É tarefa quase impossível andar pelas ruas do Rio de Janeiro e não se deparar com homenagens a figuras ilustres que fazem parte da história da cidade. Ao todo, são 1.265 monumentos, como bustos e estátuas, em 83 bairros. Poetas, músicos, escritores, políticos: todos têm o seu espaço reservado na memória do Rio.
Apesar do trabalho de vigilância feito pela Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos, algumas estátuas, que são patrimônio da cidade, ainda sofrem com o vandalismo. Conhecer a história dos personagens retratados nos monumentos pode ser o primeiro passo para que a população ajude a preservar cada um deles. E, assim, preservar também uma parte importante da história da cidade.
José de Alencar
Cronista, romancista, dramaturgo, ensaísta e político. O cearense José Martiniano de Alencar, que se mudou para o Rio em 1839, é considerado um dos pioneiros da literatura nacionalista. Atualmente, quem passa pelo Catete consegue ver a imagem de Alencar, esculpida por Rodolfo Bernardelli, sentado em uma cadeira. Na parte debaixo do monumento, foram embutidos medalhões reproduzindo cenas dos romances O Guarani, O Gaúcho, O Sertanejo e Iracema, de autoria de Alencar.
Dom Pedro I
Diariamente, milhares de pessoas passam pela Praça Tiradentes, no Centro, e nem percebem que está ali o primeiro monumento cívico da cidade. Inaugurada em 1862 por Dom Pedro II, a imagem retrata seu pai, príncipe regente do Brasil, em um cavalo. A obra é considerada introdutora da escultura romântica no país.
Manequinho
Esculpida pela primeira vez em 1906 por Belmiro de Almeida, a imagem representa um menino urinando em cima de uma fonte de água e é uma réplica da estátua Manneken Pis, que fica na Grand-Place de Bruxelas, a praça central da capital da Bélgica. No Brasil, a escultura foi inaugurada em 1912, na Avenida Rio Branco, e passou por vários lugares até ser realocada no final da Praia de Botafogo. Em 1957, o clube Botafogo de Futebol e Regatas passou a adotar Manequinho como mascote, depois da vitória no Campeonato Carioca. Na década de 1990, após a estátua original ser roubada, uma réplica foi doada pelo alvinegro José de Almeida Coimbra. Hoje, ela fica em frente à sede do clube, com todo o destaque.
Michael Jackson
Michael Jackson começou a cantar ainda criança, no quinteto The Jackson 5. Na década de 1980, seguiu carreira solo e conquistou o sucesso com o álbum Thriller, de 1982. No ano de 1996, Michael veio ao Brasil para gravar cenas do seu clipe They Don’t Care About Us, na comunidade Santa Marta, em Botafogo. Em 2010, uma estátua em homenagem ao artista foi inaugurada na laje onde o clipe foi gravado.
Tiradentes
Quem caminha pela Rua Primeiro de Março provavelmente já viu a figura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, líder da Inconfidência Mineira, na frente do palácio que leva seu nome. O atual prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro era a Cadeia Pública, onde ele ficou preso e foi condenado à forca. Nos dias atuais, o alferes é lembrado com uma estátua grandiosa, esculpida em bronze, com 4,5 metros de altura e um pedestal de granito.
Chiquinha Gonzaga
Compositora e maestrina, destacou-se por sua postura política e por seu talento musical. Participou ativamente da luta pelo direito autoral e também da campanha pelo fim da escravidão. Chiquinha foi umas das artistas que mais contribuíram para a música do país, tendo composto maxixes, modinhas e sambas urbanos. É dela a machinha Ó Abre Alas, de 1899, considerada a primeira canção de carnaval. A artista é homenageada com um busto no Passeio Público, no Centro.
Pixinguinha
Flautista, saxofonista, compositor, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, começou na música influenciado pelo pai, que também era instrumentista. Ao longo de sua carreira, compôs valsas, sambas, choros e polcas. O mestre do choro, como é lembrado, está imortalizado no centro do Rio, na Travessa do Ouvidor, com uma imagem em que aparece tocando saxofone.
