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Alunos do G.C. Prof. Castro Rebello pedem fim do preconceito
19 Novembro 2018 | Por Márcia Pimentel
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AP convite
O convite do espetáculo encenado por estudantes

“Ser negro não é nem nunca foi fácil em nosso país e no resto do mundo”, diz Benê Montéquio de Souza, na peça Amor e Preconceito, uma adaptação da obra Romeu e Julieta, de William Shakespeare, encenada por alunos do Ginásio Carioca Professor Castro Rebello (9ª CRE), em Campo Grande. Embora a fala da personagem seja bastante genérica, a narradora do espetáculo não deixa dúvidas sobre o lugar e o tempo da ação: “Não estamos em Verona, apenas num bairro do subúrbio carioca. Não se passa numa época de príncipes e princesas, mas num período no qual a tolerância e a generosidade parecem ter se extinguido”.

Com o desenrolar da encenação, o espectador percebe que, além da questão racial, o espetáculo, apresentado nos dias 8 e 9 de novembro, na Sala Master da escola, também aborda outros tipos de preconceito, como os de gênero e de classe social. Quem imagina que a temática da peça foi sugerida ou induzida pela professora da disciplina eletiva de Artes Cênicas, Lucília Lopes, está redondamente enganado. A demanda veio dos alunos.

“O preconceito era sempre um tópico levantado por eles. E duas meninas, oriundas da Oficina de Dança, já tinham trabalhado uma coreografia com esse tema. Eu apenas organizei as ideias trazidas e propus que adaptássemos a obra de William Shakespeare, inserindo as questões propostas”, explica.

Por que o tema?

Os estudantes explicam a razão de elegerem tal assunto: “Porque é um tema muito atual, que nos atinge todos os dias, em todos os lugares”, diz Wesley Fellypo da Silva, que interpreta Mário Curió, o melhor amigo de Romeu. “O preconceito atinge principalmente os negros”, aponta Ana Caroline dos Santos, a Benê Montéquio da história.

AP internacarro
O elenco e a professora Lucília Lopes, no centro, ao fundo. Foto Alberto Jacob Filho, 2018, MultiRio

Muito articulados, os alunos continuam explicando o rol de motivos para a definição do tema da apresentação teatral. “Sempre acham que nós (os negros) somos ladrões”, lamenta Melissa dos Santos Madureira, que desempenha o papel de Ticiane, a personagem “diferentona” que gosta de ser chamada de Ticiano, de vez em quando. “Nossa esperança é que muitos ouçam a nossa mensagem”, continua, referindo-se ao final do espetáculo, terminado com a aluna Isabel Cristina Soares cantando uma música da banda Evanescence, My Immortal, que tem versos como “O ódio sempre destrói o melhor do amor” e “O amor jamais poderá ser vencido”.

Protagonismo e empoderamento

A coordenadora pedagógica Giselle Silva Peixoto acredita que a estrutura dos Ginásios Cariocas favorece a discussão dos problemas que os alunos e a escola vivenciam no cotidiano. “Isso é propiciado pelas disciplinas eletivas oferecidas – que vão dos esportes às oficinas culturais, das ciências às aulas preparatórias para ingressar nas boas escolas do Ensino Médio”, explica.

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A coordenadora pedagógica Giselle Peixoto. Foto Alberto Jacob Filho, 2018

Na opinião dela, tal estrutura facilita a afirmação das identidades e das vocações pessoais: “Aquele menino ali – aponta para Jefferson Clay de Oliveira – está muito mais seguro de si depois que entrou na eletiva de Basquete e constatou que joga muito bem. Este ano, recebemos a visita de uma ex-aluna, a Talita de Jesus. Ela passou para Medicina na Unirio e veio aqui nos agradecer pelo muito que aprendeu conosco”.

O processo que tem auxiliado os alunos se tornarem cada vez mais protagonistas se iniciou, na visão de Giselle, em 2004, com o Mais Educação, um programa do MEC que permitia que o tempo dos alunos na escola fosse estendido, por meio da oferta de atividades extras. “Em 2013, antes de nos transformarmos em um Ginásio Carioca, com disciplinas eletivas que fazem parte da grade curricular, já oferecíamos oficinas no contraturno”, explica.

Segundo ela, os estudantes (em sua maioria negros) se sentiram valorizados com as aulas de capoeira, hip-hop... Mas para a vice-diretora Cristina de Abreu Alves, eles só se empoderaram mesmo há dois anos, quando “todo mundo começou a adotar o cabelão e a assumir sua identidade étnica”.

 
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