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Juventude sem fronteiras
28 Dezembro 2015 | Por Sandra Machado
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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, afirma que estamos entrando na “era da mobilidade”. O conceito embute em si a busca pela oportunidade de uma vida melhor, que nos livre das desigualdades e, ao mesmo tempo, acelere o progresso mundo afora. O avanço das tecnologias de informação e comunicação (TICs) tem fortes implicações nesse fenômeno, justamente por causar uma importante transformação na experiência cotidiana. Com a globalização, vêm se formando comunidades de interesse conectadas em redes que ultrapassam os limites geográficos. Atualmente, a captação de talentos já se dá num nível de disputa de magnitude internacional. Mais do que nunca, jovens daqui se interessam por conhecer outros países, enquanto o Brasil experimenta o que já é considerado como segunda onda migratória de atração de estrangeiros.

semfronthomeDe acordo com o primeiro volume da série Estudos Estratégicos sobre Políticas Públicas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), intitulado Imigração como Vetor Estratégico do Desenvolvimento Socioeconômico e Institucional do Brasil, é a capacidade de gerar, atrair e reter talentos o trunfo que determina o sucesso dos países mais desenvolvidos. Ainda segundo a pesquisa, o Brasil corre o risco da chamada “drenagem de cérebros” (brain drain), que acontece quando pessoas com alta ou altíssima escolaridade (a partir de 17 anos de estudo) decidem viver no exterior. A escassez de recursos humanos seria um dos principais gargalos que ameaçam o grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Com base nas pesquisas da FGV, o Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) realizou, em 1º de dezembro, um seminário que pretende estabelecer políticas públicas para atrair profissionais altamente qualificados do exterior, como forma de suprir um déficit de investimento em educação no passado recente do país. Mesmo o programa Ciência Sem Fronteiras foi criado pelo governo federal, em 2011, não apenas para financiar a graduação e pós-graduação de brasileiros no exterior, mas também para atrair pesquisadores interessados em se fixar no Brasil.

Ainda segundo o dossiê da FGV, o Brasil possui, hoje, fluxos relativamente equilibrados de entrada e de saída de pessoas qualificadas. Ao mesmo tempo que cada vez mais jovens procuram formas de fazer um intercâmbio fora, os estrangeiros que vêm para cá possuem uma qualificação considerada média (entre 9 e 15 anos de escolaridade). A baixa incidência de conflitos de ordem política, étnica ou religiosa faz do Brasil um local apreciado e tem atraído profissionais na faixa entre 20 e 34 anos – a mesma sobre a qual incide o maior nível de desemprego nos países da União Europeia. No entanto, a Lei no 6.815, que regulamenta o trabalho de estrangeiros, se encontra bastante defasada, uma vez que foi promulgada em 1980, ainda sob o regime militar.

Brasileiro tipo exportação

Ao agilizar os fluxos de informação, a mídia digital modifica valores, interesses e hábitos sociais, influenciando o processo de construção da identidade. Somada à circulação de ideias, a facilidade dos deslocamentos pelos meios de transporte modernos e a elevação do poder de compra estimulam na juventude o desejo de vivenciar outras culturas. Muito embora as migrações sejam tão antigas quanto a humanidade, no presente momento histórico já se reconhece a figura do chamado “imigrante econômico”, ou seja, quem sai do próprio país pensando em melhorar de vida. Nas décadas de 1980 e 1990, cerca de 3,5 milhões de brasileiros se encaixavam nesse perfil, buscando preferencialmente os Estados Unidos e o Japão.

quintana

Jovens à procura de qualificação acadêmica compõem o grupo dos migrantes temporários. Em geral, eles tentam combinar um curso de aperfeiçoamento de idiomas com a possibilidade de trabalho remunerado, a fim de recuperar parte do capital investido. Estudantes brasileiros costumam trabalhar em hotéis, lojas de departamento, cafés, restaurantes, parques e até em estações de esqui. Mas, para dar esse salto de qualidade, é preciso dominar minimamente a língua do lugar de destino escolhido, o que demanda dedicação no estudo dessas disciplinas ao longo da vida escolar. Quanto mais cedo começar esse tipo de estudo, melhor. Pesquisa da University College, de Londres, afirma que a idade ideal para se aprender uma segunda língua é entre 5 e 10 anos, fase em que as crianças se iniciam no Ensino Fundamental.