Leonel Brizola
O gaúcho Leonel Brizola entrou na política em 1945, exercendo os cargos de deputado estadual, federal e prefeito em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Em 1962, foi eleito governador do então estado da Guanabara e, em 1982, novamente governador, agora pelo estado do Rio de Janeiro, onde implantou os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) – escolas em tempo integral para alunos do Ensino Fundamental. No ano de 2010, um busto do político foi inaugurado na Estação Cidade Nova do metrô.
Marechal Deodoro da Fonseca
O marechal alagoano Deodoro da Fonseca foi o primeiro presidente do Brasil, após proclamar a República em 15 de novembro de 1889. O militar era um defensor ferrenho da libertação dos escravos. O monumento em sua homenagem, com 23 metros de altura, fica no bairro da Glória e foi esculpido pelo artista Modestino Kanto.
Getúlio Vargas
Getúlio Vargas foi presidente do país entre 1930 e 1945 e, depois, de 1951 a 1954. Era chamado pelo povo de “pai dos pobres”, devido aos direitos sociais e trabalhistas conquistados para a população. Em 24 de agosto de 1954, suicidou-se no Palácio do Catete, diante do clima de insatisfação com seu governo por parte da imprensa, dos militares e da sociedade em geral. Existe, desde 2004, na Glória, um busto e um memorial em sua homenagem.
Carlos Drummond de Andrade
O mineiro de Itabira estudou para ser farmacêutico. Mas foi no campo das artes que se destacou, sendo cronista, jornalista e poeta. É considerado um dos principais nomes do modernismo brasileiro, por sua atuação no movimento. No Rio de Janeiro, morou em Copacabana, onde ganhou uma estátua, instalada em um banco no calçadão da praia, na altura do Posto 6.
Carmen Miranda
A cantora nasceu em Portugal, mas adotou o Rio de Janeiro como sua cidade. Carmen Miranda foi uma das primeiras artistas a cantar, atuar e dançar. Seu primeiro sucesso foi em 1930, com a canção Pra Você Gostar de Mim. Depois disso, eternizou composições de artistas como Dorival Caymmi, Ary Barroso e Pixinguinha. Era conhecida pelo jeito extravagante de se vestir e pela facilidade que tinha em transitar por diferentes áreas. Fez shows e filmes em Hollywood, tornando-se internacionalmente conhecida. Carmen é lembrada, hoje, com um busto na praça da rua que leva seu nome, na Ilha do Governador.
Dorival Caymmi
Embora tenha se mudado da Bahia, lugar em que nasceu, o estado nunca o deixou. Não é raro encontrar nas canções de Caymmi referências à sua infância, ao mar, aos pescadores e ao povo baiano. Veio para o Rio de Janeiro em 1938, onde viu sua carreira de cantor e compositor deslanchar. Adotou o bairro de Copacabana para morar, e é no Posto 6, perto da Vila dos Pescadores, que sua estátua recebe visitas de moradores e turistas.
Tom Jobim
Um dos responsáveis pela internacionalização da bossa nova, Antonio Carlos Jobim era cantor, compositor e instrumentista. A fama chegou quando fez, junto com o poeta Vinicius de Moraes, a trilha da peça teatral Orfeu da Conceição. Em 1962, compôs um dos maiores sucessos de sua carreira, a canção Garota de Ipanema, com o amigo Vinicius. Tom passou parte da vida entre o Brasil e os Estados Unidos, onde morreu. É lembrado com uma estátua perto do Arpoador, na Praia de Ipanema.
Ary Barroso
Ary Barroso era compositor, locutor de rádio e pianista. É dele Aquarela do Brasil, de 1939, uma das mais populares canções brasileiras, gravada por diferentes artistas. Devido a essa composição, Ary é considerado um dos precursores do estilo samba-exaltação – músicas com temáticas nacionalistas. Na porta do restaurante La Fiorentina, no Leme, está um monumento que retrata Ary sentado, apoiando um dos braços na mesa.
