Sensibilização/Contextualização para o tema
Considerando os desafios enfrentados pela EJA no período da pandemia de Covid-19, onde houve um esvaziamento nas turmas do PEJA II da escola, surgiu um diálogo entre a professora e estudantes na aula de História e Geografia. A conversa foi sobre a conscientização da EJA como direito e as dificuldades enfrentadas por essas pessoas que não tiveram acesso à escola.
Problematização
Dessa conversa surgiram algumas indagações como: “Por que a escola está tão vazia?”
“Será que as pessoas sabiam que existia uma escola que oferecia EJA na região de Pilares?”; “O que podemos fazer para divulgar a escola?”;“Quais problemas elas passam para não chegarem ao PEJA?”
Então, decidimos estudar as estatísticas sobre alfabetização e número de pessoas que não concluíram a Educação Básica no Rio de Janeiro. Articulamos essas leituras, juntamente com outras leituras sobre as dificuldades que a EJA vinha passando simultaneamente com as aulas de Língua Portuguesa.
Texto base
No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2019, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 6,6%, o que corresponde a 11 milhões de pessoas analfabetas. A existência de pessoas que não sabem ler ou escrever por falta de condições de acesso ao processo de escolarização deve ser motivo de autocrítica constante e severa (CNE/CEB 11/2000). Segundo Nicodemos e Serra(2020), no artigo intitulado “EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM CONTEXTO PANDÊMICO: entre o remoto e a invisibilidade nas políticas curriculares”, ficou evidenciado que os impactos socioeconômicos da pandemia afetaram diretamente a classe trabalhadora, que é público da EJA. Os sujeitos da EJA não tiveram acesso ao ensino remoto emergencial de forma efetiva. Essas pessoas passaram e passam por inúmeras dificuldades relacionadas à pandemia, às consequências econômicas e outras já existentes na sociedade, prejudicando a sua escolarização.
Desenvolvimento
Ainda segundo a PNAD (2020), 23% das pessoas sem Educação Básica completa não procuraram trabalho por conta da pandemia ou por falta de vagas na localidade onde vivem. Portanto, Nicodemos e Serra(2020) avaliam que os sujeitos da EJA se encontravam/encontram nesta situação de vulnerabilidade social, sendo afetados pelo desemprego e/ou procura de “bicos” para tentar sobreviver.Isso aconteceu, inclusive, com as pessoas mais jovens, ainda que corressem o risco de serem contaminadas pelo coronavírus. Segundo Arroyo(2007), a EJA foi marcada por vários traços de um contexto educacional popular que busca uma política afirmativa para jovens e adultos, muitas vezes segregados e estigmatizados, sem horizontes. Grande parte desses sujeitos da EJA vive em condições de pobreza, subemprego e vulnerabilidade.O autor nos orienta em relação aos significados pedagógico-políticos das lutas por direitos humanos, sendo a EJA incorporada nesse cenário.Diante da necessidade de trabalhar em uma perspectiva crítica a partir da realidade social dos(as) nossos(as) estudantes do PEJA II, planejamos atividades pedagógicas articulando os conhecimentos das disciplinas de Língua Portuguesa, História e Geografia, com participação das turmas.Arroyo(2007) afirma que adolescentes, jovens, adultos e idosos mostram ter consciência e resistência das segregações que vivem em relação aos direitos negados.Nossa proposta foi possibilitar a troca de conhecimentos em relação à negação da escolarização, pensando em ações teóricas e práticas que dialogassem com a situação do PEJA II.Considerando as Orientações curriculares EJA(2021) de História e Geografia, que preconizam a valorização e a defesa da justiça social e o fortalecimento da Democracia, discutimos a EJA como direito e concluímos que diversos fatores contribuem para que o direito à escolarização das pessoas não seja garantido.Debatemos como as dificuldades de acesso à educação da classe trabalhadora está relacionada à estrutura do sistema capitalista e a partir desse ponto refletimos sobre como poderíamos contribuir para garantir que as pessoas tivessem acesso àquele espaço escolar.Daí surgiu a ideia de panfletarmos no entorno da escola, para que a comunidade local soubesse que a EM Alagoas oferecia PEJA. Através dessa ação os(as) estudantes se colocaram como sujeitos críticos capazes de intervir na realidade social promovendo uma mudança local.Durante as aulas de Língua Portuguesa, desenvolvemos práticas de leitura sobre os dados da PNAD que suscitou diversos debates sobre a situação das pessoas que não tiveram acesso à EJA. Lemos esse gênero textual, reconhecendo sua diversidade linguística. Também lemos charges sobre a condição da classe trabalhadora e analisamos os textos. Estudantes das turmas escreveram suas análises.De acordo com as Orientações Curriculares EJA(2021) é importante que a EJA reconheça e compreenda as diversidades linguísticas, os conhecimentos semânticos, gramaticais e discursivos, construindo sentidos para a formação da consciência cidadã.Construímos um pensamento no contexto social, se reconhecendo como seres humanos importantes e conscientes. As relações linguísticas têm reflexo com as relações sociais, históricas, políticas e culturais.Elaboramos a escrita coletiva de panfletos, para serem distribuídos na ação de prática social.
Produto Final
Panfletos elaborados pelas turmas do PEJA II e a mobilização.
Os panfletos foram elaborados pelos(as) estudantes, que escreveram, escolheram as imagens, desenharam e organizaram o seu formato.
A mobilização relaciona-se à panfletagem feita no entorno da escola (Largo de Pilares), com participação de estudantes do PEJA I. Estudantes e professoras distribuíram os panfletos pelas ruas, nos sinais de trânsito, comércio local e para as pessoas que passavam pelas ruas, sempre dialogando.