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VII Semana de Alfabetização: confira os principais temas
16 Setembro 2019 | Por Fernanda Fernandes e Larissa Altoé
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Com o objetivo de promover a reflexão sobre a alfabetização na Rede Pública de Ensino do Rio de Janeiro, foi realizada entre os dias 9 e 13 de setembro a VII Semana de Alfabetização. O evento, promovido pela Coordenadoria de Educação Básica, por meio da Gerência de Ensino Fundamental I, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, incluiu palestras, painel e mesa-redonda, além de atividades organizadas pelas próprias Coordenadorias Regionais de Educação (CREs).

Nesta edição, com o tema A Alfabetização Carioca no Século XXI, especialistas da área de Educação e professores da Rede Municipal falaram sobre a teoria e a prática do trabalho de alfabetização com as crianças, as diferentes linguagens e modos de aprender na alfabetização e práticas na Educação de Jovens e Adultos, entre outros. A VII Semana de Alfabetização contou com a transmissão ao vivo da MultiRio pelo Facebook (assista aos vídeos na íntegra em www.facebook.com/MultiRio).

O Portal MultiRio destaca, a seguir, os principais assuntos abordados nos dias das palestras da VII Semana de Alfabetização.

Métodos eficazes de alfabetização

Sandra Bozza, formada em Letras pela PUC-PR e mestra pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa (Portugal), ofereceu a palestra Como a criança aprende na alfabetização: teoria e prática. “Não se deve iniciar a aquisição da língua escrita pelas suas menores unidades, pontilhamento, grafismos. É maçante e não faz sentido. Não vemos textos no mundo com uma sílaba só. Na América Latina, só o Brasil ensina desse modo. É preciso mergulhar as crianças em livros, na poesia de Drummond, por exemplo”, defendeu Sandra, especialista em aquisição de leitura e escrita.

A professora Sandra Bozza, uma das palestrantes do evento (Foto: Larissa Altoé).

Uma das experiências escolares que ela utilizou em sua palestra foi a de uma escola em Itabira, Minas Gerais, na qual a professora da Educação Infantil usou o poema Lagoa, de Carlos Drummond de Andrade (nascido na cidade), para trabalhar vogais, traços, espaços etc. A experiência das crianças foi transformada depois em livro impresso, ilustrado e assinado pelos alunos.

“As crianças precisam adquirir o hábito de ouvir a fala a partir da leitura de livros e não apenas da fala do cotidiano. Depois dessa imersão, a professora pode desenvolver uma série de atividades, como escrever no quadro, na cartolina ou no papel, lendo o que está escrevendo. Assim, as crianças vão aprendendo que lemos e escrevemos da esquerda para a direita, de cima para baixo, e que existem palavras grandes e pequenas. Ler não é apenas decodificar sinais, mas produzir sentido a partir do que é lido”, explicou a especialista.

Para Sandra, o principal é proporcionar o contato com a literatura para as crianças desde a Educação Infantil. “O fundamental é despertar o desejo dos pequenos na aquisição da capacidade de ler e escrever. E isso se faz, primordialmente, seduzindo as crianças com boas histórias, poemas e cantigas”. Sandra Bozza recomendou também não deixar os estudantes sentados em suas carteiras por horas a fio. “Faça atividades em que os alunos levantem. Há espaço para brincadeiras, música e imaginação”, disse.

Segundo ela, o segredo para estimular a escrita é dar uma função social ao que é escrito. Podem ser usados bilhetes, avisos, convites. O importante é que as crianças escrevam com propósito de serem lidos por outras pessoas, além da própria professora. Para os que estão começando, ela indica textos feitos em conjunto, nos quais toda a turma decide o conteúdo, a professora escreve e os alunos assinam.

