A prática de compostagem ganha cada vez mais importância diante dos graves problemas que o lixo tem gerado ao meio ambiente. Segundo o biólogo Jorge Tonnera, da Comlurb, só na cidade do Rio de Janeiro cada habitante produz, em média, 700 gramas de resíduos sólidos por dia. Aparentemente, pode não parecer muito, mas multiplicado pelo número de habitantes, isso significa cerca de cinco toneladas diárias.
Pouco mais da metade desse lixo é composta de matéria orgânica que, misturada a outros tipos de descarte, produz um lixiviado (também chamado de chorume) contaminado e fétido, altamente poluente do solo e do lençol freático. Produz ainda gases de efeito estufa, como o metano e o gás carbônico, que contribuem com o aquecimento global.
Além disso, a matéria orgânica corresponde ao maior custo de tratamento dos aterros sanitários. E em prédios, residências, escolas e comércio de gêneros alimentícios, a não disposição adequada do lixo ainda atrai ratos, moscas, baratas e outros vetores. Ou seja, o fato de não dispormos adequadamente o lixo que produzimos é de altíssimo custo ambiental, sanitário e econômico.
Urge a necessidade de aprendermos a gerir os resíduos do nosso dia a dia de forma autônoma e responsável. É uma questão de educação sanitária e ambiental. Os alunos precisam aprender a dar um destino correto aos resíduos que produzem. Várias escolas públicas municipais faziam compostagem de seu lixo orgânico, antes da pandemia, e possuem projetos neste sentido, mas algumas recomendações podem ajudar as unidades escolares que querem começar.
O que é compostagem?
É a transformação de restos orgânicos em um composto sólido parecido com terra, a partir da ação de microrganismos (bactérias e fungos) que decompõem os resíduos. Ou seja, é uma técnica de “imitar” a natureza, produzindo um ecossistema que transforma a matéria orgânica em nutrientes importantes para a vida vegetal. A diferença, é que, na compostagem, os resíduos orgânicos se degradam de forma induzida e controlada.
Materiais para fazer a composteira
Há várias maneiras de fazer a compostagem. A mais simples e barata é a técnica ensinada pela Comlurb, que utiliza uma lata de lixo tampada, onde serão depositados os restos orgânicos, e um outro recipiente, também com tampa, para despejar e maturar o composto.
Além disso, são necessários uma torneira, pedrinhas ou argila expandida, manta de drenagem, terra e matéria marrom seca, ou seja, folhas secas, ou capim seco, ou lascas de serragem (atenção! Não pode ser pó de serra). Também é preciso ter uma peneira grossa para usar no fim do processo.
Qual o tamanho ideal?
Isso depende da quantidade de lixo orgânico que se produz, mas, em média, uma lixeira de 60 litros costuma ser suficiente para uma ou duas pessoas. Em residências com três ou quatro moradores, o melhor é uma de 100 ou 120 litros.
Em prédios e escolas, a composteira e o local de maturação do composto podem ser de alvenaria. Se o terreno for extenso, todo o processo pode ser feito em canteiros a céu aberto.
Montagem
Encoste a torneira uns três dedos acima da base da lixeira e, com o auxílio de um lápis, marque o contorno do cano. Corte o círculo desenhado, com cuidado para que não fique maior que o necessário, pois é nesse furo que será encaixada a torneira.
Feito isso, jogue as pedrinhas (ou a argila expandida) no fundo da lixeira, cubra-as com a manta de drenagem e, depois, com uma camada de terra, de preferência o húmus, porque é rico em microrganismos. Pronto!
O próximo passo é colocar um montinho com resíduos orgânicos úmidos, como cascas e restos de alimentos, em cima da terra. Depois disso, jogue um pouco de folhas secas (ou o capim seco ou as lascas de serragem) e misture. Jogue mais um pouco por cima. O total de matéria marrom deve ter, aproximadamente, três vezes o volume do montinho.
