Por influência da mídia, os jovens de hoje já se comunicam de forma diferente, não apenas entre si, mas também com os mais velhos. Num artigo publicado no Jornal Europeu de Comunicação de Londres, em 1998, a pesquisadora Sonia Livingstone já afirmava que crianças e adolescentes estabelecem padrões mais criativos e flexíveis no uso das mídias, e, neste contato, constroem suas identidades, negociam suas relações e geram culturas de grupo e de pertencimento. Em geral, no caso dos adultos, tais imbricações são comumente construídas no universo do trabalho. Rita Migliora, autora da tese Jovens da Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro – Modos de Uso e Habilidades no Computador e na Internet, afirma que dois fenômenos contemporâneos influenciam diretamente o público jovem.
“Acredito que, hoje, pelo processo de midiatização, todos já sofremos influência da mídia; mesmo aqueles que não usam internet, tablets, smartphones de alguma forma sofrem impacto em suas vidas.” Conforme explica, a midiatização é a interconexão entre as mudanças tecnológicas da mídia, as mudanças na comunicação e as mudanças socioculturais. É um processo macro e microestrutural, que está relacionado com a cultura, com a globalização e com a individualização. “Um exemplo é que a comunicação face a face assume um novo valor cultural na sociedade, pois a interação não mediada tende a ser reservada para determinados fins e assume um significado cultural especial.” Mesmo as formas de interação mediada tendem a simular aspectos da interação face a face. Assim, elas representam não só uma alternativa para as interações presenciais, como também extensões da arena em que elas podem ter lugar. “Acho que todos nós nos comunicamos de forma diferente por influência da mídia e, talvez, os jovens assimilem essas transformações de forma mais intensa, por exemplo, com o domínio do internetês.”
Já a mundialização, segundo Rita, é um conceito proposto por Renato Ortiz com o objetivo de compreender os processos culturais em curso. Assim, ao estudar a indústria cultural – publicidade, cinema, games, televisão... –, o autor propõe a ideia de um gosto internacional-popular, recorrente na noção de hibridismo de Jesús Martín-Barbero e Néstor Canclini. Sendo assim, além das tradições locais e nacionais, existe um novo espaço que é o que Ortiz define como “modernidade-mundo”, no qual são construídos conjuntos de símbolos, signos, memórias e identidades que são transnacionais. “Esse processo de mundialização, em conjunto com a midiatização, ajuda a compreender as semelhanças existentes entre a forma como os jovens de hoje lidam e se apropriam das novas tecnologias. Mas cabe ressaltar que não são processos que afetam os jovens da mesma forma e intensidade. Neste sentido, a internet e a televisão têm um papel fundamental na formação do gosto internacional.”