Na época da transferência da corte portuguesa para o Brasil, o embaixador da Coroa Britânica em Lisboa era o irlandês lord Strangford. Era ele o principal encarregado de pressionar o príncipe-regente dom João VI a deixar a Europa o mais rápido possível. O objetivo era não permitir que as forças napoleônicas tomassem o país e tirassem proveito da colônia, vista como lugar onde poderiam compensar as perdas econômicas provocadas pelo Bloqueio Continental.
Lord Strangford acompanhou a transferência da família real para o Brasil e, aqui, tentou garantir todas as concessões e privilégios possíveis – tanto do ponto de vista econômico como dos direitos dos cidadãos do Reino Unido. Além de impostos mais baixos do que os pagos pelos portugueses, conseguiu, por exemplo, foro privilegiado para os súditos do rei da Inglaterra. Isso significava que eles só podiam ser julgados por um Juiz Conservador da Nação Britânica, cargo que era exercido por um brasileiro eleito pelos ingleses residentes no Brasil. A eleição do juiz ainda deveria ser aprovada pelo embaixador do Reino Unido, ou seja, Strangford.
Outra conquista dele foi a doação, por dom João VI, de um terreno na Gamboa, para que nele fossem construídos uma igreja anglicana e o British Burial Ground, conhecido por nós como Cemitério dos Ingleses. Afinal, eles não eram católicos. As crenças e rituais religiosos e fúnebres eram diferentes. Originalmente, o lugar também dispunha de um cais de desembarque para o sepultamento dos cidadãos britânicos que morriam a bordo, durante a travessia do Atlântico. Hoje, o cemitério é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e, desde a década de 1980, passou a aceitar o enterro de pessoas de qualquer nacionalidade.