PATRICIA BRITO CAMPOS BRAGA
Me chamo Patrícia Braga, sou criativa, aventureira, estudiosa e assim como Pedro ll, amante das artes e das ciências. Como sou apaixonada pelo corpo humano em sua pluralidade e inteireza a Educação Física me arrebatou com sua tamanha possibilidade de atuação. E foi assim que em 1993 me formei em Educadora Física pela Universidade Gama Filho, onde logo em seguida, na mesma instituição concluí a Pós-graduação em Formação de Docentes para o ensino Superior.
Trabalho com fitness para crianças e adultos na rede privada desde então. Em 2003 ingressei na Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro através de concurso público, como professora de Educação Física Escolar. Onde, em 2012, tive a oportunidade de fazer dupla regência na Sala de Leitura e nunca mais saí.
Ao longo dos anos desenvolvi uma abordagem pedagógica onde levo a Corporeidade para várias áreas do conhecimento, reconhecendo a literatura como linguagem desencadeadora e fomentadora de uma perspectiva multimodal da educação.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: Professora de Educação Física P1 / Leitura nas Infâncias / Roda de Leitura
Compreender o corpo em sua totalidade através das múltiplas experiências de leitura e escrita de mundo na educação infantil, permite uma educação por meio do alargamento dos sentidos, tornando-se um elo poderoso entre as crianças e suas culturas. Ressignificar o corpo em uma perspectiva merleau-pontyana corrobora a abordagem multimodal, trazendo para o chão da escola vivências e experiências onde as multilinguagens artísticas garantem às crianças o repertório para conhecer e transformar as culturas, sejam apresentadas por nós, como vemos nessa prática, no qual o letramento científico acontece por meio do corpo dançante, desdobrando-se em arte plástica, tornando-se expressão e linguagem.
E é assim que o nosso percurso começa, ao contarmos a história da antropóloga Berta Ribeiro e sua importância para com os povos originários brasileiros através de uma linguagem não verbal (dança e instalação artística-4MML 2024), tendo como base a tese de doutorado da historiadora Bianca França.
Nosso percurso começou em abril com a imersão dos Povos Originários Brasileiros, ampliando as experiências culturais das crianças, socializando seus conhecimentos e saberes, oportunizando outros e favorecendo as expressões das crianças em todas as formas, valorizando as diferentes linguagens. Por isso, nossa perspectiva imersiva manteve um olhar plural, onde as experiências e as vivências partem da literatura indígena, que apesar de estar cada vez mais presente, ainda existem poucos saberes sobre a diversidade pluriétnica que compões a sociedade brasileira. Promover o contato com os saberes indígenas é oportunizar as crianças desde os primeiros anos escolares à escuta das múltiplas vozes dos nossos ancestrais.
Esse ato pedagógico dotado de intencionalidade visa romper com visões estereotipadas que ainda se fazem presentes.
1. Imersão dos Povos Originários Brasileiros: Mediação de leitura em sala de leitura flutuante (em cima de vitórias-régias), ambiente estético intencional (contos em volta de uma fogueira), degustação de alimentos de origem indígena, texturas de elementos da natureza, brincadeira com sombra e luz utilizando elementos e folhas, brincadeiras indígenas, musicalização e confecção de pau de chuva a partir de sucata.
As crianças criaram a sua própria narrativa gráfica onde se inspiraram em grafismos da pluriétnica indígena. Abordagem artística com tintas orgânicas. Experiência com urucum.
2. Construção de narrativas, histórias, a partir das vivências, utilizando materiais da natureza como fio condutor (História da Cobra Colorida Brasileira).
3. Desde então, a mediação de leitura voltou-se para títulos da literatura infantil de matriz dos povos originários. Em 2 meses foram lidas aproximadamente 15 títulos. As crianças imersas a esse tema começaram seu encantamento pelo tatu, onça e a cultura dos povos originários.
4. Em Junho, data da chegada da tese de doutorado da historiadora Bianca França, abordando a importância de Berta Ribeiro para com os povos originários Brasileiros. E a partir do documentário "Para Berta, com Amor", as crianças foram se apaixonando pela história de Berta, bem como o despertar para os saberes acadêmicos ao reconhecerem em Bianca França a "moça bonita que conta a história da Berta".
5. 4 MML 2024, Tema: Brasil e seus Brasis/ Mostra de dança: coreografia: Quase Todo o Brasil Cabe Nessa Foto. Todos os saberes construídos ao longo desse percurso, tornou uma base para que as crianças pudessem contar com o corpo, a história da importância de Berta Ribeiro através da dança. E a demarcação territorial abordada na mediação da história "Tulu, uma aventura na Floresta", ressurge quando as crianças constroem uma história onde Berta defende as terras indígenas das queimadas. A onça retorna como animal mitológico indígena, protetora da aldeia.
6. 4 MML 2024, Lentes do Olhar. A instalação artística das crianças recebe o mesmo nome da coreografia, pois as tais usam os saberes construídos sob o olhar das artes plásticas.
Uma história narrada pelo corpo, arte e ciência (artigo nono da DC-NEI, 2009), afirma que a natureza da língua é essencialmente dialógica, incluindo também fatores não verbais presentes no cotidiano da comunicação (BAKHTIN, 2003). Desta forma, torna-se indissociável a cultura antirracista no cotidiano escolar, dialogando intrinsicamente com o PPP da escola. Reverberando além dos muros da escola, o protagonismo infantil assume seu território nas ciências e nas artes, reconhecendo nessas linguagens uma genuína escrita de mundo. Ou seja, ler e escrever repleto de significado.
Após todo esse processo, as crianças despertaram interesse em serem pesquisadoras, cientistas, museólogos, etnólogos, como Berta Ribeiro e Bianca França, construindo saberes contra o apagamento histórico em que os povos indígenas originários brasileiros sofreram, refletindo sobre demarcação territorial, como direito dos mesmos. Desenvolvendo o sentimento de pertencimento à quem sempre foi o dono dessa terra.
FRANÇA, Bianca Luiza Freire de Castro. "Uma Civilização Vegetal: a contribuição de Berta G. para a Antropologia brasileira no século XX. Tese de doutorado. Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em História, Política e Bens Culturais da FGV. 2023
FRANÇA, Bianca Luiza Freire de Castro & GONÇALVES, Ollivia Maria. "Para Berta, com amor". Documentário. 2023. Disponível em: https://youtu.be/AQnRPRKZXog?feature=shared. Acesso em: 8 de outubro de 2024
BAKHTN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,2003
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasíli: MEC, 2017. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.Brasília: MEC, 2010
REYES,Yolanda. Ler e brincar, tecer e cantar _ Literatura,escrita e educação.1.ed. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2015
Caminha,l.O. de. (2019). 10 lições sobre Merleau-Ponty. Rj: Vozes