Assista ao vídeo oara visualizar a montagem de uma composteira pelo biólogo Jorge Tonnera.
Alimentando, aerando e observando
Toda composteira precisa ser aerada. Como fazer isso? Os resíduos orgânicos, devidamente cobertos com a matéria marrom, precisam ser depositados e revirados de dois em dois dias (três vezes por semana). Revire o que está na composteira antes de colocar novo montinho de resíduos, pois é isso que garante a entrada de oxigênio.
No momento de revirar, também é preciso observar se a compostagem não está nem muito seca, nem muito úmida. Se necessário, jogue um pouco de água, com cuidado. O excesso de umidade gera o chorume, que, quando criado, pode ser retirado abrindo a torneira da composteira.
Neste caso, como é gerado por um processo correto de descarte, o chorume não é poluente. Ao contrário, é um ótimo fertilizante. Só que é preciso diluí-lo em 10 partes de água para que tenha o efeito correto e não mate as plantas.
O biólogo Jorge Tonnera chama a atenção para o fato de que produto desejável da compostagem é a matéria sólida e orgânica, usada como adubo, não o chorume. A umidade excessiva na composteira pode gerar efeitos indesejados, como vermes e mau cheiro, principalmente se a aeragem for incipiente.
O que pôr na composteira?
É preciso ter em mente que nem todos os alimentos têm o mesmo tempo de decomposição. Proteínas e gorduras demoram bem mais a se decompor do que cascas de legumes, por exemplo. Então, em composteiras menores, como as domésticas, o melhor é não jogar carnes e frituras dentro dela para não prolongar demais o processo de compostagem e, depois, não ter mais espaço para pôr novos resíduos.
Outro cuidado que se deve ter é com os alimentos cítricos. Mas o problema aqui é outro: o de não produzir um composto ácido que prejudique o solo e as plantas. Se sua composteira não for muito grande, o melhor é ser bem parcimonioso com as cascas de laranja, tangerina, limão...
Tonnera explica que, em função da quantidade de resíduos que as composteiras comunitárias suportam, em especial aquelas a céu aberto, não é preciso ter esses cuidados com as carnes, as gorduras e os cítricos.
Composto orgânico
Segundo o Manual de Compostagem da Comlurb, o volume total inicial de resíduos da composteira será reduzido em 60% e formará o composto, que deve ser despejado em um recipiente à parte para que mature e possa ser utilizado.
O composto tem cheiro de terra e cor de café. Sua maturação demora cerca de dois meses, mas se quiser reduzir esse tempo pela metade, ponha minhocas e gongolos dentro do recipiente.
Para usar o composto é preciso peneirá-lo. Se estiver compactado, revire-o até ficar solto e deixe-o secar, antes de passar pela peneira. Feito isso, está pronto para ser misturado com a terra e usado como adubo! Dê um espaço de pelo menos 15 dias, antes de nova adubação.
Dicas úteis
. Antes de começar a compostagem, acumule matéria marrom seca em um saco, pois vai usá-la sempre.
. Junte os resíduos orgânicos em um pote, já que eles só vão para a composteira de dois em dois dias.
. Quanto menores forem os resíduos (e a matéria seca), mais rápida sua degradação por fungos e bactérias. Cascas inteiras de banana, por exemplo, aumentarão o tempo do processo.
. Se quiser acelerar ainda mais a degradação dos resíduos, jogue gongolos (também conhecidos como piolho de cobra) dentro da composteira. Minhocas, só no recipiente em que o composto está sendo maturado.
. Sempre que colocar os resíduos (úmidos e secos), forme um montinho em vez de espalhá-los. Assim favorece o aumento de temperatura na composteira, que deve ser colocada em local, preferencialmente, sombreado e arejado.
. Observe sempre sua composteira! Ela é um ecossistema, que pode entrar em desequilíbrio, dependendo do tempo, temperatura e outros fatores. A aeração e a unidade certa são fundamentais.