Amizade, coragem, determinação, excelência, igualdade, inspiração e respeito. Palavras do nosso dia a dia que ganham um significado ainda mais importante para quem pratica esportes. São os sete valores – três olímpicos e quatro paralímpicos – que norteiam as ações de todos os envolvidos, não apenas os atletas, em atividades esportivas.

Em 1894, quando o Barão Pierre de Coubertin, conhecido como o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, expôs o projeto de recriar os Jogos, desejava – além do retorno da competição esportiva – fomentar a importância das atividades físicas na maneira de educar crianças e jovens. Dessa forma, surgiu o olimpismo, uma filosofia que exalta e combina, de forma equilibrada, as qualidades do corpo e da mente a fim de promover um estilo de vida baseado no respeito a princípios éticos.

No artigo Valores para Toda a Vida, a professora Ana Miragaya, doutora em Estudos Olímpicos e mestre em Educação Física pela Universidade Gama Filho, destaca que os valores podem ser aplicados não somente aos Jogos e às competições, mas também à educação e à sociedade.

Os valores educacionais

Transforma é o programa de educação que leva os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 para as unidades escolares de todo o Brasil. Desde 2014, seus agentes criam oportunidades para que os estudantes de Ensino Fundamental e Médio entrem em contato com os Jogos, vivenciando o olimpismo e experimentando novas modalidades.

Segundo Vanderson Berbat, gerente de Educação do Comitê Rio 2016, os Valores Olímpicos e Paralímpicos precisaram passar por uma tradução pedagógica para entrar na escola. Foram elaborados, então, cinco valores educacionais: equilíbrio entre corpo, vontade e mente, alegria do esforço, busca pela excelência, jogo limpo e respeito pelos outros.

Berbat ressalta a importância da vivência de valores a fim de contribuir para a construção de atitudes que sirvam de exemplo multiplicável para inúmeros outros públicos, além dos estudantes. Comenta: “Para que os alunos vivenciem os valores, a escola deverá empreender esforços para inseri-los no seu dia a dia, ou seja, os princípios precisam ganhar corpo em algo concreto que, neste caso, são as ações do cotidiano voltadas para uma melhor convivência escolar”.

A experiência frequente com as ideias promovidas pelo olimpismo possibilita que crianças e jovens de hoje cresçam representando modelos que incentivarão positivamente incontáveis pessoas ao longo de suas vidas. “Desenvolver competências nos alunos por meio do trabalho com valores possibilita colher, dessa forma, mudanças de atitude na comunidade escolar”, afirma Berbat.

Os riscos e cuidados a serem tomados

De acordo com a psicopedagoga Maria Luiza Werneck, os Valores Olímpicos e Paralímpicos servem de apoio à formação do caráter e também como estímulo e motivação para a criança ou o adolescente enfrentar dificuldades na rotina diária, seja no esporte ou nos estudos. No entanto, a especialista alerta que familiares e professores devem estar atentos a eventuais distorções na assimilação de cada valor.

Um exemplo é a coragem, que, em excesso, pode trazer prejuízos. “Devemos alertar sobre a importância de não se ultrapassar os próprios limites. Também vale falar sobre os perigos da coragem exagerada, lembrando que os medos nos protegem.”

Sobre a inspiração, Maria Luiza enfatiza a necessidade de o ser humano ter modelos para seguir, mas sem se esquecer de que cada um possui as suas características, habilidades e dificuldades próprias. “É muito bom contar casos, dar exemplos e/ou conhecer pessoas que sirvam de inspiração. No entanto, é preciso reforçar que não somos iguais àquela pessoa. Caso pais, professores ou treinadores exijam, por meio do argumento da inspiração, uma semelhança que a criança não pode alcançar, isso pode causar nela um comportamento de ansiedade, baixa autoestima e frustração”.

Outro aspecto destacado pela psicopedagoga diz respeito à excelência. “É essencial dar o melhor de si para alcançar aquilo que se deseja, mas a cobrança deve ser em nível de superação pessoal, de melhorar a cada dia, pensando nos próprios resultados. Quando isso gera uma competitividade exagerada em relação ao outro, pode causar prejuízos de relacionamento e muito estresse.”

Como aplicar os Valores Olímpicos e Paralímpicos na escola

Educadores podem trabalhar os valores educacionais dentro e fora da sala de aula a fim de melhorar o clima escolar, aumentar a frequência discente, prevenir o bullying, valorizar a diversidade, elevar a autoestima e desenvolver a alegria do esforço. Gincanas criativas, estudos de exemplos reais de atletas e ex-atletas, debates e dramatizações são algumas atividades que podem ser realizadas com os estudantes. O gerente de Educação do Comitê Rio 2016 pontua que “após cada projeto realizado, os alunos devem ser convidados a refletir sobre o que foi conversado ou experimentado, a imaginar o que fariam nas mesmas situações e a compartilhar suas impressões. Os professores, atentos às falas dos alunos, devem ressaltar os valores à medida que aparecem”.

Berbat lembra ainda que, durante as aulas de Educação Física, os educadores têm inúmeras oportunidades para inserir o tema na vida dos jovens, já que a prática esportiva também proporciona o desenvolvimento da ética e da boa convivência. Entre as sugestões interdisciplinares pensadas pela equipe do Transforma está a participação de professores de Língua Inglesa nas aulas de Educação Física, para abordar os diversos termos em inglês que fazem parte do vocabulário característico de alguns desportos, como o match point do voleibol e o air ball do basquete.

O Rio 2016 elaborou atividades específicas que podem ser realizadas com a comunidade escolar por coordenadores pedagógicos e professores de diversas disciplinas. Além de cursos virtuais e capacitação esportiva, o Transforma disponibiliza materiais para download contendo os conceitos dos valores, símbolos e mascotes olímpicos em formato de aulas digitais, além de kits escolares com sugestões de estratégias para abordar os temas em sala. Os conteúdos podem ser encontrados na seção “Cursos” do portal educativo.

Também está disponível um documento elaborado pelo Comitê Olímpico Internacional intitulado Ensinando Valores Olímpicos – Conceitos e Atividades para a Educação Olímpica, que contém uma série de propostas com o objetivo de apresentar aos alunos o Movimento Olímpico, além de promover e incentivar a prática de esportes.

Para quem busca vídeos que enfatizem o espírito olímpico, Vanderson Barbat destaca alguns canais do YouTube, como o do Rio 2016 e os dos Comitês Olímpico e Paralímpico Brasileiros, além da playlist composta por produções do Transforma.

Fontes: Transforma, Brasil 2016, Rio 2016, Ensinando Valores Olímpicos – Conceitos e Atividades para a Educação Olímpica e Valores para Toda a Vida, de Ana Miragaya.