Estudo de idiomas abre perspectivas

O documento Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.37-8), do Ministério da Educação (MEC), reforça os benefícios desse aprendizado também ao longo do avanço curricular: “O desenvolvimento da habilidade de entender/dizer o que outras pessoas, em outros países, diriam em determinadas situações leva, portanto, à compreensão tanto das culturas estrangeiras quanto da cultura materna. Essa compreensão intercultural promove, ainda, a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento. Há outro aspecto a ser considerado, do ponto de vista educacional. É a função interdisciplinar que a aprendizagem de Língua Estrangeira pode desempenhar no currículo. O benefício resultante é mútuo. O estudo das outras disciplinas, notadamente de História, Geografia, Ciências Naturais, Arte, passa a ter outro significado se em certos momentos forem proporcionadas atividades conjugadas com o ensino de Língua Estrangeira, levando-se em consideração, é claro, o projeto educacional da escola. Essa é uma maneira de viabilizar na prática de sala de aula a relação entre língua estrangeira e o mundo social, isto é, como fazer uso da linguagem para agir no mundo social. A aprendizagem de Língua Estrangeira no Ensino Fundamental não é só um exercício intelectual de aprendizagem de formas e estruturas linguísticas em um código diferente; é, sim, uma experiência de vida, pois amplia as possibilidades de se agir discursivamente no mundo”.

Uma das iniciativas mais concorridas e que recebe candidaturas de todo o Brasil é o Programa Jovens Embaixadores, da Embaixada dos Estados Unidos. Criado em 2002, tem como alvo alunos da rede pública, entre 15 e 18 anos, que sejam lideranças em suas comunidades. Os selecionados viajam em janeiro para passar três semanas nos Estados Unidos. Na primeira, conhecem a capital federal (Washington D.C.), visitam escolas e projetos sociais e participam de reuniões com organizações do setor público e do privado, além de oficinas sobre empreendedorismo. Então, divididos em grupos menores, seguem para outros estados, onde são recebidos por famílias anfitriãs, frequentam aulas nas escolas locais e fazem apresentações sobre o Brasil para jovens da mesma faixa etária. A partir dessa experiência, vários Jovens Embaixadores já conseguiram, também, bolsas de estudo para cursos de graduação em universidades americanas.

destinos

O Brasil como destino

Vindos dos Estados Unidos, Japão, Paraguai, Portugal e Bolívia, majoritariamente, quase dobrou o número de imigrantes residentes em nosso país, segundo o Censo 2010: de 143.644 que viviam no Brasil em 2000, passaram a 268.201 em 2010, com um aumento de 86,7%. No entanto, a pesquisa revela que 65% dos imigrantes do período são brasileiros que deixaram o país para trabalhar e voltaram – por isso, são chamados “imigrantes de retorno”. Com a internacionalização da economia e o aumento do impacto da recessão global a partir de 2008, houve a reconfiguração do fluxo migratório no mundo, e o Brasil voltou a ser um país atraente para estrangeiros. Mais recentemente, a maior procura é por parte de africanos e latino-americanos, entre os quais se destacam os argentinos, uruguaios, bolivianos e paraguaios, mas também os congoleses e haitianos.

De acordo com a pesquisa da FGV, entre os profissionais estrangeiros autorizados a trabalhar temporariamente no Brasil, a maioria presta serviço a bordo de embarcações ou plataformas nos setores de óleo, gás e energia, mas também de embarcações de turismo. É frequente a vinda de profissionais especializados na implantação de equipamentos industriais. Quanto às autorizações permanentes, a maior parte é concedida a administradores, diretores, gerentes e executivos com poderes de gestão. Duas categorias que apontam crescimento de estrangeiros por aqui são, ainda, os artistas e os desportistas.

Autoridades brasileiras calculam que, desde o terremoto de 2010 no Haiti, cerca de 2.600 pessoas procedentes desse país da América Central chegaram ao Brasil através de rotas amazônicas, seja pelo Peru ou pela Bolívia. Quase a totalidade recebeu visto de trabalho do governo federal e atua na construção civil e em supermercados. No entanto, imigrantes bolivianos e coreanos, que têm ocupação na indústria de vestuário e no comércio de alimentos, respectivamente, já foram encontrados em situação análoga à da escravidão.

História cíclica

O Brasil já foi rota da imigração em diversos períodos. O processo teve início em 1534, com a divisão do território em capitanias hereditárias, e ganhou força em 1549, com a criação do Governo-Geral, que atraiu muitos portugueses. Entre 1580 e 1640, período no qual as coroas de Espanha e Portugal estiveram unidas, uma grande leva de espanhóis desembarcou aqui. Já o movimento lusitano atingiu números expressivos na primeira metade do século XVIII, quando só em Minas Gerais entraram, aproximadamente, 900 mil pessoas.

A partir do século XIX, o ciclo migratório se intensificou. Entre a abertura dos portos às nações amigas, em 1808, e a abolição da escravatura, em 1888, cerca de 700 mil estrangeiros entraram no Brasil. O incentivo à vinda de imigrantes como força de trabalho trouxe ao país o dobro desse quantitativo até o fim dos anos 1950, entre alemães, italianos, japoneses, sírio-libaneses e chineses, principalmente.

Fontes:
Site da FGV, Site da Embaixada Americana, Portal UOL-Geografia, Portal Planeta Educação, Revista Exame
REIS, Hiliana. Globalização, comunicação intercultural e mediações tecnológicas. Comunicação e Informação, v.7, n. 2, p. 254-263, jul/dez 2004.

 
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