Noel Rosa
Noel tinha saúde frágil, mas nem por isso deixou de ter uma vida boêmia. Nasceu em Vila Isabel, local sempre presente em seus sambas. Por retratar temas do cotidiano em suas músicas, ficou conhecido como um cronista da vida real. Ele morreu jovem, com apenas 26 anos. Em Vila Isabel, existe uma estátua do sambista sentado junto a uma mesa, sendo servido por um garçom, fazendo referência ao seu clássico samba Conversa de Botequim.
Estácio de Sá
Estácio de Sá era um militar português. Foi o responsável por expulsar os franceses da Baía de Guanabara e fundar a então cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1° de março de 1565. Ele morreu em 20 de fevereiro de 1567, após ter sido atingido no rosto, um mês antes, por uma flecha envenenada. O monumento em sua homenagem fica no Aterro do Flamengo.
Ana Neri
A baiana foi a primeira profissional a se dedicar à enfermagem no país. Após ficar viúva, ela trabalhou como enfermeira voluntária na Guerra do Paraguai, para poder ficar perto dos três filhos, que haviam sido convocados para o conflito. Ana montou uma enfermaria com recursos próprios, em Assunção, capital daquele país, onde auxiliou doentes e feridos durante toda a guerra. De volta ao Brasil, em 1870, recebeu diversas homenagens pelo trabalho realizado. Em 2009, entrou para o Livro dos Heróis da Pátria. Ana Neri é homenageada com uma estátua na Praça da Cruz Vermelha, no Centro.
Santos-Dumont
Santos-Dumont é reconhecido mundialmente por ter sido a primeira pessoa a decolar a bordo de um avião, o 14 Bis, impulsionado por um motor aeronáutico. O equipamento construído por ele foi considerado pela comunidade científica como o primeiro mais pesado que o ar a ser capaz de voar. Na Gávea, existe uma praça e um busto do aviador, que é tido como o pai da aviação.
Cartola
Angenor de Oliveira, o Cartola, entrou no meio musical ainda menino, tocando cavaquinho em festas de rua. Aos 8 anos, mudou-se com a família do Catete para o Morro da Mangueira, onde, em 1928, fundou a G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira. Ele foi sambista, compositor, cantor e instrumentista. Na entrada da comunidade, há uma escultura dele sentado, tocando violão.
Dom Hélder Câmara
Arcebispo emérito de Recife e Olinda, durante sua vida dedicou-se às causas sociais, sempre defendendo as classes mais necessitadas. Como bispo auxiliar do Rio de Janeiro, atuou para a construção do conjunto habitacional Cruzada São Sebastião, no Leblon, que acolheu moradores removidos da Favela do Pinto. O religioso foi homenageado com uma figura sua na esquina das avenidas João Ribeiro e Dom Hélder Câmara, em Pilares. Recebeu centenas de condecorações e foi indicado, em 1972, ao Prêmio Nobel da Paz.
Dom Pedro II
Dom Pedro II foi o segundo e último imperador do Brasil. Durante seu governo, investiu na produção de café e na ampliação da rede ferroviária. No centenário de seu nascimento, em 1925, foi inaugurado, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, um monumento a ele, no local onde foi a residência da família real.
Luiz Gonzaga
Foi acompanhando o pai em bailes que o pernambucano Luiz Nascimento Gonzaga se encantou pela sanfona. Músico talentoso, compôs centenas de baiões, xotes, polcas e valsas. Uma de suas canções mais famosas é Asa Branca. O Rei do Baião, apelido dado a ele, está imortalizado em frente ao Centro de Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga, em São Cristóvão.
