A Jornada de Planejamento e Formação Pedagógica 2022, que aconteceu entre os dias 2 e 4 de fevereiro, contou com lives e palestras voltadas à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental/ Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A palestra de abertura do evento foi com António Nóvoa, doutor em Educação e reitor honorário da Universidade de Lisboa. Ele iniciou sua fala afirmando a necessidade de se proteger as escolas e os professores. Segundo Nóvoa, começaram a surgir muitas ideias, ilusões e futurismos anunciando a morte da escola – vista como uma instituição inútil – e o fim dos professores, dizendo que tudo se poderia fazer com as tecnologias, com dispositivos da inteligência artificial, que podem ajudar as crianças a aprender em casa e em diversos lugares.
“Escola e professores se tornariam dispensáveis, não seriam necessários para a educação e a aprendizagem das crianças. Tudo poderia ser feito de outro modo, por outras vias, tecnológicas, a distância, em casa etc. São os discursos da moda, ditos inovadores. Uma inovação sobre a qual devemos ser muito céticos e ter muitas dúvidas”, alertou.
Na opinião do educador, todas essas tendências já existiam antes, e reforçaram-se durante a pandemia.
“O que venho dizer é ‘não’. Nada substitui os encontros humanos. Escolas e professores são insubstituíveis. Educação não é só ‘aprender coisas’. Obviamente, o conhecimento é matéria central, mas há relações humanas, afeto, sentimentos. Por isso, é preciso proteger as escolas e resistir a todas as tendências que procuram destruir o espaço da escola”, defendeu.
De acordo com Nóvoa, proteger as escolas e os professores significa ter capacidade e ousadia para transformar, tornando a escola um lugar da curiosidade, do encontro, da igualdade de oportunidade para todos, da inclusão e da diversidade.
“O modelo escolar tradicional – uma escola, uma sala de aula, um professor dando uma aula de uma hora, de uma disciplina, para uma turma de alunos –, essa espécie de uniformidade em torno da qual se construiu uma unidade escolar, já não serve para o século XXI”, criticou.
Para o educador, a transformação da escola acontece por meio da mudança da ideia de unidade para a ideia de diversidade: salas de aula com vários espaços, vários professores trabalhando juntos diferentes disciplinas, dinâmicas de projetos etc.
“Talvez, nossas escolas do século XXI sejam mais uma espécie de imensa biblioteca. Nela, há cinco alunos em um canto fazendo um projeto de pesquisa. Outros, sozinhos, trabalhando em um computador. Outros em um canto conversando com o professor sobre alguma matéria. Do outro lado, um grupo trabalhando junto”, explicou.
Nesse sentido, Nóvoa reforçou que a tarefa dos educadores é questionar como trabalhar para organizar a educação, a aprendizagem, com projetos, atividades coletivas, com produção e com criação, dentro e fora da escola.
“Não acreditem em soluções miraculosas, feitas na Europa ou na América, por grandes empresas ou quaisquer gênios que existam na internet ou em qualquer lugar. Não fiquem à espera da última moda, da última tecnologia, da última teoria pedagógica ou psicopedagógica. Não fiquem à espera que vos digam o que fazer. A resposta está em cada um de vocês. Pensem juntos. Encontrem uma maneira de refletir e de valorizar as práticas boas e importantes realizadas por muitos professores em todas as escolas. Ao pensarmos juntos, temos que construir as soluções mais adequadas, apropriadas ao nosso lugar, a nossa cidade, a nossa escola”, orientou Nóvoa.
“Que tenham sempre no coração a ideia de igualdade e de diversidade com as quais se faz a liberdade. A educação serve para promover a liberdade. Para nos dar a liberdade de sermos quem queremos ser, de podermos ser quem queremos ser.”