Sandra Bozza compartilha a teoria de que a aquisição da leitura e da escrita é uma construção que parte do social para o interior da criança. “Não é para encerrar a brincadeira no Ensino Fundamental, mas continuar envolvendo a criança com a leitura e ir além. É um processo no qual se vai percebendo que, com 26 letras, é possível escrever o que se fala e o que se pensa. A linguagem oral é o início de tudo e, aos poucos, com a leitura, a criança vai percebendo que há uma representação do que se fala na escrita. O desenvolvimento deve ser estimulado com atividades práticas”, concluiu.

Diferentes linguagens e modos de aprender

Professoras da Rede Municipal e Paula Cid Lopes, doutora em Educação e professora da Faculdade de Educação da Uerj, participaram do painel de práticas docentes O trabalho com diferentes linguagens e os modos de aprender na Alfabetização.

Professoras Lyvia Santos (à esquerda) e Juliana Ferreira, criadoras do canal Redescobrindo (Foto: Fernanda Fernandes).

Juliana Rebelo Ferreira e Lyvia Teixeira Santos, professoras da E.M. Desembargador Ney Palmeiro (7ª CRE), em Jacarepaguá, apresentaram seu canal no YouTube – o Redescobrindo –, uma proposta de reforço digital por meio de videoaulas voltada para estudantes em fase de alfabetização. As aulas transitam por diferentes temas e também propõem desafios práticos como, por exemplo, a construção de um terrário.

Suellen da Roche Gomes Junger, professora da E.M. Artur Azevedo (6ª CRE), na Pavuna, ressaltou a importância da troca de experiências entre professores por meio da internet. Suellen criou uma conta no Instagram (@professorasuellenrocha) que funciona como um portfólio digital das atividades que realiza com sua turma, a fim de mostrar seu trabalho e inspirar outros docentes.

Professora da E.M. Grandjean de Montigny, também na Pavuna, Mara Lucia Laranjeira Malheiros apresentou o trabalho que desenvolve na sala de recursos da unidade. Pelo projeto nomeado Ctrl O (comando do Microsoft Word que abre uma nova página em branco), ela aposta no uso de jogos educativos, softwares e aplicativos gratuitos com seus alunos, incluídos e/ou que possuem dificuldades de aprendizagem.

Em sua fala, Paula Cid Lopes, professora da Uerj, onde atua no Departamento de Estudos Aplicados ao Ensino (DEAE), enfatizou que as práticas de alfabetização precisam contemplar os diferentes modos de aprender. “Não se trata de escolher métodos para aplicar. Pessoas aprendem de formas diferentes, logo, precisamos ensinar de formas diferentes. Quando escolho apenas um, deixo muitos alunos de fora.”

Paula Cid incentivou os professores a observar com atenção como o aluno interage com a leitura e com a escrita. “O erro mostra a maneira de pensar a escrita. Façam perguntas para compreender a lógica que ele está seguindo ao escrever. Como professores, precisamos entender como o aluno pensa, e não ele se adaptar a nós”, ressaltou. A professora da Uerj reforçou, ainda, a importância de a escrita e a leitura fazerem sentido para os estudantes, despertando sentimentos de pertencimento e identificação e explorando uma perspectiva interdisciplinar, com debates críticos para princípios de diálogo intercultural, diversidade, inclusão social e contextos educacionais reais.

O aprendizado e as estruturas cerebrais

Com o tema Cognição, afetividade e interação na Alfabetização, Jane Correa, professora titular da UFRJ e doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de Oxford (Inglaterra), ressaltou em sua palestra as transformações estruturais no cérebro das crianças geradas pela aprendizagem. “Estudos demonstram modificações provocadas pela alfabetização no cérebro. A aprendizagem é uma experiência transformadora e forma os conceitos com os quais pensamos”, disse.

A pesquisadora ressalta que é preciso repensar como lidar com o erro. “A simples correção de textos com caneta deveria ser abandonada, porque o resultado é frustração no aluno e no professor. A revisão do texto deve ter outra perspectiva – ater-se apenas ao conteúdo tratado naquele momento”. Jane contou que, quando o aluno recebe o texto que escreveu a lápis todo corrigido a caneta, ele enxerga apenas os erros que cometeu e escreve cada vez menos.

