma satisfação voltada para o seu interior. O sucesso pode corresponder ao estereótipo daquilo que é sonhado pela maioria. Já a realização atende aos anseios que, muitas vezes, repousam escondidos sob camadas e mais camadas de expectativas socialmente compartilhadas e que, diferentemente do sucesso, podem não ter absolutamente nenhum glamour. Tudo se complica ainda mais porque costumamos estabelecer uma distinção entre conquistas pessoais e profissionais, o que, por si só, cria uma impossibilidade de satisfação integral.
No ano de 1936, o filósofo Richard Gregg escreveu O Valor da Simplicidade Voluntária, um ensaio que propunha o equilíbrio entre crescimento interior e exterior. Uma década antes, ele havia viajado para a Índia, a fim de conhecer Gandhi, que lhe serviu de inspiração. Por sua vez, Gregg foi referência para importantes nomes da cultura dos Estados Unidos, como Martin Luther King Jr. e Aldous Huxley. Nos anos 1970, Duane Elgin retomou a proposta de Gregg e sua opção por uma vida mais simples, contribuindo na divulgação do modelo com o livro Simplicidade Voluntária. Na atualidade, o movimento tem como bandeira a ideia de que “tempo é melhor do que dinheiro” e, assim, recomenda “viver mais com menos”.
Uma das fundadoras do movimento contemporâneo pela simplicidade voluntária é a escritora Vicki Robin, que alerta contra os riscos do consumismo. Muitas vezes, a busca pelo alto poder aquisitivo parece justificar escolhas profissionais de alto retorno financeiro, mas de baixo poder de realização. “Quando você compra o que é necessário para sobreviver, há muita alegria em relação ao valor gasto. Quando é por conforto, a alegria é menor. Depois de certo ponto, comprar não dá mais felicidade.”
Vale lembrar, ainda, uma mudança de panorama nos tempos atuais, que é o aumento da longevidade. Ele impõe novos desafios ao prolongar, também, a vida produtiva. Sendo assim, não chega a ser raro que alguém atue, durante anos, em um dado ramo de atividade e que, depois, na maturidade, venha a descobrir uma nova vocação. Diante de metas e de empenho, o resultado aparece naturalmente, e, neste caso, acompanhado da recompensa, em forma de plenitude e bem-estar. Quanto mais cedo essa perspectiva for assimilada, melhor. O ideal mesmo é que ela aconteça já nos bancos escolares.
Projeto de Vida do GEC tem foco abrangente
Lançado em 2011, o programa Ginásio Experimental Carioca aposta na educação integral. Mas não é só no horário de funcionamento, das 8h às 16h, que o GEC se diferencia. Sua proposta contempla a formação com autonomia plena. E por ser dirigido ao segundo segmento do Ensino Fundamental, ou seja, do 6º ao 9º ano, se insere em um momento crucial para as escolhas de encaminhamento do futuro. Também os professores necessitam ter dedicação exclusiva à escola, de forma a construir uma relação baseada na confiança e no afeto mútuo com seus alunos. “Sonhar é uma condição humana. O Projeto de Vida é uma opção, oferecida pelo GEC, pela qual uma escola vocacionada amplia o escopo e traz condições mais claras para a realização dos sonhos individuais”, resume Bárbara Portilho, coordenadora do programa.
Muito embora o currículo escolar dê ênfase a Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Inglês, há atividades de estudo dirigido e, ainda, disciplinas eletivas que vêm ao encontro das inclinações individuais. Atualmente, existem 28 GECs na Rede Municipal de Ensino. Segundo Bárbara: “O GEC comprovadamente elevou a condição acadêmica dos alunos, em comparação a outros modelos de tempo integral anteriores a ele. A relação emocional mais próxima entre alunos e professores vai integrando as competências, com muita naturalidade, aos planos de cada menino.” Até os ex-alunos são convidados a participar, como motivadores das turmas que estão chegando.
O modelo tem sido avaliado por representantes da Argentina, do Uruguai e da Espanha, que desejam conhecer melhor suas especificidades. Em geral, um dos pontos fortes do GEC tem, também, um componente geográfico, ao valorizar as potencialidades da comunidade em que a escola está inserida. Sendo assim, em 2013, a E.M. Chile (4ª CRE) se transformou no GEC do Samba – Ginásio Experimental Carioca Francisca Soares Fontoura de Oliveira, localizado em Olaria, que é um bairro de referência para agremiações carnavalescas, na região da Leopoldina. No mesmo ano, a E.M. Vicente Licínio Cardoso (1ª CRE) virou o Ginásio Experimental de Artes Visuais (GEA), inserido numa área de farta oferta cultural, no Centro. Da primeira leva, em 2011, a E.M. Anísio Teixeira (11ª CRE), na região do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, virou o GEC Poliglota, que oferece cursos de línguas estrangeiras, como francês, espanhol e árabe. Sem falar no Ginásio Experimental Olímpico e Paralímpico, atualmente com três unidades, em Santa Teresa, Pedra de Guaratiba e Caju. A quarta deve ser inaugurada, em breve, na E.M. Nelson Prudêncio (11ª CRE), na Ilha do Governador.
Como bem lembra Bárbara Portilho, “o aluno precisa escolher estar ali” por ocasião da matrícula, no início do ano letivo. Um pré-adolescente precisa se sentir bastante motivado para ficar na escola o dia inteiro. As matérias eletivas – que vão de fotografia a esportes, passando por artes cênicas – também são resultado de acordos feitos em conjunto, dentro do projeto de cada escola. “O mais interessante é que, nas eletivas, os alunos se organizam sem o parâmetro do ano escolar, ou seja: numa mesma turma, por afinidade do talento, podem conviver todos os alunos do segundo segmento”, ressalta Bárbara. Porque, idealmente, as estruturas que são dadas no mundo ao nosso redor é que devem estar a serviço da realização pessoal, e não o contrário.