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O fascínio da infância pela animação
14 Setembro 2016 | Por Ivan Kasahara
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Mesmo que há tempos a linguagem da animação tenha deixado de ser vista como algo exclusivamente voltado para o público infantil, ela ainda mantém uma estreita relação com crianças e jovens. Um exemplo disso é a seleção de filmes da 14ª edição do Festival Internacional de Cinema Infantil (Fici), de 16 a 25 de setembro, que entre 121 produções do mundo inteiro contém 71 animações, feitas com diferentes técnicas.

Para a coordenadora pedagógica do festival, Lilia Levy, essa relação é baseada em um elemento compartilhado pela criança e pelo cinema: a imaginação. “Mesmo com todos os recursos da computação, o cinema ao vivo ainda tem limitações intransponíveis. Os filmes de animação saem da cabeça do artista para a tela através do desenho, oferecendo um clima de fantasia que a criança percebe ser semelhante ao de seus sonhos e pensamentos. Sempre será fascinante e encantador”, diz Lilia.

Personagens da série Que Medo!: Aquitã, João e Hugo
Desenhos da série Que Medo! participam de festivais de animação

Na opinião do cineasta Marcos Magalhães, um dos diretores do Anima Mundi, segundo maior festival de animação do mundo, as crianças se beneficiam de uma abertura ilimitada à fantasia e à imaginação. “A linguagem da animação é a mais completa e abrangente que existe porque transcende idiomas e culturas diferentes e comunica num nível mais profundo que outras linguagens cotidianas, como a verbal e a escrita”, reflete.

Segundo Marcos, os efeitos da animação sobre as gerações mais antigas são perceptíveis. “Hoje em dia, quando filmes e personagens de animação já influenciaram diversas gerações após mais de um século de cinema, cada vez mais adultos também são capazes de manter viva e atuante esta forma de percepção infantil que, normalmente, seria abandonada ou desprezada por conta de uma pretensa ‘evolução’ de suas percepções. A animação caminha, então, para educar, inspirar e transformar pessoas de todas as idades”.


Atenção e respeito pela infância

Consciente do potencial da animação junto ao público escolar, a MultiRio vem se dedicando, há anos, a produções que possam contribuir para o desenvolvimento infanto-juvenil. Vencedora de prêmios nacionais e internacionais, a empresa participa, em 2016, das mostras competitivas do Fici (com Aquitã, o indiozinho) e do Anima Mundi (como mesmo Aquitã, o indiozinho, além de Hugo, o monstro e Voa, João), cuja versão carioca está agendada para o final de outubro.

De acordo com o assessor-chefe de animação e artes gráficas da MultiRio, Marcelo Salerno, os princípios que norteiam as animações da empresa são o respeito e a atenção pelo público infantil. “Desde o cuidado na escolha do tema e no tratamento visual, passando pela pesquisa e pela consultoria de especialistas, tentamos atender às diferentes necessidades e situações da infância. Além disso, procuramos manter uma proximidade com a escola, com professores e alunos”, explica.

Para o animador Frata Soares, diretor e roteirista de Aquitã, o indiozinho e gerente de produto da MultiRio, muitas das produções da empresa, como as séries Juro Que Vi e Que Medo!, são tentativas de entender melhor o universo fantástico da infância. “Procuramos ter um olhar diferenciado ao tratar a criança com respeito, sem menosprezar suas capacidades e conhecimentos”, analisa.

Ferramenta na escola, influência para a vida

O fascínio exercido pela animação também é usado a favor da educação pelo projeto Anima Escola, iniciativa do Anima Mundi, que há 15 anos oferece oficinas de animação a escolas municipais. Algumas delas se tornaram produtoras regulares, até com premiações em festivais do gênero. No entanto, Marcos Magalhães ressalta que o principal benefício da iniciativa vem das situações vivenciadas durante o fazer dos filmes. “Segundo os relatos dos próprios professores, a intensidade dos processos vividos pela turma é sempre o melhor indicador do sucesso do projeto”, revela.

Para além das vantagens que a animação oferece como ferramenta pedagógica, sua influência sobre as crianças enquanto espectadoras é ainda mais importante. “Na tela grande, as coisas parecem acontecer de uma forma tão concreta que muitas vezes há um desligamento total da realidade. A criança passa a ser personagem do filme e vive as situações intensamente, chegando a se assustar com a volta da realidade, quando tudo acaba e a luz se acende”, diz Lilia Levy, para quem essa vivência pode ser tão marcante a ponto de provocar mudanças de comportamento e despertar interesses definitivos. “Daí a necessidade de se pensar em um conteúdo adequado, capaz de influenciar positivamente e contribuir na formação pessoal”, completa.

Frata Soares concorda e assume para si e seus colegas um dever extra. “Como para as crianças ainda não há a separação do mundo real e o da fantasia, a conexão é imediata. Por isso torna-se indispensável, por parte de nós, produtores, o cuidado e a responsabilidade com o conteúdo que é transmitido para esse público”, conclui.

 
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