Imperatriz Leopoldina
Maria Leopoldina Josefa Carolina era esposa de Dom Pedro I, primeiro imperador do Brasil. Nascida na Áustria, casou-se por procuração e chegou por aqui em 1817. Em pouco tempo, se adaptou à nova terra e aos costumes locais, além de simpatizar com o projeto de libertar a colônia de Portugal. Em dezembro de 1822, tornou-se imperatriz, durante a cerimônia de coroação de seu marido. Fica na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, um monumento a ela, criado pelo escultor Edgar Duvivier. Na figura, a Imperatriz Leopoldina está acompanhada do filho Dom Pedro II e da filha Dona Maria da Glória.
Chacrinha
José Abelardo Barbosa de Medeiros foi um comunicador de rádio e de televisão entre as décadas de 1950 e 1980, tendo comandado um programa de auditório que revelou talentos como Roberto Carlos. Sua marca registrada era a irreverência, além do modo extravagante de se vestir. Em 2010, uma estátua em sua homenagem foi inaugurada na Rua General Garzon, no Jardim Botânico. Chacrinha passava sempre por ali quando ia gravar seu programa no Teatro Fênix.
Ismael Silva
Natural de Niterói, Ismael Silva chegou ao Rio com a família após a morte do pai. Morou em diversos bairros até se mudar para o Estácio, onde teve contato com os sambistas de lá e de outros locais, tornando-se ele próprio um grande compositor, violonista e cantor. Fica na frente da quadra da escola de samba Estácio de Sá, que Ismael ajudou a fundar, uma estátua do músico, inaugurada em 2010.
Zuzu Angel
A mineira foi uma estilista que valorizava, em suas roupas, a identidade e a cultura brasileiras, com o uso de rendas cearenses e estampas de chita. Na década de 1960, alcançou destaque internacional e passou a criar modelos para artistas famosos, como a atriz Joan Crawford. Em 1971, durante a ditadura militar, seu filho Stuart Angel Jones, integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, foi torturado, morto e teve o cadáver ocultado pelos órgãos de repressão. Corajosa, Zuzu não se calou e denunciou a morte do filho para veículos da imprensa e políticos internacionais. A artista é lembrada com uma figura feminina, instalada a 200 metros do túnel que leva seu nome, em São Conrado. Ela morreu em um suspeito acidente de carro na Autoestrada Lagoa-Barra.
Fonte: Gerência de Pesquisa e Documentação (GPD) da MultiRio.
* Beatriz Calado, estagiária, com supervisão de Regina Protasio.
09/07/2015
Em entrevista ao Portal, Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), fala sobre as novas sinalizações que formam os dez Circuitos do Patrimônio Cultural Carioca.
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08/06/2015
Não só os prédios fazem parte dos bens tombados na cidade. Elementos inusitados, como o calçamento e a pintura mural do Profeta Gentileza, se incluem na preservação cultural.
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12/05/2015
Dezenas de reservatórios são tombados. Marcos da engenharia desenvolvida no Rio, alguns deles se encontram subaproveitados, embora mereçam ser reinseridos no acervo afetivo da cidade.
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13/04/2015
Elas estão por toda parte, muitas há gerações, e podem ser escolhidas para tombamento tanto por seu valor botânico quanto pela relevância como marco paisagístico de uma época.
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13/01/2015
A partir de 1984, com a implantação do Corredor Cultural, se estruturou uma política municipal completa de proteção aos ambientes antigos. Até então, o tombamento se dava apenas para monumentos isolados, mas nunca sobre áreas compostas por diversos prédios, seu entorno e, sobretudo, que levasse em conta a afetividade ligada à memória local.
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06/01/2015
Nos anos 1980, o Corredor Cultural inaugurava as políticas públicas voltadas à preservação do ambiente construído. Além de proteger o centro histórico, também originou o modelo da Apac – Área de Proteção do Ambiente Cultural.
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04/11/2014
A instituição digitalizou parte de seu acervo e oferece uma programação especial para professores e alunos.
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