A psicóloga relata que passar pela escola sem aprender, aumenta a frustração do indivíduo. “O cérebro é uma estrutura moldada socialmente. O impulso vai sendo moderado com a reflexão e o desenvolvimento do autocontrole – o que se dá durante toda a infância e adolescência. O cérebro não nasce maduro. O raciocínio vai se desenvolvendo na medida da educação disponível. A maturação biológica não é suficiente. Há uma causalidade recíproca entre genética e ambiente. Habilidades não são binárias (sim ou não), mas são como espectros e dependem de contexto”.

Jane explicou que pedir para as crianças ficarem sentadas e não se agitarem é um problema para o aprendizado, porque aprender algo novo requer um esforço de cognição e a criança não possui controle inibitório desenvolvido. Para ficar quieta, “gasta” recursos na inibição do movimento, que deveriam ser dirigidos para o aprendizado.

Já André Codea, mestre em Ciência da Motricidade, falou sobre Neurociência na prática pedagógica. Segundo o especialista, o grande desafio da sala de aula é garantir que todos aprendam no tempo estabelecido. O professor aconselhou os colegas a valorizar a experiência de vida do aluno e trabalhar a partir dela, porque o interesse e a motivação aumentam.

“Piaget já nos alertava que a criança não é um adulto em miniatura. A criança não tem maturação cerebral. O cérebro se constrói socialmente junto com o outro e a cooperação em sala de aula deve ser incentivada. A criança que aprendeu pode passar para o colega em uma linguagem familiar a ambos”, disse André, professor de Educação Física da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, atualmente, atuando como gerente de Supervisão e Matrícula da 2ª CRE.

Ele sugeriu algumas estratégias para facilitar o aprendizado dos alunos. “A novidade e a surpresa ativam o circuito da recompensa. Devemos repetir estímulos que gerem dopamina (bem-estar) em sala de aula: palavras de motivação, providenciar um ambiente acolhedor e exercitar a escuta sensível. Além disso, o professor deve buscar sensibilidade emocional – senso de humor, alegria, rir dos próprios erros, respeitar as expressões individuais”.

Educação de Jovens e Adultos

A mesa-redonda Contribuições dos professores alfabetizadores do Creja na articulação entre saberes e práticas pedagógicas na Educação de Jovens e Adultos foi mediada por Hérica Marinate, da Gerência de Educação de Jovens e Adultos (Geja), e contou com a participação de Mônica Fajoses, Valéria Pubell e Daniel de Oliveira, professoras e coordenador pedagógico do Centro Municipal de Referência de Educação de Jovens (Creja).

No debate, os convidados falaram sobre o potencial da diversidade em sala de aula, sobre a importância de se valorizar a trajetória de cada aluno e sobre como articular o currículo. “A história de vida é um conteúdo alfabetizador interessante. É importante observar a estratégia de leitura que o aluno adquiriu ou associações que faz, por exemplo, para saber o destino de um ônibus ou para tentar obter alguma informação sobre seu time no jornal, inclusive olhando as fotografias. E é preciso pensar nossas propostas, se podem causar algum desconforto para o aluno. Falar sobre a família, por exemplo, pode ser doloroso para alguns. Não basta pensar apenas nas letras, mas também nos sentidos produzidos”, destacou Daniel. “Temos que valorizar o processo antes de valorizar o resultado. Qual é o objetivo do meu estudante? Se os pontos de partida são diferentes, os pontos de chegada também serão”, acrescentou.

Para Valéria, os professores devem deixar que os estudantes produzam suas próprias perguntas e fazer com que compreendam a educação como um direito. “O aluno precisa saber que não estamos fazendo um favor a ele. É um direito dele. E ele não pode sofrer novas exclusões em sala de aula.”

 

 
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